Prefeito de Serrita, o assassino da Missa do Vaqueiro
O nome da instituição que promove a Missa do Vaqueiro é uma homenagem ao seu idealizador. O evento faz parte, há muito tempo, do calendário turístico do Estado. Realizada a céu aberto, a missa se dá em sufrágio da alma de Raimundo Jacó, tendo como cenário o Parque Nacional do Vaqueiro, no sítio Lajes, zona rural de Serrita.
A celebração teve origem a partir da comoção causada pelo assassinato impune do vaqueiro Raimundo Jacó, encontrado morto em Julho de 1954 no sítio Lages. João Câncio, então pároco de Serrita, em uma de suas andanças pelas comunidades rurais da paróquia, ao passar pelo local onde o cadáver de Jacó havia sido encontrado, foi informado do crime que ali ocorrera e da comoção que ele causara no seio da comunidade.
Visando a sufragar a alma do vaqueiro morto, que, conforme informações dos párocos, havia morrido sem confissão, o padre planejou um ato de desagravo e protesto pelo assassinato impune. Com o auxílio do cantor Luiz Gonzaga (que era primo do falecido e o havia homenageado com a canção ‘’A Morte do Vaqueiro’’), juntamente com o repentista Pedro Bandeira, os vaqueiros de Serrita participaram da primeira missa em 19 de Julho de 1970. Além da cerimônia religiosa, ocorre vaquejada, cavalgada, pega de boi, feira de artesanato, show de forró, exposição e muito mais.
O HERÓI JACÓ
Primo do Rei do Baião, Raimundo Jacó Mendes morreu no dia 8 de Julho de 1954. Como vaqueiro, se destacou através de feitos que despertaram a admiração de muitos e a inveja de outros. Entre os invejosos estava Miguel Lopes, com quem passou a ter uma rixa. Narra a lenda que no dia da sua morte o dono da fazenda ordenou que ele e Lopes fossem pegar na caatinga uma rês, arisca e estimada, que se afastou do rebanho. Saíram à procura de Raimundo Jacó no dia seguinte, e, em meio a caatinga, encontraram-no morto, ao lado da rês ainda amarrada, e o seu fiel cachorro latindo, sem sair de perto. Uma pedra manchada de sangue denunciava a covardia do assassinato. Miguel Lopes foi incriminado, e abriu-se um processo, mas foi arquivado por falta de prova, e o crime ficou sem solução, caindo no esquecimento. Tomando conhecimento disso, Luiz Gonzaga protestou com a música “A Morte do Vaqueiro”.
Pressão contra os vereadores
Presidente da Fundação Padre João Câncio, Helena Câncio está inconformada com a manobra do prefeito. “Inacreditável que a Missa do Vaqueiro, patrimônio nacional do povo brasileiro, seja mutilada. Isso é um crime, as autoridades do Estado têm que agir, especialmente a direção da Empetur, proprietária do Parque Estadual Padre João Câncio”, alerta. Para ela, a população, por sua vez, não pode ficar de braços cruzados, mas lotar a Câmara de Vereadores, hoje, para pressionar os vereadores a rejeitar a proposta imoral e violenta do prefeito.
Apagamento grave
Neto de Luiz Gonzaga, o cantor e compositor Daniel Gonzaga também protestou contra a tentativa do prefeito de Serrita de acabar com a Missa do Vaqueiro. “Querem mudar o nome da Missa do Vaqueiro para Festa de Jacó, apagando mais de 50 anos de história. Uma história criada por padre João Câncio, Luiz Gonzaga e o poeta Luiz Bandeira. Uma votação está para acontecer, hoje, por iniciativa do prefeito. Isso não pode ocorrer. A festa é reconhecidamente do povo. Esse apagamento é muito grave”, criticou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário