Rachadura na muralha petista
A queda brusca na aprovação do Governo constatada nas últimas pesquisas eleitorais, especialmente no Nordeste, acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto e obrigou o presidente Lula a concentrar suas viagens pelo País na região. A aprovação ao terceiro mandato do petista recuou acima de dez pontos no Nordeste. Outras três sondagens mostram que a corrosão dessa boa vontade avançou bastante nas três maiores cidades da região: Fortaleza, Salvador e Recife.
Na capital cearense, a insatisfação com o governo cresceu dezessete pontos em um ano, segundo o Paraná Pesquisas. Por isso, na semana passada, Lula fez questão de ir ao Ceará, depois de cumprir uma longa agenda em Pernambuco. Lá, visitou as obras da Ferrovia Transnordestina, que estão bem avançadas, diferente do que ocorre em Pernambuco, cujo trecho só foi feito até Salgueiro, estando as obras estagnadas há quase dez anos.
Em 2023, Lula fez 18 viagens ao Nordeste e este ano cinco. Nenhuma outra parte do País recebeu tantas visitas dele. Mas o movimento é compreensível: tradicional trincheira da esquerda, o eleitorado nordestino dá mostras de que a simpatia com Lula e o governo já não é mais a mesma de outros tempos. A constatação da existência de rachaduras na muralha vermelha vem de todo lado, inclusive em Pernambuco, terra natal do presidente.
Embora Lula ainda tenha a aprovação da maioria do eleitorado da região, a oscilação negativa não deixa de ser preocupante, ainda mais a menos de seis meses de uma eleição municipal que Lula e o PT consideram estratégica. Em 2016, ano em que teve seu pior desempenho eleitoral por causa da Lava-Jato, o PT conquistou apenas uma capital, Rio Branco. Na disputa seguinte, não conseguiu vencer em nenhuma, algo que não acontecia desde a sua fundação. Neste ano, a expectativa é lançar ao menos 125 candidatos a prefeitos nas cidades com mais de 100 mil habitantes e doze ou treze nas capitais.
Candidatos competitivos
No Nordeste, petistas vão encabeçar candidaturas em Fortaleza, Teresina, Natal e Maceió, mas em nenhuma delas aparecem na liderança das pesquisas. Em João Pessoa, uma eventual candidatura petista está no campo das possibilidades. A tendência da capital paraibana, assim como em São Luís, Salvador, Aracaju e Recife, é que o PT apoie candidatos de outros partidos. Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral da sigla, o senador Humberto Costa acha que o partido pode ser competitivo em Teresina, Fortaleza e Natal.
João não vai ceder ao PT
O PT, segundo levantamento da revista Veja, tem ciência de que um bom desempenho no Nordeste neste ano, ainda que seja em eleições municipais, dará ao partido sustentação política na região daqui a dois anos, quando Lula deverá tentar a reeleição. Não por acaso, o presidente aproveitou a agenda recente na área para tratar dos problemas eleitorais. No Recife, encontrou-se com o prefeito João Campos (PSB) para tentar resolver o imbróglio da vaga de vice na chapa, pleiteada pelo PT. O prefeito, entretanto, resiste. Quer colocar na vice uma pessoa da sua absoluta confiança: a secretária de Infraestrutura, Marília Dantas.
Longa espera
Já no Ceará, Lula e o PT precisam desenrolar um enrosco gigante: cinco nomes são pré-candidatos a prefeito de Fortaleza. A definição deverá ser feita em encontro municipal, sem necessidade de prévia, mas é certo que haverá participação direta de gente muito próxima ao presidente, como o ex-governador Camilo Santana, ministro da Educação.
Oposição investe no vácuo
A oposição, claro, já sentiu o cheiro de sangue e intensificou a presença no Nordeste. O casal Jair e Michelle Bolsonaro esteve em Maceió, a mais bolsonarista das capitais nordestinas em 2022. Foi a única que deu mais votos ao ex-presidente do que a Lula. O prefeito, João Henrique Caldas (PL), tentará a reeleição como candidato bolsonarista. No sábado, a ex-primeira-dama recebeu o título de Cidadã Honorária de Maceió e participou de eventos no PL Mulher, enquanto o ex-presidente se dedicou a articulações com políticos locais.
A razão da frustração Um dos motores da frustração atual no Nordeste é justamente no campo econômico: a expectativa criada pela volta de Lula não se materializou até aqui em uma nova onda de prosperidade. Mesmo com a desocupação em queda no País — 7,8% no primeiro trimestre deste ano —, o Nordeste segue com o maior percentual de desempregados entre as regiões (10,4%). Todos os estados nordestinos têm taxas maiores do que a média nacional — a Bahia tem a maior do País (13,3%), seguida de Pernambuco (13,2%).
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