Servidora federal trans denuncia caso de transfobia ao usar banheiro de terminal de ônibus
Grande Recife Consórcio de Transportes vai apurar caso e repudia qualquer tipo de discriminação
A assistente administrativa da Universidade Federal de Pernambuco Geovana Borges, de 30 anos, publicou um vídeo nas redes sociais denunciando um suposto caso de transfobia no Terminal de ônibus da CDU (Cidade Universitária), na Caxangá, Zona Oeste do Recife. As cenas aconteceram na tarde da última segunda-feira (25), segundo ela.
Nas imagens, um funcionário, que seria responsável pela limpeza do local, vai ao banheiro feminino e aborda Geovana. Ele pede para que a usuária saia dali e se dirija à parte masculina, dizendo que isso seria o “normal”. Ela pega o documento oficial com foto e mostra a ele que é uma mulher trans. O homem, ao ver a prova, diz que não pediu para ela sair, mas que foi avisar que o “banheiro masculino é aquele de lá”.
Posteriormente, o funcionário diz: “Você explicava pra mim e pronto, normal. Acabou-se”. Geovana explica a ele sobre a validação dos direitos e ele a interrompe, dizendo que ela tinha que avisar que é trans em algum lugar que, possivelmente, seria a administração da estação, e ela o responde: “A gente não tem que avisar, não, porque existe uma legislação para isso”. Ele alega que não sabia dessa informação.
Ainda nas imagens, Geovana questiona o porquê de um homem estar em um banheiro feminino e ele explica que fazia a limpeza dos dois sanitários. “Eu faço os dois. Limpo aqui e limpo lá”, diz o funcionário, que destaca ainda a necessidade de haver mais informações sobre o assunto e reconhece ser leigo acerca do tema. Ele termina dizendo que “Os direitos têm que ser respeitados”. Na hora de sair, Geovana diz: Agora o senhor já sabe”, e ele responde: “Agora eu sei”.
Geovana prestou boletim de ocorrência na Delegacia de Desaparecidos e Proteção à Pessoa (DDPP), na manhã desta terça, contra o funcionário.
A usuária do transporte público conversou com a Folha de Pernambuco e contou que se sente impotente e frustrada diante dessa situação, que parece ser rotineira. “Eu só tive o impulso de ir filmar, mas isso acontece todos os dias, e a gente fica revoltada”, pontuou.
Ela acredita que o constrangimento sofrido ontem gera o impulsionamento das lutas que a comunidade LGBTQIAPN+ vem assumindo para ter a devida liberdade nos espaços.
“Apesar de estar nervosa, muito balada e emocionada, eu acho que isso contribue, inspira e incentiva outras pessoas a registarem e a denunciarem, sobretudo as empresas e instituições, e não só as pessoas físicas, que muitas vezes estão reproduzindo ali conceitos e violências e provocando discriminação, embora isso não seja justificável hoje em dia, mas é preciso a gente fazer essa ponderação”, ressaltou a mulher trans.
A vítima de constrangimento finaliza dando um recado. “[Eu espero que as empresas] comecem a ficar atentas a isso, sobretudo ao acesso a banheiros, a espaços que são divididos por gênero, para que as pessoas sejam empregadas, sim, mas que isso não fique individualizado à conduta da pessoa, mas que as empresas tragam para si essa responsabilidade de formar os funcionários que vão atuar no mercado. As pessoas também devem buscar se atualizar e se informar, para não cometerem nenhum tipo de violência, violação do direito e agressão”.
O que diz a Polícia Civil de Pernambuco
A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil de Pernambuco, que disse, por meio de nota, que foi instaurado inquérito policial para apurar todos os fatos e que as diligências já foram iniciadas e seguirão até a completa elucidação.
E o Grande Recife Consórcio de Transportes?
Já o Grande Recife Consórcio de Transportes respondeu ao chamado do jornal, e disse, também em nota, que “vai apurar a denúncia e declara, antecipadamente, que repudia qualquer tipo de discriminação”.
Por Thalis Araújo
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