Histórico de invasões do MST contradiz afirmação de Lula no Jornal Nacional
O próprio petista já criticou, no passado, a atuação dos sem-terra. Em 2002, ano em que Lula disputou a Presidência da República, o MST invadiu a fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG), dos filhos do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, o petista disse que o episódio não ajudava “em nada” a luta pela reforma agrária.
— Sou contra a invasão da casa do presidente, como sou contra a invasão da casa de qualquer brasileiro. Apoio a luta pela reforma agrária e desejo ser presidente para implantar a reforma agrária em paz, com todo mundo sentado numa mesa de negociação — afirmou Lula na ocasião.
Dias depois, o MST invadiu a fazenda Santa Maria, no Pontal do Paranapanema (SP), que pertencia ao sócio dos filhos de FH na Córrego da Ponte. As terras eram consideradas produtivas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e foram invadidas outras quatro vezes pelo movimento. A informação é do Jornal O Globo.
Quase dois anos depois, mil integrantes do MST ocuparam outras duas fazendas no Pontal do Paranapanema. Na época, Lula — já empossado presidente — resolveu encerrar o diálogo com os líderes do movimento. O governo temia que as invasões transmitissem falta de autoridade.
Também em 2004, o grupo ocupou 360 hectares da fazenda Bom Sossego, no Rio Grande do Sul, onde havia mais de 300 cabeças de gado e plantação de soja, e uma propriedade da Veracel Celulose, na Bahia. Lá, milhares de famílias destruíram cerca de 25 hectares de plantação para cultivar milho, feijão e mandioca, argumentando que “ninguém come eucalipto”.
Ao fim do último mandato de Lula, em 2009, membros do MST destruíram milhares de pés de laranja em uma fazenda da Cutrale, em São Paulo, alegando que a terra era da União.
Na última quinta-feira, ao ser entrevistado no Jornal Nacional, da TV Globo, Lula defendeu o MST:
— Qual foi a terra produtiva que os sem-terra invadiu? Porque os sem-terra invadiam terras improdutivas. Tinha hora que eu achava que os sem-terra estavam fazendo um favor para os fazendeiros porque tão invadindo as terras para o governo pagar. O MST está fazendo uma coisa extraordinária, tá cuidando de produzir.
O assunto foi um dos mais explorados por bolsonaristas nas redes. Embora a avaliação da equipe de Jair Bolsonaro tenha sido de que o petista foi “muito bem” na entrevista, aliados do presidente consideraram as menções ao MST como o principal ponto negativo da participação de Lula no Jornal Nacional.
Filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi um dos primeiros a comentar. “O ex-preso perguntou qual fazenda produtiva o MST invadiu. Aqui vai uma das centenas de invasões por ano que o MST fazia durante seu governo, ainda em 2009 “escreveu, no Twitter. O parlamentar anexou à postagem uma reportagem sobre uma invasão do movimento durante o governo Lula.
A jogadora de vôlei e bolsonarista Ana Paula Henkel também explorou as declarações do ex-presidente, usando a hashtag “FalaMaisLula”. “‘O agro brasileiro é fascista. ‘O MST tem um papel maravilhoso na sociedade’”, escreveu ela. Na verdade, o ex-presidente disse que parte do agronegócio é “fascista”.
A deputada federal Major Fabiana (PL-RJ) também explorou o assunto. “Nossos amigos do agro não são facistas (sic), mas com certeza são direitistas! O Brasil alimenta cerca de 10% da população mundial (800 mi de pessoas), fonte: Embrapa. Temos orgulho de quem dedica a sua vida ao trabalho no campo e não a invadir terras igual ao MST (…)”, escreveu a deputada, que anexou trecho a entrevista de Lula.
Procurado pelo GLOBO, João Paulo Rodrigues, da Coordenação Nacional do MST, afirmou que o movimento “ocupa área que não cumpre função social, não respeita o meio ambiente e questões trabalhistas”.
— Estamos felizes com a repercussão. Lula é o caminho e o MST continuará no seu governo mantendo a sua autonomia política, ocupando latifúndios improdutivos, que não cumpram função social, mas, acima de tudo, ajudando a organizar cooperativas, com agroindústria, para construir um novo modelo agrícola brasileiro.
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