Concessionárias temem freio nas vendas enquanto medidas para baratear carros não entram em vigor
Funcionários relatam queda de vendas de automóveis há algumas semanas
No dia seguinte ao anúncio do governo sobre a redução de impostos para diminuir o preço de carros populares, a maioria das concessionárias de automóveis vive um cenário de incertezas. As regras serão oficializadas por meio de decreto e medida provisória, mas a Fazenda pediu 15 dias para estruturar o programa.
Mas a preocupação com a queda nas vendas é anterior a promessa feita pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, de descontos de até 10,96% nos preços a partir da redução de impostos federais para veículos até R$ 120 mil.
O Globo esteve, nesta quinta-feira (25), em algumas concessionárias cariocas para verificar a movimentação dos consumidores e entender as expectativas de vendas após o anúncio que impactará o setor.
Na concessionária da Renault, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, as vendas despencaram nas últimas semanas. Mas a queda é observada desde o início da pandemia e se manteve com aumento da taxa de juros.
Gerente de vendas da concessionária, Marcelo Espíndola contou que nesta semana vendeu apenas um carro, um do modelo Kwid. O normal, por mês, é vender 36 veículos — incluindo novos e seminovos —, número que não é considerado tão positivo, diante dos 90 automóveis vendidos em outros momentos. O gerente garante, entretanto, que o cenário não é restrito àquela loja.
— Esse cenário não é só aqui, é no grupo todo. As vendas despencaram e agora as pessoas estão esperando pelo desconto vindo da redução do imposto — fala.
Congelamento de vendas
Do outro lado da cidade, na Zona Norte, a situação é a mesma. Em outra concessionária da Renault, um funcionário, que preferiu não se identificar, demonstrou preocupação com a possibilidade do congelamento de vendas. Até mesmo a compra e venda de carros seminovos ou usados pode ser impactada, segundo ele.
O Globo apurou ainda que a fábrica da Renault está se preparando internamente para refaturar os veículos para retornar com valor correto, de acordo com a redução, para a loja.
Na Volkswagen, o mesmo vai acontecer. A marca se prepara para reestruturar o valor dos carros. Enquanto isso, em uma concessionária na Zona Sul, os funcionários relatam ter receio dos próximos dias.
— Hoje ainda não vendemos um carro. Imagina como vai ser os próximos 15 dias de incerteza — desabafou um funcionário.
Último fim de semana de maio
Na mesma região, um funcionário da Hyundai confirmou a informação de que as vendas estão difíceis para todos do setor. De acordo com o relato, nesta semana a loja só havia vendido quatro carros. Além da preocupação com o congelamento das vendas.
Nessa loja o anúncio da redução de impostos acontece em um período que tradicionalmente, de acordo com relatos, as vendas de automóveis são maiores: o último fim de semana do mês.
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Na filial de uma loja da Fiat foi onde os funcionários estavam mais otimistas em relação aos dias que sucedem o anúncio da redução de impostos. Em uma unidade da Zona Sul, funcionários informaram que a marca já faz uma ação com descontos que ultrapassam os R$ 6 mil, o que seria semelhante ao desconto prometido pelo governo.
O que dizem as marcas
A Stellantis, grupo que possui as marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, Ram e Abarth, além de Chrysler e Dodge, afirmou estar avaliando as medidas e aguardando estudos que concluirão os contornos do programa.
A Volkswagen, por sua vez, disse que está avaliando as medidas de incentivo ao setor automotivo divulgadas pelo Governo Federal e aguarda a divulgação detalhada do programa para comentar o tema.
Procuradas, a Hyundai e a Renault não responderam ao pedido de pronunciamento até a publicação desta reportagem.
Por Agência O Globo
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