Quem apoia quem: padrinhos famosos somem da Eleição do Recife
Juntos em um evento pela cidade, no período de campanha, os candidatos e seus padrinhos não foram vistos
Faltam seis dias para as Eleições Municipais de 2024, e o retrato
da campanha dos candidatos a prefeito do Recife foi a ausência de
padrinhos políticos. Os eleitores não viram João Campos (PSB) ao lado de
Lula (PT), mal viram Raquel Lyra (PSDB) com Daniel Coelho (PSD) e,
embora Jair Bolsonaro (PL) tenha aparecido nos guias eleitorais de
Gilson Machado (PL) na televisão, não estiveram juntos em um evento pela
cidade no período de campanha.
Para a cientista
política Priscila Lapa, a ausência dos padrinhos se deve ao fato de que
esta é uma eleição em que um dos candidatos possui uma alta taxa de
aprovação. "No Recife, João construiu antecipadamente uma candidatura
muito competitiva, não só do ponto de vista da comunicação política com
os eleitores, mas também em relação ao apoio dos partidos. Talvez isso
tenha esfriado um pouco a competição, a ponto de se questionar: qual
diferença faria Bolsonaro ser usado nas peças de campanha? Em uma
corrida tão desequilibrada, qual seria o impacto da vinda do
ex-presidente?", pondera.
O cientista político
José Nivaldo também destaca que, em eleições municipais, os padrinhos
não têm o mesmo peso decisivo que nas eleições federais, onde se elegem
governadores, deputados, senadores e o presidente.
"Não
dá para comparar uma eleição federal com uma municipal. Nas eleições
federais, as referências são não só importantes, mas necessárias para
que os eleitores formem suas opiniões. Por isso, a presença dos
padrinhos é essencial, pois fortalece a visão política do candidato",
explica Nivaldo.
Essa diferença ocorre porque,
nas eleições municipais, os temas são mais locais do que as pautas de
caráter nacional. "Por mais que exista essa influência macro do cenário
nacional, por questões partidárias, o que predomina na escolha do
eleitor é a avaliação da administração local. Não é à toa que as
pesquisas de opinião sempre trazem esse dado: até que ponto o gestor é
bem ou mal avaliado? As pessoas costumam votar em quem fez uma boa
gestão, acreditando que mereça uma continuidade", complementa Priscila
Lap
Com
isso, “as pesquisas de opinião mostram que a força dos padrinhos em uma
eleição municipal é limitada. Eles dificilmente têm um efeito decisivo,
exceto quando o prefeito está indicando seu sucessor, caso em que se
tornam padrinhos fortes", aponta o cientista político José Nivaldo.
Um
exemplo disso foi a campanha de Gilson Machado em 2022. Na época, o
candidato estava, de fato, ao lado de Jair Bolsonaro e disputava uma
vaga no Senado Federal, cargo mais diretamente vinculado ao que o
ex-presidente buscava. Gilson terminou o pleito com 323.769 votos na
capital pernambucana, pouco mais de 38 mil votos atrás da senadora
eleita Teresa Leitão (PT).
Já
em 2024, sem um apoio intenso de Bolsonaro, por ser uma eleição de
caráter municipal e não nacional, as pesquisas de intenção de voto
apontam Gilson com 9%.
Padrinhos no Recife
Antes
do dia 16 de agosto, data oficial do início das campanhas políticas,
Gilson Machado (PL) recebeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no
Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes - Gilberto Freyre. Naquele
fim de semana, o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE)
alertou o candidato sobre a possibilidade de ser multado, caso
realizasse campanha fora do período permitido.
Por
conta disso, Gilson não participou da carreata no mesmo carro que
Bolsonaro e não se pronunciou no Clube Português, onde houve uma série
de discursos sobre a política pernambucana. Desde então, Bolsonaro não
voltou ao Estado, mas aparece nos guias eleitorais na TV e no rádio,
afirmando que Gilson é seu candidato na capital.
Daniel
Coelho (PSD) é o candidato apoiado por Raquel Lyra (PSDB) na capital.
Entretanto, a governadora não aparece nas peças publicitárias de Coelho e
foi vista apenas três vezes com o candidato. A primeira aparição
ocorreu durante a convenção partidária, na qual declarou: "Não dá para
fingir que a situação do Recife está bem. Recife pode prosperar, ser a
melhor capital do Brasil. Por isso, estou aqui na convenção para
homologar a candidatura de Daniel, para que ele empreste sua energia e
capacidade de trabalho para transformar a cidade”. Priscila Krause,
vice-governadora, participou de caminhadas e carreatas com Coelho.
“Essa
falta de crescimento de Daniel nas pesquisas já era esperada. A aposta
de Daniel Coelho à prefeitura do Recife, creio eu, foi mais no sentido
de demarcar território, para que não se diga que 'não é possível que a
governadora não tenha um candidato na capital apoiado por ela'. Isso
seria um vazio político muito simbólico”, analisa a cientista política
Priscila Lapa.
Raquel Lyra tem concentrado seus
esforços no Agreste do Estado, especialmente em Caruaru, onde o atual
prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB), vice-prefeito durante sua gestão no
município, é candidato e enfrenta uma disputa acirrada com Zé Queiroz
(PDT), apoiado por João Campos.
Priscila avalia
que Raquel Lyra “não pode se dar ao luxo de, já sabendo que não tem um
candidato competitivo na capital, sofrer uma derrota no seu principal
reduto. Isso complicaria sua reeleição, não só pelos números — afinal,
Caruaru tem muitos eleitores —, mas também pela derrota simbólica”.
João Campos virou um padrinho?
João
Campos, candidato à reeleição à prefeitura da capital, tem uma larga
vantagem. Na última pesquisa DataFolha, o prefeito lidera com 76% das
intenções de voto. Durante a campanha, João pouco usou a imagem de Lula e
raramente citou o nome do presidente.
No
entanto, Campos recebeu o ministro das Relações Institucionais,
Alexandre Padilha (PT), a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações,
Luciana Santos (PCdoB), o ministro do Turismo, Celso Sabino (União
Brasil), e o senador Humberto Costa (PT) em atos de apoio.
Desde
o início da campanha, João Campos também esteve em várias cidades de
Pernambuco, como Paulista, Petrolina, Cabo de Santo Agostinho, Caruaru,
Jaboatão dos Guararapes, Surubim e Afogados da Ingazeira, apoiando
candidatos a prefeito.
A cientista política Priscila Lapa acredita que João já possui “cacife suficiente para se creditar como um padrinho político”.
“Consolidando
sua vitória no primeiro turno, João Campos se tornará um padrinho
fundamental nas disputas de segundo turno em cidades importantes, como
Olinda, Paulista, Caruaru e Jaboatão. Pode ser que o apoio de João seja
até mais decisivo que o do próprio Lula, especialmente em candidaturas
do PT”, avalia.
José Nivaldo, no entanto,
discorda. “João Campos é uma referência, sim, mas sua presença nos
palanques não é decisiva em eleições no interior. Nas decisões locais,
os fatores locais têm maior peso”, conclui.
Por: Mareu Araújo
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