Risco de impeachment
Também há mecanismos – que ainda não foram utilizados – para evitar uma debandada de aliados. Só resta ao Governo cooptar parlamentares de centro, aqueles que decidem para onde sopra a biruta. Mas não deixa de ser constrangedor assistir a um presidente de terceiro mandato definhar tanto assim.
O PT terá que ter apoio redobrado com aliados, sobretudo aqueles que já o traíram. No segmento da esquerda, o PSB foi um dos apoiadores do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, e que jamais foi perdoado pela militância petista por isso. Hoje, a sigla tem 14 deputados, quatro ministérios e ainda se acha subvalorizada.
Siglas como PDT, MDB e União Brasil também não inspiram confiança, e possuem sua pomposa fatia de espaços na esfera federal. Mas uma onda popular crescente certamente os demoveria, como já ocorreu na década passada. Já chegou a hora de Lula perceber que o dito “museu de grandes novidades”, no qual apostou, não tem mais gás. É uma fadiga de material que beira a hibernação. Se perder um deputado aliado por dia, não comerá nem o milho junino.
Pedidos engavetados
Lula não corre nem de longe o risco de um impeachment, primeiro porque não há um motivo forte e aparente, e segundo porque ele conta com um aliado de peso no Congresso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, aliás, já engavetou vários pedidos de bolsonaristas mais radicais nessa direção. O que o petista precisa cuidar, urgentemente, é de rearrumar a sua equipe de Articulação no Congresso, trocando de imediato o ministro Alexandre Padilha.
Salvo por Severino Cavalcante
No seu primeiro mandato, Lula enfrentou uma das maiores crises de gestão com o estouro do escândalo do Mensalão em maio de 2005, a compra de votos na Câmara com o pagamento de uma mesada para deputados votarem a favor de projetos de interesse do Governo, cujo mentor foi o ex-ministro José Dirceu. Aberta a CPI e comprovado o esquema, o petista só não sofreu impeachment graças ao pernambucano Severino Cavalcanti. Então presidente da Câmara, Severino engavetou dezenas de pedidos de abertura de impeachment.
Traição na base
O governo Lula só existe nos comícios que o presidente da República faz com dinheiro público. Ele não tem base parlamentar que lhe dê sustentação. Se o petista fosse primeiro-ministro, ele já teria caído faz tempo. Nas votações dos vetos, a inexistência do governo ficou muito clara: até integrantes de partidos da suposta base foram contra o Palácio do Planalto. E não foram poucos.
Até petista votou contra
Lula queria criminalizar a divulgação de fake news eleitorais. Foi derrotado por 317 a 139 na Câmara. Lula queria manter a saidinha de presos no regime semiaberto. Foi derrotado por 314 a 126 na Câmara. No Senado, por 52 a 11. Sinal de que Lula também não vai aonde o povo está: a petistíssima deputada Maria do Rosário votou com a maioria contra a saidinha. Et pour cause: quer ser prefeita de Porto Alegre. Tabata Amaral, da esquerda descolada, igualmente votou contra. Quer ser prefeita de São Paulo.
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