As “coincidências” estranhas
“Não está tudo bem. Só vai ficar tudo bem quando eu foder esse Moro. Eu sempre dizia que estava lá para me vingar dessa gente. Sempre que entrava um delegado, eu falava: ‘Se prepare que eu vou provar'”. Essas foram as declarações do chefe da Nação, que caíram como uma bomba nos meios políticos, com forte repercussão ao longo do dia de ontem com a deflagração da operação da Federal.
A oposição caiu de pau em cima de Lula. Com o presidente fora de Brasília, cumprido agenda na Paraíba e Pernambuco, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), convocou uma coletiva de imprensa às pressas para declarar que as tentativas de associar o presidente às ações de grupos criminosos são “perversas” e “fora de propósito”. Pimenta chamou os jornalistas para apresentar a versão do governo com apenas 15 minutos de antecedência e foi acompanhado de ao menos cinco assessores.
“Tentar, como algumas pessoas estão tentando estabelecer um vínculo entre essa declaração e a operação conduzida pela PF é algo absolutamente fora de propósito e serve evidentemente para a disputa política”, afirmou Pimenta. “Querer fazer esse vínculo é uma estratégia perversa e mais uma forma de estabelecer uma relação de questionamento das instituições, que enfraquece a democracia e que deve ser repudiada”, argumentou o ministro.
O próprio Sérgio Moro está entre os políticos que exploraram negativamente a fala de Lula, assim como têm feito os parlamentares que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista à CNN na última terça-feira, o senador disse temer risco a seus familiares após a fala de Lula. “Repudio veementemente, acho que o presidente feriu a liturgia do cargo por utilizar esse palavreado de baixo calão e simplesmente a gente tem que questionar quando isso é utilizado como forma de desviar o foco dos fracassos do governo federal”, afirmou.
Senador avisado – O senador Sérgio Moro (União-PR) confirmou que foi informado do plano de uma organização criminosa para sequestrá-lo e matá-lo. “Isso foi assustador para mim e para a minha família. É um preço, infelizmente, alto a se pagar pelo trabalho que fizemos ao crime organizado, não só como juiz, mas também como ministro da Justiça”, disse. Moro disse que ficou sabendo da investigação, no fim de janeiro deste ano. Além dele e de sua família, a organização tinha como alvos outras autoridades.
Moro era o “Tóquio”
O ousado plano de atentados contra autoridades, organizado por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) foi descoberto pelo Ministério Público de São Paulo em janeiro. O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que há quase vinte anos investiga o PCC, tomou conhecimento do plano ao interrogar uma testemunha. O depoimento foi tomado em uma investigação sobre ações planejadas pela organização como retaliação a autoridades. O próprio Gakiya seria um dos alvos da facção. Outro nome na mira dos criminosos era o do ex-juiz e hoje senador Sérgio Moro (União-PR), tratado pelo codinome ‘Tóquio’.
Razão da perseguição
O plano da facção teria sido motivado por mudanças nas regras para visitas a detentos. Moro proibiu as visitas íntimas em presídios federais quando era ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro. Como ministro, igualmente coordenou a transferência e o isolamento dos ‘cabeças’ da organização criminosa nos presídios de segurança máxima. Agentes penitenciários também seriam alvo da facção. Os ataques envolveriam sequestros e até assassinatos. O PCC pretendia colocar em prática uma ação coordenada e simultânea em diferentes Estados, segundo a investigação.
Punição para bandidos
Sérgio Moro também anunciou, ontem, que apresentará um projeto de lei “prevendo a criação de crimes específicos para punir atos de planejamento de atentados contra autoridades públicas”. A proposta legislativa é uma resposta ao planejamento do seu assassinato e de outras autoridades, que foi alvo de uma operação da Polícia Federal. O anúncio foi feito durante uma entrevista concedida à Globo News. A justificativa do senador é de que, embora as autoridades soubessem desde janeiro sobre o possível atentado, “têm que esperar o crime começar para poder agir”.
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