EUA reativa sanções contra a Venezuela após inabilitação de opositora
Em outubro passado, Washington flexibilizou algumas sanções econômicas em resposta ao acordo de Barbados entre o governo de Maduro e a oposição
Os Estados Unidos decidiram reativar, nesta terça-feira (30), as sanções ao petróleo e gás da Venezuela se não vir uma "mudança de rumo" do governo de Nicolás Maduro, que qualificou a medida de "chantagem" dias depois da manutenção da inabilitação política da opositora María Corina Machado.
O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), do Departamento do Tesouro, revogou uma licença da Minerven, mineira estatal de extração de ouro da Venezuela, e agora só poderão "liquidar" transações pendentes até 13 de fevereiro.
"Há outra que vai expirar em abril, que pertence à indústria petroleira, e na falta de uma mudança de rumo por parte do governo, permitiremos que essa licença geral expire e nossas sanções serão restabelecidas", advertiu durante coletiva de imprensa, nesta terça, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
"Dizem que temos até 18 de abril, poupem-se o lapso, ianques de merda!", alfinetou o chefe do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, que convocou uma consulta pública para elaborar uma proposta de cronograma ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), encarregado de convocar eleições.
Em outubro passado, Washington flexibilizou algumas sanções econômicas em resposta ao acordo de Barbados entre o governo de Maduro e a oposição, que fixou eleições presidenciais para o segundo semestre do ano - ainda sem data -, com observação internacional.
Agora, pede que o presidente venezuelano cumpra sua parte no acordo.
"Isto significaria anunciar um calendário eleitoral (...), uma auditoria e atualização do registro eleitoral e a libertação de mais presos políticos e, o mais importante, significaria que todos os candidatos políticos da oposição democrática poderiam participar livremente das eleições presidenciais de 2024", disse Miller.
"E, obviamente, não é o que temos visto", acrescentou, quatro dias depois de uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que mantém a inabilitação política de Machado por 15 anos.
"Há tempo"
"Ainda há tempo para que o regime de Maduro mude de rumo, ainda há tempo para que permitam eleições livres e justas. Temos a esperança de que é isto que farão, mas se não o fizerem, estamos preparados para implementar nossas sanções", disse Miller.
Uma porta entreaberta que o governo venezuelano qualificou de "chantagem" e ameaçou contra-atacar.
"A Venezuela toda rejeita a chantagem grosseira e indevida e o ultimato manifesto pelo governo dos Estados Unidos", reagiu a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, na rede X.
"Se derem o passo em falso de intensificar a agressão econômica contra a Venezuela a pedido dos extremistas lacaios no país, a partir de 13 de fevereiro estariam revogados de forma imediata os voos de repatriação de migrantes venezuelanos", reativados em outubro, acrescentou.
Uma ameaça de peso para Biden, que tentará a reeleição em novembro e enfrenta uma crise migratória na fronteira com o México, um dos temas-chave da campanha eleitoral.
Rodríguez anunciou, ainda, a "revisão de qualquer mecanismo de cooperação existente como contra-medida frente à tentativa deliberada de atingir a indústria venezuelana de petróleo e gás".
"A Venezuela está preparada para qualquer circunstância", disse, por sua vez, Pedro Tellechea, ministro do Petróleo.
Desde a suspensão das sanções, Venezuela e Estados Unidos realizaram uma troca de prisioneiros, entre os quais estava Alex Saab, apontado como testa-de-ferro de Maduro e acusado de lavagem de dinheiro pelos Estados Unidos.
Mas o descontentamento de Washington tem escalado nos últimos dias, quando 36 pessoas, entre civis e militares, foram detidas na Venezuela, incluindo três colaboradores de Machado, os quais as autoridades vinculam a cinco "conspirações" para assassinar Maduro.
"As ações de Nicolás Maduro e seus representantes na Venezuela, incluindo a detenção de membros da oposição democrática e a proibição de que candidatos disputem as eleições presidenciais deste ano, são inconsistentes com os acordos assinados em Barbados", queixou-se Miller.
Biden sob pressão
Machado, que arrasou nas primárias da principal aliança opositora, com mais de 2,4 milhões de votos (92% do eleitorado), descartou desistir da corrida eleitoral, apesar de que na prática não poderá inscrever sua candidatura.
"Nicolás Maduro não vai escolher o candidato do povo porque o povo já escolheu seu candidato, ponto", disse Machado na segunda. "Represento essa maior soberania popular. Não podem fazer eleições sem mim".
Há dias Biden estava sob pressão, inclusive pelo próprio Partido Democrata, a retomar as sanções.
Alguns congressistas republicanos exigem que o governo busque "cooperação internacional para a prisão e extradição de Nicolás Maduro", a quem Washington acusou em 2020 de tráfico de drogas.
Por: AFP
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