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sábado, 26 de fevereiro de 2022

BEIJO DE CARNAVAL

O beijo roubado



Em 2021 lamentava a tristeza de um carnaval durante a travessia pandêmica. Não imaginava que, em tal cenário pudesse ser aplicada a Lei de Murphy: “Se alguma coisa pode dar errado, dará. Da pior forma possível”. Ledo engano. Acordo neste Sábado de Zé Pereira, sem ouvir nenhum acorde de frevo. A pandemia segue nos impondo uma desconfortável reclusão.

Como se não bastasse, a brutal e inaceitável guerra da Ucrânia dar um acabamento de sangue num cenário inimaginável nos dias de hoje. Coisa da Besta Fera!

Uma Besta Fera que tem nome e domicílio. Tem sede de sangue, e sua maldade é maior que as gélidas estepes russas. Evoco Beth Carvalho: “Tristeza por favor vai embora...”.

Como um presente dos céus recebo a visita do meu neto, Guilherme da Fonte Medeiros, que após um afetuoso abraço, me faz a pergunta mais doce e maravilhosa do dia: “Vovô como se rouba um beijo?”

Antes de responder lhe roubei um abraço. E disparei: “É mais ou menos assim”.

Rimos juntos. Pronto! A tristeza foi embora. Afinal, estamos vivenciando o carnaval. E não existe festa mais apropriada para se roubar um beijo do que o carnaval.

Não estou falando daquelas “agressões grotescas”, que as galeras fazem nas ladeiras de Olinda. O beijo roubado tem que ter ternura. Na verdade, acho até que, na maioria das vezes o “ladrão” sai no prejuízo, pois ele rouba um beijo e tem o coração subtraído.

Comecei a fazer uma lista de amigos carnavalescos, grandes ladrões de beijos com estórias mil de amores de carnavais: Arthur Carvalho, Sílvio Ferreira, Gustavo Krause, Romualdo Veras, Ricardo Brito Maranhão, Pedro Luís... A lista é imensa.

Com certeza, cada um, citaria um exemplo de beijo roubado para Guilherme, que, aos 11 anos, nos mostra o interesse da turma que se debruça nas histórias de Koyoharu Gotouge – Caçador de Demônio – e passa horas se divertindo com as aventuras do ninja Naruto. 

A arte do beijo roubado é milenar. Ponto de partida para grandes conquistas. Não conquistas selvagens, covardes e sangrentas como esta que testemunhamos na Ucrânia.

O beijo roubado pode protagonizar grandes histórias de amor. Mas também pode traduzir apenas a intensidade do momento, coisa rápida, como as tuitadas da meninada nas redes sociais.

Neste sábado de carnaval não teremos o desfile do Homem da Meia Noite, o calunga mais famoso de Olinda. No sobe e desce das ladeiras ele não beija ninguém, mas é impossível mensurar a quantidade de beijos roubados por onde passa.


 Por Claudemir Gomes*

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