Aflição e pouco dinheiro no bolso: conheça a rotina de acompanhantes de pacientes de hospitais públicos
As dificuldades diárias não são o suficiente para fazer com que os acompanhantes deixem as entradas dos hospitais à espera de boas notícias
Colchões no chão, mochilas usadas como travesseiro, roupas penduradas nas janelas e pequenas cabanas são as primeiras coisas vistas nas entradas de alguns hospitais públicos do Recife.
Estes itens pertencem aos acompanhantes e visitantes de pacientes internados há dias nas unidades hospitalares.
Os olhares cansados e esperançosos falam por si só. Estas pessoas vêm de cidades distantes para acompanhar parentes e amigos hospitalizados.
As pessoas que aguardam notícias dos pacientes do lado de fora dos hospitais precisam enfrentar diariamente as intensas mudanças climáticas, o controle de gastos com alimentação e medicamentos e os perigos de dormir fora de casa.
Tudo isso enquanto aguardam uma boa notícia sobre o estado de saúde dos enfermos.
Antes de trazer os relatos de pessoas que passam por situações como estas, vale destacar a diferença entre acompanhante e visitante.
Os pacientes que estão autorizados a terem acompanhantes 24 horas por dia são crianças e adolescentes, idosos, indígenas, pacientes em crise psiquiátrica, pessoas com deficiência e mulheres em trabalho de pré-parto, parto e pós-parto imediato.
Pode-se entender como acompanhante a pessoa que ficará ao lado do paciente durante o período em que ele está hospitalizado.
O acompanhante deve ter um vínculo de convivência com o paciente, já que o cuidado é inerente ao contato verbal ou físico e necessita de interação.
Além disso, o acompanhamento familiar contribui muito para uma melhor recuperação e preparação da alta do paciente, e consequentemente na continuidade dos cuidados. Mas o paciente possui o direito de escolher a pessoa que irá acompanhá-lo, podendo ser um amigo ou parente.
Entre os principais direitos dos acompanhantes estão permanecer junto à paciente, prestando o cuidado necessário, informar à equipe de saúde alterações importantes que ocorram com a paciente, evitar trazer preocupação ao paciente, manter silêncio nas dependências do hospital e seguir as orientações da equipe de saúde.
Estas pessoas também possuem seus direitos assegurados, entre elas receber informação acerca das normas, regulamentos e rotinas da instituição hospitalar, receber pulseira de acompanhante para sua identificação, receber alimentação, ter acomodações adequadas, ter acesso ao conteúdo do prontuário do seu paciente e receber informação sobre o estado de saúde do seu paciente, de forma objetiva, respeitosa, compreensível e em linguagem adequada.
Acompanhantes levam objetos para frente de hospitais públicos (Foto: Rafael Vieira) |
Os visitantes são aquelas pessoas que ficam com o paciente em apenas um momento no hospital e possui horário certo para entrada e saída do quarto. Cada paciente internado pode receber uma visita por dia, nos horários disponibilizados pelo hospital. Os visitantes também devem seguir algumas condutas, entre elas a identificação por meio de crachá, usar máscara, não sentar no leito do paciente, evitar circular pelo hospital e dirigir-se à saída após o horário de encerramento da visita.
Diante destas informações, ainda surge o questionamento de por que há tantas pessoas dormindo do lado de fora dos hospitais enquanto esperam seus parentes e amigos?
Isso ocorre porque muitos acompanhantes vêm de outras cidades e revezam o acompanhamento com outro parente ou amigo. Além disso, muitos deles não possuem dinheiro para se locomover até a cidade onde moram todos os dias.
Drama
Acompanhante conta as dificuldades (Foto: Rafael Vieira ) |
Vestida com uma camiseta com a palavra “gratidão” e com um olhar de esperança, porém fatigado, Maria das Graças veio da cidade de São João do Tigre, na Paraíba, para acompanhar o filho de 22 anos que teve um sangramento na cabeça e está internado no Hospital da Restauração (HR), no Recife.
“Estou aqui desde o dia 20 de novembro. Soube que meu filho estava internado e vim para cá. Eu troco horário com a minha cunhada para acompanhar o meu filho. Essa rotina é um pouco cansativa, mas antes eu dormia em uma cadeira e uma moça me emprestou um colchonete para eu dormir aqui fora. Meu filho já fez os exames que precisava e o resultado já foi passado para o médico, mas ele ainda não passou o resultado para a gente”, relatou.
O cenário de revezamento entre acompanhantes é comum nos hospitais, uma vez que nem todas as pessoas podem ficar na unidade hospitalar 24h por dia.
Outra acompanhante que está nas mesmas condições de Maria das Graças é Evelyn Nascimento, que acompanha a mãe há 23 dias no HR. Ela mora em Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, e faz o revezamento com a irmã.
“É uma rotina muito cansativa e fico revezando, pois tenho filho em casa. Ficamos muito desassistidos aqui, tanto pelos médicos quanto pela assistência social. O acompanhante fica extremamente aflito, sem saber o que fazer, com quem falar e o que falar. Eu revezo com minha irmã a cada três dias e a gente dorme do lado de fora mesmo. Também temos um gasto muito grande porque quem está aqui fora tem que comprar comida. O que poderia melhorar é a questão do atendimento, pois ficamos sem informações. A maior aflição dos acompanhantes é a falta de respostas”, contou.
O cenário se estende por outros hospitais da rede pública, como o Hospital Agamenon Magalhães, no Recife. Luciana Deodato mora na cidade de Goiana e também estava acompanhando a mãe no hospital há cerca de 15 dias, mas ela não pôde ficar mais tempo pois se sente nervosa diante da situação.
“Eu fico abalada e chorando diante desta situação, por isso quem vai ficar a partir de hoje com a minha mãe é o meu irmão. Até agora eu estou sofrendo, mas só tenho expectativa de que minha mãe vai sair bem”, relatou.
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