Mais de 70 trabalhadores em situação análoga à escravidão são resgatados no Litoral Sul
Trabalhadores foram resgatados nos dias 19 e 20 deste mês (Divulgação/MPT-PE)
Eles prestavam serviços para construtoras que executam construção de resorts e condomínios de luxo em praias da região
Setenta e três pessoas em situação análoga à escravidão foram
resgatadas no Litoral Sul de Pernambuco, nos dias 19 e 20 de agosto.
Os
trabalhadores, que prestavam serviço a empresas do setor de construção
civil, estavam em alojamentos insalubres e superlotados. Além disso, há
queixas de transporte irregular para os locais das obras e ausência de
registro de trabalho.
Participaram da força-tarefa
de resgate procuradoras do Ministério Público do Trabalho (MPT) em
Pernambuco, auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho
em Pernambuco (SRTb/PE) e agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Construção de resorts e condomínios de luxo
Os
trabalhadores prestavam serviços para construtoras que executam
construção de resorts e condomínios de luxo em praias da região.
“Esses
trabalhadores eram arregimentados em suas cidades natais e levados para
esses alojamentos. Eles vinham de vários municípios do Estado, como
Palmares e Caruaru”, explicou a procuradora-chefe do MPT em Pernambuco,
Ana Carolina Lima Vieira.
“Carandiru”
Com
promessa de trabalho, os trabalhadores precisavam arcar com os custos
dos alojamentos - um deles chamado de “Carandiru” -, além da aquisição
de utensílios básicos, como geladeira, fogão, cama e ventilador, segundo
o MPT-PE. A fiscalização também identificou riscos na parte estrutural e
elétrica dos alojamentos.
“Os trabalhadores
resgatados relataram que recebiam cerca de R$ 80 para os custos com a
moradia e alimentação. Para conseguir se manter, eles se reuniam em
grupos de 12 a 16 pessoas que dividiam um apartamento com uma sala
pequena, três quartos, cozinha e dois banheiros. Havia pessoas que
dormiam na cozinha e na sala. Eles mesmos construíam as camas que
dormiam com madeiras descartadas das obras”, relatou a procuradora
Jailda Pinto.
Os
relatos dos resgatados indicam que eles não tinham registro na Carteira
de Trabalho e Previdência Social (CTPS) ou qualquer tipo de contrato de
trabalho.
“Como a jornada de trabalho era de 7h
às 17h, as empresas forneciam, apenas, o café da manhã e o almoço nos
locais das construções. O jantar não era ofertado aos trabalhadores, que
muitas vezes faziam refeições inadequadas e sem valor nutricional, além
de também precisar custeá-las”, destacou a procuradora Gabriela Maciel.
Quanto
ao transporte dos trabalhadores dos alojamentos para as obras, os
relatos são de que eles eram transportados em caminhões caçamba, sem
qualquer segurança.
Termo de Ajuste de Conduta
O
MPT em Pernambuco, junto à Justiça do Trabalho, tem realizado
audiências com o intuito de firmar Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com
as empresas envolvidas no caso. O TAC prevê a regularização da situação
dos trabalhadores, o pagamento de dano moral individual aos
trabalhadores resgatados, além de dano moral coletivo e obrigações de
não fazer dos empregadores.
De acordo com o
MPT-PE, os trabalhadores receberam três parcelas do Seguro-Desemprego do
Trabalhador Resgatado. O Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS) de Ipojuca prestaram assistência ao grupo.
Por: Amanda Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário