"Que país de merda!", grita uma mulher sobre o corpo de um homem, morto durante um bombardeio em um bairro residencial de Chuguev, no leste da Ucrânia, um dos primeiros alvos da invasão lançada pela Rússia na quinta-feira (24).
Perto do cadáver, seu filho está prostrado, chorando.
"Eu disse a ele para ir embora", repete, incansavelmente, o homem de 30 anos, ao lado dos restos carbonizados de um antigo veículo da marca Lada.
O míssil deixou uma cratera de 4 a 5 metros de diâmetro entre dois imóveis de cinco andares, totalmente destruídos. Os bombeiros ainda tentam extinguir as últimas chamas.
Vários prédios mais afastados do impacto foram gravemente afetados, com janelas quebradas, ficando apenas as molduras penduradas no vazio.
Nesta cidade a 30 quilômetros da Kharkiv, a segunda maior do país, os bombardeios russos ressoaram durante parte da noite.
A polícia não divulgou um balanço dos danos, mas, pela manhã, estes pareciam consideráveis. Quatro edifícios ficaram completamente destruídos. Acima deles, erguia-se uma espessa coluna de fumaça preta visível de longe.
Sergei, de 67 anos, sofreu algumas contusões durante o bombardeio e agora tenta cobrir as janelas do andar térreo de seu apartamento com uma mesa.
"Vou ficar aqui. Minha filha está em Kiev e lá está parecido", relata este ucraniano, referindo-se às explosões registradas durante a manhã nas principais cidades do país, incluindo a capital.
Segundo ele, o míssil estava dirigido para o aeroporto militar próximo.
"Fazia parte dos alvos que Putin havia citado. Nem fiquei surpreso", continua.
"Defender minha pátria"
Nesta quinta-feira, os militares russos afirmaram que destruíram os sistemas de defesa antiaérea, e deixado as bases ucranianas "fora de serviço". Informou-se ainda que "a população civil não tem nada a temer", embora Kiev tenha relatado várias mortes de civis.
A ameaça não chega apenas do céu. A guarda de fronteira ucraniano anunciou incursões terrestres russas de vários pontos, assim como do leste, na região separatista de Lugansk.
Endurecida por oito anos de conflito armado com rebeldes pró-Rússia, a população local tem muita clareza sobre o que fazer nesse cenário.
"Se continuarem a nos bombardear, vou encontrar armas e defender minha pátria. Pouco importa se tenho 62 anos", prometeu Vladimir Levashov, morador de Chuguev.
"E olha eu sou russo. Mas, se você olhar para a história, se você for ler os livros, 300 ou 400 anos atrás era a mesma coisa. Os russos são saqueadores", revolta-se.
O Exército ucraniano é onipresente nas principais estradas do leste. Entre Kramatorsk e Carcóvia, um comboio de veículos com a bandeira ucraniana amarela e azul está parado.
A 300 km de distância, em Mariupol, potentes explosões sacudiram a principal cidade portuária do leste do país, relativamente poupada das hostilidades das últimas semanas.
Nessa área, perto da linha de frente, começa a retirada da população civil, em aldeias como Zoloty e Gorsky.
"Levaremos a população até a estação de trem mais próxima", anunciou o porta-voz da Defesa Civil, Alexei Babchenko.
Mais longe, no município de Novotoshkovka, a retirada não é mais possível. Horas após o início do ataque, os disparos da artilharia russa são muito intensos, e as comunicações, complicadas.
"A ofensiva está em andamento sobre toda linha de demarcação nas regiões de Lugansk e Donetsk", descreveu Babchenko, acrescentando que "os combates estão acontecendo por todos os lugares".
"Ainda não conseguimos receber informações sobre as vítimas, porque não há comunicação com esta área", completou.
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