Evento de grafiteiros no Centro do Recife termina em confusão com chegada da PM
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram PMs do 16º BPM abordando os participantes da Mostra Coletiva de Artes Urbanas, no Centro do Recife (Foto: Reprodução/Redes Sociais )
Vídeos divulgados em redes sociais mostram policiais fazendo abordagens contra jovens
Um evento de comemoração ao Dia Internacional do Grafite, na quarta (27), terminou em confusão envolvendo artistas de rua, grafiteiros e policiais militares.
Vídeos postados nas redes sociais mostram PMs do 16º BPM abordando participantes do evento "Mostra Coletiva de Arte Urbana".
A PM justificou a realização da operação policial que gerou o conflito foi gerada por denúncias de pichações em prédios públicos e que o evento estava ocorrendo de forma irregular.
A exposição reuniu centenas de jovens na Rua Uchôa Cintra, no bairro da Boa Vista, na área Central da capital pernambucana.
O caso foi denunciado por participantes do festival.
Eles afirmaram que os policiais agiram "com violência" contra jovens negros e artistas de rua.
Segundo os denunciantes, o caso aconteceu no momento em que o público acompanhava a Batalha de Tags.
É uma espécie de competição de grafites em paineis, tradicional em eventos comemorativos e da cena hip-hop da cidade.
Nas imagens, é possível acompanhar os PMs fazendo revistas em uma fila de jovens que estavam com as mãos na parede.
Isso aconteceu nas proximidades do espaço conhecido como "Pagode do Didi".
Também é possível acompanhar momentos em que policiais aparecem com as armas em punho.
Segundo uma das denunciantes que flagrou o momento das abordagens, os PMs chegaram a entrar em uma loja de grafite e recolheram 33 latas de spray de grafite e os materiais que estavam sendo usados no evento.
“Chegaram a entrar na loja do grafite, um espaço privado, sem mandado. Retiraram o pessoal lá de dentro para abordar. Também apreenderam as tintas dos grafiteiros. Isso é uma humilhação. Estamos aqui pra brincar, em um espaço privado e ocupando uma rua que já é conhecida para festividades. Do nada, os policiais chegaram aqui e fizeram o baculejo em todo mundo. É muito triste essa situação. O grafite continua sendo marginalizado. É isso que temos que aturar todos os dias”, reclamou uma das participantes, Nathe Ferreira.
A organização do evento publicou, ainda na noite da quarta, um comunicado oficial repudiando a ação em que os organizadores afirmam que se tratou de um caso de violência policial contra artistas de rua.
“Viemos denunciar a ação desproporcional da Polícia Militar (alguns indivíduos estavam com farda do Gati). Eles chegaram ao local mandando que todos os homens encostassem na parede Mostraram aquele despreparo típico da polícia quando se depara com a cultura negra. Isso é histórico no nosso país, o funk, o brega, a capoeira, o maracatu , o afoxé já viveram isso!”, diz um trecho da nota publicada nas redes sociais e assinada por dez coletivos que representam a categoria de grafiteiros e artistas de rua no Recife.
São eles: Cor da Lama, Coletivo Pão e Tinta, Pixe Girls, Point Bomb Recife, Px Produtora, Kalunga Project, ColetivaS, Cores Femininas, Kardume, Osmo Crew.
Ainda segundo a nota, as entidades afirmam que "cerca de 40 homens negros foram retirados do seu lazer, do seu momentos diversão, de aquisição de bens imprescindíveis para nosso trabalho, como latas de spray, para simplesmente passar pela maior violação de direitos que o movimento hip hop viu em um evento no centro da cidade dentro de pelo menos dez anos".
O que diz a PM
Procurada pela reportagem do Diario de Pernambuco, a PM se posicionou sobre o caso por meio de nota.
Confira na íntegra a nota da Polícia Militar:
"A Polícia Militar reitera seu compromisso e respeito com os preceitos legais que regem o Estado democrático de direito e esclarece que eventos públicos de natureza cultural, para serem realizados, necessitam de autorização prévia da Prefeitura Municipal e da emissão de suas respectivas licenças de uso de solo, plano de limpeza e sonorização, além da comunicação, pelos organizadores do evento, aos órgãos de segurança pública como a Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. Através do 16º BPM informamos ainda que, nesta quarta-feira (27), na rua do Sebo, no bairro de São José, Centro do Recife, aconteceu a "Mostra Coletiva de Arte Urbana" com a participação de cerca de 80 pessoas reunidas, sem as devidas autorizações e sem o conhecimento dos órgãos de segurança pública. A partir de denúncias de pichação em edificações no centro do Recife e, não havendo nenhuma informação sobre o citado evento, foram deslocadas viaturas e realizada a abordagem policial ao público presente".
Na mesma nota, a PM ainda afirmou que:
"Ressaltamos que, em análise preliminar das imagens veiculadas nas redes sociais e, a partir dos relatos, não foi verificado excessos ou violência policial na ação do efetivo do 16° BPM, responsável pelo policiamento na área. Até o final da ocorrência, nenhum dos participantes presentes se apresentou ao policiamento como organizador do ato ou proprietário do material apreendido. A partir da ausência dos responsáveis, o material apreendido foi entregue, mediante boletim de ocorrência, à delegacia da área. Lembramos que possíveis irregularidades cometidas por servidores civis e militares da SDS podem ser informadas à Ouvidoria Geral da SDS através do 0800-0815001 ou pelo (81) 31835298. O cidadão também pode ir pessoalmente na Ouvidoria, que funciona no prédio em frente à Secretaria de Defesa Social, na Rua São Geraldo, 110, no Bairro de Santo Amaro. Ou ainda pelo e-mail ouvidoria@sds.pe.gov.br".
Por fim, a corporação concluiu o posicionamento dizendo que:
"Quaisquer segmentos da sociedade que queiram realizar eventos na região central do Recife, além de procurar os órgãos responsáveis pelas autorizações, também podem manter contato com o comando do 16° BPM, através do e-mail: 16bpmp3freicaneca@gmail.com e pelo telefone 31811780".
Por: Wilson Maranhão
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