Ídolo do Náutico na década de 60, ex-volante Salomão morre aos 81 anos
Morre Salomão, ex-volante do Náutico que teve passagem no Santos e Vasco (Foto: Reprodução)
Salomão integrou o maior time do Náutico de todos os tempo, compondo a lendária equipe da década de 60 junto com Bita, Gena, entre outros
Um dos grandes heróis da década de 60 do Náutico, Salomão faleceu na madrugada desta quinta-feira (4/5) aos 81 anos. Salomão participou da campanha do hexacampeonato do Náutico na década de 1960, na sequência jogou também em grandes times do futebol brasileiro como Santos e Vasco. Em 1967, o pernambucano preferiu voltar para Recife, para a sua família e para o seu curso de medicina. O ex-jogador morreu de causas naturais e o corpo será velado na tarde desta quinta-feira, a partir das 16h, no cemitério Morada da Paz, em Paulista. Ele será cremado por volta das 20h.
O ex-atleta deixa dois filhos, Patricia e Carlos e dois netos Vicente e Mariana, frutos do relacionamento com Ana Cristina Figueira Couto. Para saber mais detalhes do óbito, o DP Esportes entrou em contato com Aimé Kyrillos, jornalista do Diario de Pernambuco e sogro do ex-jogador. Aimé, inclusive, enviou um texto em primeira mão à reportagem, em que Salomão fez um depoimento sobre toda a sua vida e carreira no mundo do futebol. Confira na íntegra:
Depoimento
Minha primeira lembrança de futebol, era jogar bola atrás do mercado municipal de Pocinhos, na Paraíba, meu Padrinho Geraldo me presenteando com bolas e afins.
Minha segunda lembrança era um campo de pelada perto de um chafariz, que como sempre o Nordeste sofreu com água, era onde Minha Mãe mandava eu ir pegar agua pra suprir nossa casa. Só que existia uma fila no Chafariz, eu então deixava as duas latas guardando minha vez, e ia jogar bola, e a turma ia pedindo pra eu ficar jogando, anoitecia e Dona Maria (minha mãe), estava na beira do campo, pronta pra me dá uma surra bem dada, que eu não tinha voltado com as latas cheia de aguas.
De Pocinhos, toda a família se mudou pra Campina Grande, onde comecei a estudar o segundo grau, no colégio estadual, onde não tinha time de futebol, então surgiu o time Central, time de pelada, que tinham uns caras muito bom de bola.
E o Central participava de partidas preliminares do Campeonato Paraibano, Onde Buarque, um tipo olheiro e meu futuro empresário, me levou ao Campinense, e fomos Bicampeão Paraibano 61 e 62, e onde comecei a ganhar salário para jogar. Neste meio termo ainda trabalhava no Curtume, aonde eu era responsável pela triagem da qualidade dos couros, com o contrato assinado com o Campinense, larguei o trabalho no Curtume. Já era titular no Campinense. Neste momento meus Pais e boa parte da minha família, com a extrema pobreza do Nordeste, se preparavam pra se mudar pra Brasília que estava em construção atrás de uma vida melhor, e logo após isso o Clube Náutico Capibaribe foi me procurar.
No Náutico foi onde assinei o primeiro contrato profissional propriamente dito, onde me rendia 10 vezes mais os valores do Campinense, e fui morar na pensão de Dona Joaninha, Perto da Rua João de Barros, área central do Recife, onde estavam vários amigos de Campina Grande, todos estudantes. De lá conheci um grande torcedor do Náutico, Ruy Pereira, que se tornou um grande amigo, e fomos dividir um apartamento a 5 km dos Aflitos, na Avenida Norte, todos os dias ia andando para os treinos. Já chegava aquecido e pronto para o trabalho.
Meu começo no Náutico, sou eternamente grato ao Treinador Argentino Alfredo Gonzalez, pois foi ele que me bancou no time, eu muito novo, e me ensinou muito sobre disciplina e os atalhos do futebol.
Como se sabe, sofri uma grave contusão num jogo contra o Ceará, onde perdi parte do meu rim direito, num lance ríspido, cai com a mão apoiada que fez uma ruptura e o começo de uma hemorragia interna, onde tive uma anoxia cerebral, que foi muito determinante na minha vida, e muito duro de se enfrentar.
Depois disso fui ao Santos e Vasco, mas nunca mais fui o mesmo jogador, ficava na obsessão de descobrir o que tinha acontecido comigo e com o meu corpo, minha condição física não era mais a mesma, cansava rápido, e a saúde era uma das minhas qualidades como atleta. E é uma busca que me persegue até hoje, e um dos motivos que me levou a Medicina e a Neurologia, junto com o meu sonho de menino de me tornar médico.
Que naquela época era mais fácil, pois nós treinávamos um expediente, e outro ficava livre para estudar no vestibular no ano de 1964. E foi depois que passei no vestibular, que recebi a proposta do Santos, uma proposta irrecusável e muito generosa. Mas fui ao mesmo tempo, triste por saber minha condição física. No entanto fui para o melhor time de futebol do mundo na época, e pude fazer amigos e conhecer o mundo através do futebol, e conviver com o maior de todos os tempos, Pelé, entre outros grande craques como Edu, Mengalvo, Pepe, Carlos Alberto Torres(chegamos juntos no Santos).
Depois ainda passei no Vasco e retornei para o Náutico e pra os estudos de Medicina, e foi onde minha cabeça se encontrou, onde pude descarregar toda minha ânsia de conhecimento daquilo que tinha acontecido comigo, nos estudos. Ultimo ano no Náutico, não renovei contrato, e cai de cabeça na Medicina.
Na Faculdade de Medicina puder fazer novos amigos, quais cultivo até hoje, e ainda pude associar o futebol ao estudo no time da faculdade, que lembro um final dos jogos universitários na Ilha do Retiro antes de um jogo entre Náutico x Sport, ganhamos de 2 a 1 da POLI (Escola Politecnica de Pernambuco), e deu pra matar um pouco a saudade dos tempos de ouro do futebol.
Depois da Faculdade fui fazer uma especialização em Paris na França, bolsa do governo Frances, eu recém casado com minha amada Cristina, minha filha Patrícia recém nascida, onde também levei o futebol comigo, e joguei um campeonato amador nos arredores de Paris, conhecendo uma nova cultura, mas o futebol sempre me acompanhando.
E é isto que trago até hoje, futebol e medicina, a vontade de vencer, na vida ou no campo
Hoje sou Médico, Eleitor e Sonhador sempre,
Salomão Sales Couto
Lucidio e Roberto, Um forte abraço e saudações alvirrubras
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