Desativação da Barreto Campelo e o futuro incerto de Itamaracá
A retirada do presídio, que abrigava 472 detentos em regime fechado, atendeu a uma antiga demanda da população e turistas do Litoral Norte
A histórica desativação da Penitenciária Professor Barreto Campelo, localizada na Ilha de Itamaracá, ocorreu na terça-feira (1º), marcando o fim de mais de cinco décadas de funcionamento. A medida, implementada pelo governo do estado por meio da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco (SEAP), levanta questionamentos sobre o futuro da região, afetando diretamente moradores, veranistas e a infraestrutura local.
A retirada do presídio, que abrigava 472 detentos em regime fechado, atendeu a uma antiga demanda da população e turistas do Litoral Norte. No entanto, para além do alívio imediato que a medida pode gerar, persistem incertezas sobre os próximos passos do governo para a área desativada e o impacto na segurança da ilha.
A presença da penitenciária por muitos anos foi motivo de preocupação para os moradores e turistas da ilha, devido a episódios de fugas e rebeliões. Entretanto, a estrutura também garantia uma constante presença policial na região, fator que agora se torna uma incógnita. Para a produtora audiovisual e ex-deputada estadual Carol Vergolino, que frequenta Itamaracá desde os anos 1980, a desativação do presídio não representa, necessariamente, um avanço imediato.
"A gente sempre ouviu falar que o presídio sairia, mas nunca houve confirmação. Agora, a sensação é de surpresa e dúvida. Se por um lado há um alívio, por outro há preocupação sobre o que será feito da área e como ficará a segurança", pondera Carol.
Já o ambientalista Ruan Fernandes, fundador da ONG Itamaracá Preservada, vê a mudança com otimismo. "Essa desativação representa uma grande conquista para o município. Ela pode tornar Itamaracá um ambiente mais propício para o turismo, trazendo investimentos e melhorando a arrecadação municipal", analisa.
A retirada do presídio também pode enfraquecer o tráfico de drogas na região, já que, segundo especialistas, a unidade funcionava como um centro de operações para organizações criminosas. No entanto, a ausência de um planejamento claro sobre o reforço da segurança pública gera apreensão entre os moradores.
Itamaracá enfrenta desafios estruturais que vão além da penitenciária. Com problemas recorrentes no saneamento, manejo de lixo, conservação de vias e avanço do mar, a retirada do presídio expõe ainda mais a necessidade de investimentos.
"A estrada principal da ilha está sendo recapeada desde antes do Carnaval e ainda não foi concluída. A coleta de lixo é falha, e o avanço do mar afeta pontos turísticos importantes, como a Praia do Sossego e o Forte Orange. O que esperamos agora é um olhar mais atento do governo", destaca Carol Vergolino.
Outra preocupação é com o destino da área onde a penitenciária estava localizada. A governadora Raquel Lyra mencionou a intenção de demolir o presídio, mas não especificou o que será feito do espaço. Para moradores e ambientalistas, é fundamental que qualquer projeto respeite a Área de Proteção Ambiental (APA) onde a penitenciária estava inserida. “O mundo enfrenta a emergência climática. Precisamos preservar as nossas florestas. Então penso, se a Escola de Sargentos fosse instalada no espaço da Barreto Campelo, o Estado não precisaria desmatar área da APA de Beberibe e, certamente, traria mais segurança para Ilha de Itamaracá.” diz Ana Elizabeth Bezerra, cozinheira e moradora de Itamaracá.
Com a retirada da penitenciária, cresce a expectativa de que Itamaracá volte a atrair veranistas e investimentos. "Itamaracá tem um potencial incrível e precisa ser promovida como destino turístico. Agora é o momento de estruturar roteiros, incentivar o turismo sustentável e resolver problemas básicos que afastam os visitantes", afirma Ruan Fernandes.
O impacto positivo no turismo pode se refletir diretamente na economia local, beneficiando comerciantes, pousadas e prestadores de serviço. "Precisamos que o Estado olhe para a ilha não apenas como um local de remoção de problemas, mas como um polo turístico e econômico a ser fortalecido", completa Ruan.
Apesar do otimismo com o futuro da ilha, o cenário ainda é de incerteza. O governo do estado não apresentou um plano concreto para a ocupação do espaço deixado pela penitenciária, tampouco anunciou medidas efetivas para reforçar a segurança ou resolver os problemas estruturais da ilha.
Por: Larissa Aguiar
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