Chico José é a cara da Globo Nordeste
No ápice da maior crise financeira da sua história, a TV-Globo abriu mão, ontem, do talento do jornalista Chico José, a cara do Nordeste no canal da poderosa. Antes de Chico, exemplo de talento, competência e qualidade no jornalismo, a Globo já havia rompido contrato com o jornalista José Raimundo, que atuou por muito tempo na Bahia.
Uma dupla que enchia de orgulho os nordestinos, craques, reverenciados por todos que apreciam a escola do bom jornalismo. “Nada representa mais Chico José do que sua identificação com o Nordeste. É um apaixonado. Durante 10 anos, fez coberturas da seca e da miséria que assolavam o sertão nordestino. Em 2008, percorreu seis capitais para mostrar, ao vivo, o São João no Jornal Nacional. Por 15 anos, ao lado de Beatriz Castro, apresentou e fez reportagens no programa local de meio ambiente Nordeste Viver e Preservar”, escreveu o jornalista Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo da Globo.
Para acrescentar: “Recebeu vários prêmios, inúmeras homenagens e títulos – entre eles o de Cidadão Pernambucano. Convidado para ser correspondente internacional, nunca quis. Costuma dizer que não troca o Nordeste por nenhum outro lugar do mundo. Mas tem no currículo reportagens feitas em todos os continentes. Tem um jeito único de fazer reportagem: envolvente, cativante, leva o espectador para onde ele está. Com palavras precisas, com cenas que marcam”.
Sobre a saída de Chico, Kamel explicou: “Há três anos, começamos a conversar mais detidamente sobre este movimento que se conclui hoje. Primeiramente, deixou o dia a dia para se dedicar aos projetos que tinha no Globo Repórter. Para a nossa alegria e satisfação do público, fez o que planejou. Em outubro, partiu para o Atol das Rocas, período mais propício para realizar a reportagem há muito sonhada. O resultado, como sempre, superou todas as melhores expectativas. Ao dar o ponto final no texto, ao pronunciar as últimas palavras do programa, encerrou com chave de ouro esses 46 anos de Globo. O resultado vai ao ar em 25 de março do ano que vem. Como planejado”.
E assim concluiu: “Eu agradeço ao Chico José, cearense do Crato, cidadão de Pernambuco, jornalista do Brasil, por todo o legado que nos deixa e por tudo o que fez pelo nosso jornalismo. Em meu nome, no nome da Globo e no de seus colegas”. Que me perdoe Ali Kamel, Chico abre uma lacuna na Globo que nos deixa órfão. Chico é insubstituível. Foi um príncipe do jornalismo, um dos repórteres mais admiráveis no País. Sua escrita tinha luminosidade, sua voz encantamento.
Chico, por fim, foi da escola de Gabriel Garcia Márquez, que entendia do ofício assim: “O jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são”.
Popularidade
Kamel esteve no Recife e saiu impressionado com a popularidade de Chico José. “Eu o conheci pessoalmente ao chegar à Globo, numa visita que fiz ao Recife. Depois dos afazeres na redação, aceitei o convite dele para almoçar. Andando pelas ruas, pude comprovar o quanto é querido, tratado como família pelos pernambucanos, carinho puro, que ele retribui. Uma conversa com ele nunca é curta e é sempre prazerosa. Num de nossos encontros mais recentes, tínhamos uma agenda breve, mas quando nos despedimos já havia se passado uma hora. Conversamos sobre a profissão, o fazer jornalístico, a vida. Chico é um baú de boas histórias e um observador agudo. Jô Mazarollo me disse dele: “Adora contar histórias. As histórias das reportagens e as histórias que surgem enquanto está fazendo as reportagens”.
por Magno Martins
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