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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

ELEIÇÕES 2022

 Par perfeito de excrescência

“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”, proclamou o pensador francês Charles-Louis de Secondat, o Barão de Montesquieu, título herdado de um tio. No livro “Cartas Persas” (1721), o Barão denunciou os abusos do poder autoritário e os excessos cometidos no reinado de Luís XIV. O que ele disse fez história, mudou princípios, corrigiu injustiças. Suas palavras tinham o poder da destruição só comparáveis a uma bomba atômica.

Reportando-se ao Brasil das incoerências e dos oportunismos políticos, o que diria o Barão de Montesquieu ao ver Lula e Alckmin abraçados, ontem, em São Paulo, num jantar, 15 anos depois de se enfrentarem na disputa pela Presidência da República com acusações como essa, partindo do ex-governador paulista? “Os brasileiros não são tolos e estão vacinados contra o modelo lulopetista de confundir para dividir, de iludir para reinar. Mas vejam a audácia dessa turma. Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, quer voltar à cena do crime”.

Cena do crime é roubo. O que Lula roubou? É protagonista de dois baitas escândalos no País: o mensalão e a Lava Jato. Em 2006, no período de campanha, Alckmin disse que, diferentemente de Lula, ele não “convivia com o crime” e acusou o ex-presidente petista de “chefe de quadrilha” em relação ao escândalo do mensalão.

E assim está escrito no seu livro da vida, que borracha nenhuma consegue apagar: “Que tempos são esses em que um procurador-geral da República denuncia uma quadrilha de 40 criminosos que tem na lista ministros, auxiliares e amigos do presidente? Que tempos são esses em que cada vez que ouvem uma notícia sobre a quadrilha dos 40, os brasileiros pensam automaticamente em silêncio: E o chefe, onde está o chefe, o líder dos 40 ladrões’”.

O ex-governador de São Paulo disse, também naquele ano, que o PT tinha associação com o PCC em São Paulo e chamou Lula de “fujão” e “covarde” por não aparecer em um debate após as primeiras reportagens sobre o mensalão e por uma suposta negociação, por petistas, de um dossiê contra ele e José Serra. E o que Lula disse de Alckmin? “O Brasil sabe muito bem quem deixou São Paulo refém do crime organizado. E os paulistas sabem quem mandou engavetar mais de 60 CPIs para que seu governo não fosse investigado”, acusou Lula no horário eleitoral, para derrotar o hoje, para ele, “Santo Alckmin”.

Montesquieu passou um tempo entre os salões literários em Paris, os estudos e o cargo na Câmara, além da atividade de escritor, mas deixou tudo isso para se dedicar exclusivamente aos livros. A fim de estudar o sistema político inglês, foi morar na Inglaterra por dois anos. Em seu retorno escreveu “O Espírito das Leis”, considerado a sua obra-prima. Um livro de grande sucesso.

Nesse livro, Montesquieu explicou as leis humanas e as instituições sociais. Definiu três tipos de governos: os republicanos, os monárquicos e os despóticos. Além disso, organizou um sistema de governo contra o absolutismo e idealizou o Estado regido por três poderes separados, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Montesquieu não ensinou a roubar, como Lula e Alckmin, segundo eles próprios se acusaram a vida inteira em busca do poder. Dá nojo retratar o jantar deles ontem: uma imoralidade triunfante. Almas rijamente temperadas pelo zelo da coisa pública devem tremular em seus túmulos. Lula e Alckmin formam um par perfeito da excrescência.

Comida sem sal

O PT também já atacou Alckmin, que pode ser o vice na chapa de Lula. Em 2016, a bancada petista da Assembleia Legislativa de São Paulo chamou Alckmin e o PSDB de “hereges dissimulados”, em uma nota sobre denúncias de propina levantadas na Operação Lava-Jato. Já em 2014, durante um comício do PT em São Paulo, Lula chamou Alckmin de “picolé de chuchu” e “insosso” por, segundo ele, ser omisso aos problemas dos paulistas. “Não é à toa que esse governador tem apelido de picolé de chuchu. É insosso, como se fosse comida sem sal. Nunca fala de nenhum problema do Estado, nunca responde por nada”, disse o ex-presidiário.

Irrigada pelos túneis do Metrô – O PT e Lula foram cruéis com Alckmin. Quando estourou as denúncias de propina na operação Lava Jato envolvendo o ex-governador de São Paulo, tenazmente combatido pelos petistas na Assembleia Legislativas, uma nota da bancada, com o crivo de Lula deu o que falar: “Todo Santo do pau oco como Alckmin adora um buraco. Há 30 anos a dinastia do PSDB em São Paulo vem sendo irrigada pelos túneis do Metrô. É herege dissimulado, discursa como paladino da moralidade, ludibria a opinião pública, sustentado na blindagem construída ao longo do tempo”.

Repertório imenso – Além da troca de ataques mútuos entre os dois personagens, que disputaram a Presidência da República em 2006, Lula e Alckmin também terão que deixar no passado as investidas de aliados do ex-presidente, hoje divididos em relação às conversas — afinal, o repertório de ataques é extenso. Em um passado não tão longínquo, denúncias de fraudes em obras viárias, relatadas por empreiteiras em acordo de leniência, abasteceram as declarações de parlamentares que faziam oposição ao governo do tucano.

A voz operária 

O Partido da Causa Operária, que está com Lula, soltou uma nota, ontem, contra Alckmin na vice do petista: “Geraldo Alckmin é o candidato que a burguesia quer impor na chapa de Lula. Um suposto vice para ser igual a Michel Temer (MDB). Um vice que apoiou o golpe contra Dilma, apoiou o festival de injustiça e corrupção da justiça brasileira, não teve nenhuma solidariedade ao Lula quando este foi atacado em sua Caravana e preso em 2018. Geraldo Alckmin apoiou os ataques do governo golpista de Temer à classe trabalhadora e seu partido aprovou a maioria dos projetos de Bolsonaro no Congresso”.

Na jugular

Depois de 33 anos militando no PSDB, que lhe deu quatro mandatos de governador de São Paulo, maior contraponto às políticas do lulupetismo, Geraldo Alckmin se despediu da legenda na semana passada. Presidente nacional tucano, o ex-deputado pernambucano Bruno Araújo não fez o menor esforço para mantê-lo nos quadros do partido, até porque sabia das suas intenções de sujar as mãos com o PT e Lula. E, numa tirada irônica, inteligente, assim reagiu: "Torço muito para que Alckmin não use seu nome para tentar limpar a história do PT".


por Magno Martins

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