Com recursos desiguais, Recife só elegeu uma de 93 candidatas negras para a Câmara Municipal
Jô Cavalcanti (Psol) foi a única mulher negra eleita para a Câmara no Recife (Alepe/Divulgação)
Dados da campanha 'Cadê o Dinheiro da Candidata Negra?' revelam que homens chegaram a receber até 80% do Fundo Especial (FE)
As eleições municipais deste ano foram as primeiras realizadas após a aprovação da Lei 14.192/21, que combate a violência política contra as mulheres. Apesar desta e de outras garantias constitucionais, como a cota de gênero, candidatas ainda relatam dificuldade para fazer campanha - especialmente pela disparidade na distribuição de recursos financeiros.
No Recife, foram 149
candidaturas de mulheres à Câmara Municipal. Destas, 93 se identificam
como pretas ou pardas. Apenas uma, no entanto, foi eleita na capital
pernambucana: Jô Cavalcanti (PSOL), com 7,5 mil votos.
Dados
da campanha "Cadê o Dinheiro da Candidata Negra?", promovida pelo
Observatório Feminista do Nordeste, revelaram que candidaturas
masculinas chegaram a receber até 80% dos recursos do Fundo Especial
(FE) de seus respectivos partidos nas cidades do Recife, Salvador (BA) e
São Luís (MA).
A pesquisa analisou
informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), questionou os
partidos sobre os critérios para a distribuição de verbas e entrevistou
candidatas nas três cidades.
Para
a co-fundadora do Observatório Feminista do Nordeste e coordenadora da
pesquisa, Marília Gomes, a sistemática privação dos recursos do Fundo
Eleitoral às candidatas pode ser caracterizada como "violência política
econômica" e é capaz de inviabilizar a execução de uma campanha.
“Esse cenário representa uma violência econômica
explícita contra essas mulheres. A falta de recursos financeiros impede
que elas tenham as mesmas oportunidades que outros candidatos,
perpetuando um sistema político excludente. Onde está o compromisso com a
democracia?”, afirmou.
A
legislação considera "violência política" todo ato com a finalidade de
impedir ou restringir os direitos políticos das mulheres. Para uma
candidata, receber apenas uma pequena parcela da verba disponibilizada
ao partido durante o período eleitoral pode custar sua eleição.
Prioridades e anistia
Apesar
de a legislação estabelecer que 30% dos recursos sejam destinados às
candidaturas de mulheres e pessoas negras, a pesquisa "Cadê o Dinheiro
da Candidata Negra?" apontou que mesmo legendas do campo progressista
criam parâmetros internos para determinar suas candidaturas prioritárias
- ou seja, que receberão mais recursos.
Entre as prioridades, estão vereadores na busca pela reeleição e outros que conquistaram votos expressivos no pleito anterior.
Na
pesquisa, as entrevistas com candidatas das três cidades também
revelaram uma insatisfação com a aprovação da chamada “PEC da Anistia”
(9/2023).
A fontes foram ouvidas em
condição de anonimato. Segundo afirmam, a emenda isentaria os partidos
responsabilização por não cumprirem as regras da distribuição da verba
eleitoral.
Por: Guilherme Anjos
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