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terça-feira, 2 de julho de 2024

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

200 anos do movimento terá diversas comemorações no estado
Considerado uma espécie de continuação da Revolução de 1817, a Confederação do Equador se destacou como um dos principais movimentos de contestação ao reinado do imperador D. Pedro I (Foto: Shilton Araujo/Arquivo DP)

 

Atividades se iniciam nesta terça-feira, 2 de julho, quando o movimento libertário completa 200 anos com programação especial que se estende por um ano 

 

A Confederação do Equador completa 200 anos nesta terça-feira (2), para celebrar o movimento revolucionário que marcou Pernambuco e outros estados do Nordeste, o Governo de Pernambuco irá promover uma série de celebrações que se iniciam nesta terça-feira (2).

O evento de abertura, reunindo as autoridades do Estado e os representantes da sociedade civil envolvidos com o tema, acontecerá no Centro Cultural Eufrásio Barbosa, em Olinda, às 10h. 

Serão apresentadas diversas atividades agendadas para os próximos doze meses, planejadas desde agosto do ano passado por uma comissão especial liderada pela vice-governadora Priscila Krause. O colegiado reuniu cerca de 20 entidades e órgãos pernambucanos.
 
No evento oficial de abertura, serão lançados editais para apresentações de artes cênicas, programação de eventos científicos, ações na Universidade de Pernambuco (UPE), a reedição da obra “Frei Joaquim do Amor Divino Caneca”, de Edvaldo Cabral de Mello, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), e uma cartilha para os professores dos anos finais da rede estadual. 

A comissão ainda vai apresentar um selo postal comemorativo em parceria com os Correios e o evento será finalizado com a apresentação do espetáculo “Frei Caneca – 200 anos da Confederação do Equador”, que tem direção de Carlos Carvalho e produção de Paulo de Castro.

"Vamos inaugurar o ano do bicentenário ressaltando essa história tão importante para o Brasil. Desde o Império, Pernambuco é líder e referência nacional quando falamos em liberdade e democracia. É uma história que mexe com os brios do nosso povo e precisa ser cada vez mais ressaltada entre todas as gerações", afirma a governadora Raquel Lyra.

O Rosto de Frei Caneca

Frei Joaquim do Amor Divino, mais conhecido como Frei Caneca, foi o líder mais conhecido da revolta. O recifense nasceu em  20 de agosto de 1779 e participou ativamente da Confederação do Equador como da Revolução Pernambucana, em 1817. Ele era jornalista e expôs suas ideias revoltosas através do próprio periódico, o Tiphys Pernambucano.
 
Frei Caneca foi preso, julgado e condenado à morte. No dia 13 de janeiro de 1825, ele seria enforcado no Forte das Cinco Pontas, mas os três carrascos se recusaram a executá-lo. Com  isso, Frei Caneca foi fuzilado com uma determinação da  Comissão Militar e teve o corpo deixado em frente ao Convento das Carmelitas, dentro de um caixão de pinho. Os padres o recolheram e enterraram.

Uma das ações promovidas durante a comemoração do bicentenário da Confederação do Equador será uma exposição da iconografia de Frei Caneca produzida pelo artista Robert Ploeg. A pesquisa foi feita por estudiosos e historiadores da Universidade de Pernambuco (UPE) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“Pernambuco vai realizar diversas ações para lembrar da importância histórica da Confederação do Equador e de Frei Caneca. O desejo da formação de uma República no Brasil acontece bem antes em Pernambuco, só se tornando realidade no país 65 anos depois. Não é por acaso que somos tratados como referência nacional na luta pela democracia e esse trabalho é uma oportunidade de manter vivo todo um legado para as gerações futuras”, destacou a vice-governadora Priscila Krause.                                                                                                                                                                                                                      Sobre a Confederação do Equador
                                             
Considerado uma espécie de continuação da Revolução de 1817, a Confederação do Equador se destacou como um dos principais movimentos de contestação ao reinado do imperador D. Pedro I, que ainda flertava com os portugueses mesmo com a independência do Brasil. 

O movimento começou em Pernambuco e atingiu outras províncias, como Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Ganhou este nome em referência à proximidade do centro do conflito com a linha do Equador.

"Existia, desde o século XVII, uma série de relações comerciais, familiares, políticas, entre Pernambuco e as capitanias mais ao norte. Então essas relações foram se intensificando do ponto de vista intelectual a partir da fundação do Seminário de Olinda, porque várias pessoas vieram dessa províncias para estudar aqui e entrar em contato com os ideais libertários.Então há toda uma série de conexões que faz com que, não só em 1824, mas também em 1817, a gente tenha essa adesão das capitanias da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará aos movimentos que eclodem aqui em Pernambuco", explica o  professor da UFPE e membro efetivo do Instituto, Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, George Cabral.

As principais causas da revolução, apontam os historiadores, foram a crise socioeconômica na região e o autoritarismo do imperador Dom Pedro I, que determinou o "poder moderador" na Constituição de 1824, a primeira do Brasil.

"A partir daí, o imperador manda uma comissão elaborar uma nova Constituição, que cria uma aberração que se chamava ‘poder moderador’. Esse ‘poder moderador’ seria exercido exclusivamente pelo imperador e praticamente ele interferia diretamente nos outros três poderes. Então isso anulava completamente o jogo de equilíbrio, de freios e contrabalanços que o sistema constitucional autêntico entre os poderes preconizava”, destaca o professor George Cabral.

As divergências entre o imperador e os constituintes resultaram em uma atitude drástica: o imperador mandou  tropas para fechar a Constituinte. 

Em 1824, outorgou a primeira Constituição brasileira, que lhe garantiu maior poder e disponibilidade de ação para atacar quem afrontasse sua autoridade ou a unidade do território brasileiro. Por isso, não seria tolerado nenhum tipo de revolta contra o governo central.

Os participantes liderados por Frei Caneca defendiam a proclamação da república e rejeitavam integrar o império brasileiro. Outro líder foi Cipriano Barata, que divulgou os ideais da Confederação do Equador por meio de jornais e panfletos. 

"A circulação do jornal foi fundamental para esclarecer os pernambucanos da situação que estava acontecendo a partir do fechamento da Assembleia Constituinte. Esse jornal era editado por um frade carmelita chamado Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. E esse jornal foi fundamental para disseminar a crítica de Frei Caneca contra o autoritarismo do imperador. Além disso, circularam várias proclamações e vários manifestos que foram impressos. A imprensa possibilitou uma aceleração da circulação de informações e de ideias”, explica George Cabral.

A reação da coroa foi implacável contra Pernambuco, que foi penalizado com a perda de território, como a Comarca de São Francisco, que compreende hoje o Oeste do Estado da Bahia (anos antes, Pernambuco já havia perdido a Comarca de Alagoas, que compreende atualmente o Estado vizinho, pela Revolução de 1817).

Os integrantes do movimento também foram punidos, inclusive com condenações de morte, como aconteceu com Joaquim do Amor Divino, o Frei Caneca, que foi executado no Recife pelo Governo Imperial por participar do movimento.

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