200 anos do movimento terá diversas comemorações no estado
Considerado uma espécie de continuação da Revolução de 1817, a
Confederação do Equador se destacou como um dos principais movimentos de
contestação ao reinado do imperador D. Pedro I (Foto: Shilton
Araujo/Arquivo DP)
Atividades se iniciam nesta terça-feira, 2 de julho, quando o movimento libertário completa 200 anos com programação especial que se estende por um ano
A Confederação do Equador completa 200 anos nesta terça-feira (2), para celebrar o movimento revolucionário que marcou Pernambuco e outros estados do Nordeste, o Governo de Pernambuco irá promover uma série de celebrações que se iniciam nesta terça-feira (2).
O
evento de abertura, reunindo as autoridades do Estado e os
representantes da sociedade civil envolvidos com o tema, acontecerá no
Centro Cultural Eufrásio Barbosa, em Olinda, às 10h.
Serão
apresentadas diversas atividades agendadas para os próximos doze meses,
planejadas desde agosto do ano passado por uma comissão especial
liderada pela vice-governadora Priscila Krause. O colegiado reuniu cerca
de 20 entidades e órgãos pernambucanos.
No
evento oficial de abertura, serão lançados editais para apresentações
de artes cênicas, programação de eventos científicos, ações na
Universidade de Pernambuco (UPE), a reedição da obra “Frei Joaquim do
Amor Divino Caneca”, de Edvaldo Cabral de Mello, pela Companhia Editora
de Pernambuco (Cepe), e uma cartilha para os professores dos anos finais
da rede estadual.
A comissão ainda vai
apresentar um selo postal comemorativo em parceria com os Correios e o
evento será finalizado com a apresentação do espetáculo “Frei Caneca –
200 anos da Confederação do Equador”, que tem direção de Carlos Carvalho
e produção de Paulo de Castro.
"Vamos
inaugurar o ano do bicentenário ressaltando essa história tão
importante para o Brasil. Desde o Império, Pernambuco é líder e
referência nacional quando falamos em liberdade e democracia. É uma
história que mexe com os brios do nosso povo e precisa ser cada vez mais
ressaltada entre todas as gerações", afirma a governadora Raquel Lyra.
O Rosto de Frei Caneca
Frei
Joaquim do Amor Divino, mais conhecido como Frei Caneca, foi o líder
mais conhecido da revolta. O recifense nasceu em 20 de agosto de 1779 e
participou ativamente da Confederação do Equador como da Revolução
Pernambucana, em 1817. Ele era jornalista e expôs suas ideias revoltosas
através do próprio periódico, o Tiphys Pernambucano.
Frei
Caneca foi preso, julgado e condenado à morte. No dia 13 de janeiro de
1825, ele seria enforcado no Forte das Cinco Pontas, mas os três
carrascos se recusaram a executá-lo. Com isso, Frei Caneca foi fuzilado
com uma determinação da Comissão Militar e teve o corpo deixado em
frente ao Convento das Carmelitas, dentro de um caixão de pinho. Os
padres o recolheram e enterraram.
Uma das ações
promovidas durante a comemoração do bicentenário da Confederação do
Equador será uma exposição da iconografia de Frei Caneca produzida pelo
artista Robert Ploeg. A pesquisa foi feita por estudiosos e
historiadores da Universidade de Pernambuco (UPE) e da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE).
“Pernambuco
vai realizar diversas ações para lembrar da importância histórica da
Confederação do Equador e de Frei Caneca. O desejo da formação de uma
República no Brasil acontece bem antes em Pernambuco, só se tornando
realidade no país 65 anos depois. Não é por acaso que somos tratados
como referência nacional na luta pela democracia e esse trabalho é uma
oportunidade de manter vivo todo um legado para as gerações futuras”, destacou a vice-governadora Priscila Krause.
Sobre a Confederação do Equador
Considerado
uma espécie de continuação da Revolução de 1817, a Confederação do
Equador se destacou como um dos principais movimentos de contestação ao
reinado do imperador D. Pedro I, que ainda flertava com os portugueses
mesmo com a independência do Brasil.
O
movimento começou em Pernambuco e atingiu outras províncias, como Ceará,
Paraíba e Rio Grande do Norte. Ganhou este nome em referência à
proximidade do centro do conflito com a linha do Equador.
"Existia,
desde o século XVII, uma série de relações comerciais, familiares,
políticas, entre Pernambuco e as capitanias mais ao norte. Então essas
relações foram se intensificando do ponto de vista intelectual a partir
da fundação do Seminário de Olinda, porque várias pessoas vieram dessa
províncias para estudar aqui e entrar em contato com os ideais
libertários.Então há toda uma série de conexões que faz com que, não só
em 1824, mas também em 1817, a gente tenha essa adesão das capitanias da
Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará aos movimentos que eclodem
aqui em Pernambuco", explica o professor da UFPE e membro efetivo do Instituto, Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, George Cabral.
As
principais causas da revolução, apontam os historiadores, foram a crise
socioeconômica na região e o autoritarismo do imperador Dom Pedro I,
que determinou o "poder moderador" na Constituição de 1824, a primeira
do Brasil.
"A partir daí, o
imperador manda uma comissão elaborar uma nova Constituição, que cria
uma aberração que se chamava ‘poder moderador’. Esse ‘poder moderador’
seria exercido exclusivamente pelo imperador e praticamente ele
interferia diretamente nos outros três poderes. Então isso anulava
completamente o jogo de equilíbrio, de freios e contrabalanços que o
sistema constitucional autêntico entre os poderes preconizava”, destaca o professor George Cabral.
As
divergências entre o imperador e os constituintes resultaram em uma
atitude drástica: o imperador mandou tropas para fechar a
Constituinte.
Em 1824, outorgou a primeira
Constituição brasileira, que lhe garantiu maior poder e disponibilidade
de ação para atacar quem afrontasse sua autoridade ou a unidade do
território brasileiro. Por isso, não seria tolerado nenhum tipo de
revolta contra o governo central.
Os
participantes liderados por Frei Caneca defendiam a proclamação da
república e rejeitavam integrar o império brasileiro. Outro líder foi
Cipriano Barata, que divulgou os ideais da Confederação do Equador por
meio de jornais e panfletos.
"A circulação
do jornal foi fundamental para esclarecer os pernambucanos da situação
que estava acontecendo a partir do fechamento da Assembleia
Constituinte. Esse jornal era editado por um frade carmelita chamado
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. E esse jornal foi fundamental para
disseminar a crítica de Frei Caneca contra o autoritarismo do imperador.
Além disso, circularam várias proclamações e vários manifestos que
foram impressos. A imprensa possibilitou uma aceleração da circulação de
informações e de ideias”, explica George Cabral.
A
reação da coroa foi implacável contra Pernambuco, que foi penalizado
com a perda de território, como a Comarca de São Francisco, que
compreende hoje o Oeste do Estado da Bahia (anos antes, Pernambuco já
havia perdido a Comarca de Alagoas, que compreende atualmente o Estado
vizinho, pela Revolução de 1817).
Os
integrantes do movimento também foram punidos, inclusive com condenações
de morte, como aconteceu com Joaquim do Amor Divino, o Frei Caneca, que
foi executado no Recife pelo Governo Imperial por participar do
movimento.
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