Gianetti Sena comemora prata do filho Caio Bonfim, que teve pernas arqueadas na infância
(Foto: Reprodução/ Wagner Carmo)
Mãe e técnica do primeiro medalhista olímpico do Brasil na marcha atleta ressume vibração por conquista do filho na França
O brasiliense Caio Bonfim entrou para a história da marcha atlética
brasileira, nesta quinta-feira (1°/8), ao conquistar uma inédita medalha
de prata para o país na competição masculina de 20 km dos Jogos
Olímpicos de Paris-2024. O feito, construído aos pés da Torre Eiffel, é
digno de orgulhar e emocionar os compatriotas, mas ninguém tem tantos
motivos para vibrar quanto Gianetti Sena, mãe e treinadora do marchador.
Ao Correio Braziliense, ela descreveu os momentos de tensão até o ápice da alegria durante a conquista do filho.
O marchador teve meningite com apenas sete meses de idade e teve
duas pneumonias graves. Em sua primeira infância, não ingeriu derivados
de leite devido a uma intolerância à lactose e os ossos fragilizaram.
Sem a suplementação adequada de cálcio, as pernas ficaram arqueadas,
tortas.
Gianetti acompanhou de perto as exatas
1h19m09s das passadas ritmadas de Caio no circuito do Trocadéro, mas
quase a ansiedade causada pela prova interferiu no momento. A mãe do
marchador conta ter passado mal antes de o filho escrever o primeiro
capítulo de prata da história na modalidade pela qual ela tanto batalhou
como atleta e treinadora. Com pressão baixa, precisou, inclusive, ser
atendida por médicos da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Tudo fruto da ansiedade. "Agora, eu estou medicada", brincou, na
entrevista após a conquista.
O
sentimento depois de Caio passar pela linha de chegada virou euforia.
"Muita alegria e felicidade. Conseguimos fazer o que tínhamos treinado.
Desde Tóquio-2020, sabíamos que era possível", resume. O brasiliense
batalhou pela conquista por quatro Olimpíadas. Antes da França do Japão,
competiu em Londres-2012 e Rio-2016. Na disputa rumo à prata em
Paris-2024, Bonfim fez uma prova inteligente, na qual dosou o ritmo e
controlou a interferência das punições recebidas pela arbitragem.
"Muitas vezes, a interpretação é injusta. Inclusive, hoje", esbravejou
contra os juízes. "A prata do Caio e o ouro do equatoriano (Brian Daniel
Pintado) é para falar: respeitem a América do Sul."
AGRADECIMENTO
Com
a missão cumprida, Gianetti fez questão de lembrar e agradecer a quem
fez parte da caminhada prateada de Caio. Sem exceções, a mãe e
treinadora do marchador ressaltou o apoio de especialistas das comissões
médicas e técnicas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e citou o papel
vital de cada um durante o "trabalho de excelência". "Dentro do que eles
estabeleceram, o Caio estava perfeito. Falaram isso durante a prova. A
gente conseguiu fazer com que as coisas ruins do meio do caminho não
atrapalhassem para chegar e conseguir essa medalha inédita para o
Brasil", vibrou.
Atleta
campeã brasileira oito vezes, Gianetti testemunhou e participou
ativamente de toda a batalha para construir, durante as últimas décadas,
o potencial olímpico da marcha atlética nacional consolidado com a
prata em Paris-2024. Até por isso, ela garante: apesar da luta, a
consolidação do legado está apenas no começo. "Ainda não temos tanta
tradição no esporte. A marcha é pouco praticada para o nível que ela
está e queremos colocar o Brasil nesse cenário. Queremos ser
respeitados", detalhou.
Apesar de moldar novos
planos para a modalidade, Gianetti quer aproveitar o momento para curtir
o feito do filho em Paris-2024 através de duas vertentes: a de técnica
orgulhosa pelo profissional moldado com muito cuidado e a de mãe coruja
realizada por vê-lo chegar tão longe. "Além de treinadora, sou mãe. E o
que uma mãe quer? Que o filho alcance sucesso, vida longa e êxito nas
escolhas. Vejo meus amigos falando que não querem que os filhos sigam
suas profissões. Eu me sinto honrada e privilegiada. Se ele escolheu
marchar, é porque deixei um bom legado", celebra.
Correio Braziliense
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