O imortal que morreu e desmorreu conta sua experiência do outro mundo.
Uma para cada imortalidade. No caso dele, são três. E uma morte inevitável, que acomete deuses, heróis, semideuses e até humanos. José Paulo, Zé Paulinho para, digamos, Deus e o outro mundo, contou sua inusitada experiência aos nossos leitores.
O Poder – O senhor tirou férias e morreu. Como foi isso?
Zé Paulinho – Foi assim. O ilustre Francisco Queiroz Cavalcanti, ex-presidente do TRF da 5ª Região, me mandou mensagem que recebeu pelo zap: “Pesar pelo passamento de Zé Paulinho, contemporâneo de trajetória democrática, acima de tudo. Sempre com opiniões firmes, mesmo que eu pudesse dele discordar nos últimos tempos. Mas ele argumentava com muita propriedade. Valorizava o estudo, a cultura. Inesquecível será, pois era e é um expert em Fernando Pessoa. Perde a cultura; vai-se um imortal. Zé Paulinho estava no patamar de quem se cuidou intelectualmente: um leitor, um analista da cena nacional política e cultural. Claro que isso faz uma falta danada. Não era um ser raso. Muito ao contrário. Acompanhava-o pelos seus artigos, nos jornais. Pelos seus debates da CBN, com as suas agudas análises. Um independente no pensar!!! Repito: um independente no pensar!!! Meus duplos respeitos ao ser humano e ao homem da cultura. Condolências aos colegas do MP-PE. A.S.F. 20/01/2024”.
A notícia foi ruim, mas o elogio foi consagrador. O que fazer numa situação dessas?
Eis a questão. Mal não estava, pelo contrário, que no momento da ligação jogava tênis. Ainda vivo, claro, e pode lá um morto jogar tênis? Como se responde a uma notícia dessas, que se alastra como fogo subindo morro ou água descendo? Para minha sorte, o amigo Luiz Andrade logo esclareceu o ocorrido em mensagem no zap da APLJ: tratava-se do falecimento de um homônimo ilustre. Minhas condolências à família enlutada.
Qual sua reação em seguida?
Pelas circunstâncias, nem deu para ficar com raiva. O autor da nota agiu de boa fé e foi até simpático. E enganos assim podem ocorrer. Seja como for já digo a quem quiser escrever sobre minha morte inevitável, algum dia (lá pelos anos 2070 ou mais, espero). Guarde essa entrevista. Quando chegar minha hora, já estará tudo pronto. Basta só copiar, que vou ficar satisfeito com os elogios.
Dessa o senhor escapou. Mas na definitiva, como gostaria de ser enterrado no Mausoléu dos Imortais?
Primeiro é ser enterrado com charuto e caixa de fósforos junto, pelo sim pelo não… Segundo, com óculos. Até porque nasci usando. E não tiro para nada, sequer para mergulhar no mar.
Para que óculos? O senhor acredita na vida depois da morte?
Não acredito em céu, mas vai ver que exista. Também não acredito que mereça ir prá lá, mas quem sabe vá. O risco é chegar e, na entrada, um cidadão vir falar
Tudo bem? amigo Zé Paulo.
E eu, sem ver nada caso não esteja com os tais óculos.
Perdão, mas quem é Vossa Senhoria?
Não estás me reconhecendo? Rapaz, sou J. Cristo. Imagine a cena. Era capaz de morrer de vergonha.
Jornal O Poder
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