PL anti-aborto polariza deputados pernambucanos
Pablo Valadares/Divulgação
Texto recebeu 88% de rejeição em enquete pública da Câmara, registrando 780 mil interações entre 12 e 13 de junho
A temática do aborto novamente voltou à pauta do Congresso Nacional
na última semana quando a Câmara dos Deputados aprovou furtivamente o
regime de urgência do projeto de Lei 1904, que equipara o aborto de
nascituro a partir de 22 semanas ao crime de homicídio simples, em
votação simbólica que durou apenas 23 segundos. A atitude inflamou
diversos protestos no país, e o PL teve 88% de rejeição em enquete
pública no site da Câmara, que recebeu 780 mil interações entre os dias
12 e 13 de junho.
O texto do deputado federal
Sóstenes Cavalcante (PL) contou com mais de trinta assinaturas, dentre
elas, a do Pastor Eurico (PL), membro da bancada evangélica e único
parlamentar de Pernambuco a assinar o projeto.
Eurico se disse favorável à mudança da
legislação. "Queremos endurecer a pena. Mas é o jogo dessa minoria,
estão dizendo que somos contra as mulheres. Não somos. Há um jogo de
interesse, muita gente querendo ganhar dinheiro com isso, clínica
internacional querendo entrar no país. Assinei e assinarei quantas
tiverem. Votei e votarei novamente se for para proteger nossas
crianças", disparou.
A deputada federal e pré-candidata à prefeitura de
Jaboatão dos Guararapes, Clarissa Tércio (PP), também é um dos nomes da
direita pernambucana que votará a favor do PL, apesar de não ter seu
nome no texto.
A oposição ao aborto é uma das
principais pautas ideológicas defendidas pela parlamentar, que esteve
envolvida nas manifestações de grupos religiosos em frente ao Centro
Integrado de Saúde Amauri de Medeiros (Cisam) do Recife em 2020, quando
uma criança de 10 anos, grávida após ser estuprada pelo tio no Espírito
Santo, interrompeu a gestação.
Ainda, Tércio é autora do projeto de Lei 1096/2024,
que criminaliza a assistolia fetal, método recomendado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) em casos de interrompimento de gestação acima de
20 semanas.
Em maio, uma decisão individual do
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes derrubou
resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proibia médicos a
realizar o procedimento no Brasil, mesmo em casos onde o aborto é
permitidos por lei. O STF chegou a dar início ao julgamento sobre a
legalidade da resolução, mas foi suspenso após pedido de vistas do
ministro Nunes Marques, e não tem previsão de retorno.
OposiçãoNa oposição, a deputada federal
Maria Arraes (Solidariedade) declarou publicamente sua oposição ao
texto através das redes sociais. “As estatísticas revelam dados de uma
realidade brutal. Em mais de 60% dos casos de estupro, as vítimas são
crianças e adolescentes, meninas violentadas na maioria dos casos dentro
de suas próprias casas, por parentes próximos. Ser contra esse projeto
de lei é mais que um compromisso do meu mandato, é um posicionamento
contra a covardia e a favor da vida”, afirmou.
O deputado federal Augusto Coutinho (Republicanos), membro da frente
evangélica, também se posicionou contra o PL, acreditando ser uma
alteração desnecessária na Lei. "A discussão em andamento é de cunho
ideológico. Já existe legislação sobre o aborto no País e não faz
sentido modificá-la. Analisei a matéria e votarei contra", declarou.
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