Exame altera matéria sobre relação entre vacinas ad5 e risco de HIV e alimenta ataques contra Bolsonaro
A informação sobre uma suposta relação entre algumas vacinas covid19 e o aumento no risco de contágio pelo vírus causador da AIDS veio à tona após a live do presidente Jair Bolsonaro na última quinta (22). O que muitos não sabem é que o assunto foi tema de um estudo publicado pela revista científica The Lancet em 2020, amplamente divulgado pela imprensa.
Um dos veículos a repercutir o estudo foi a revista Exame, que no dia 20 de outubro de 2020 publicou em seu site um artigo citando o trabalho científico que alertava sobre a possível relação.
Na matéria, cientistas alertavam sobre o fato de que vacinas experimentais contra o HIV feitas a partir do adenovírus 5 estariam causando efeito reverso, aumentando assim o risco de infecção em pessoas expostas ao vírus causador da
Nas palavras da própria reportagem, “os cientistas se baseia(ra)m em análises feitas ainda em 2007 para a tentativa de criação de uma vacina contra a própria HIV e que (assim como a algumas vacinas contra covid19) também foi baseada no adenovírus 5. Na ocasião, a pesquisa foi interrompida porque os resultados iniciais mostravam que a própria vacina, ironicamente, parecia aumentar o risco dos voluntários contraírem a doença.”
Duas vacinas contra covid19 utilizam a tecnologia do adenovírus 5. São elas a russa Sputnik V e a chinesa Cansino. No entanto, ambas não são utilizadas pelo Programa Nacional de Imunização no Brasil.
A matéria da Exame ficou no ar por mais de um ano e não causou grande repercussão. Tudo mudou depois da live de Bolsonaro
Exame altera matéria para descredibilizar Bolsonaro
Por mais estranho que pareça, a Exame alterou a versão original da matéria quatro dias após a live do presidente da República.
Com a ajuda de um serviço que salva conteúdos antigos publicados na internet (WeybackMachine), a equipe do Portal Novo Norte teve acesso ao conteúdo original e pode realizar um comparativo.
Dentre as principais mudanças na matéria da Exame está alteração do título. O que no original era a afirmação peremptória de que “Algumas vacinas contra a covid-19 podem aumentar o risco de HIV”, na versão alterada passou a ser uma pergunta.
O subtítulo que afirmava que o “Adenovírus utilizado na produção de vacinas contra o novo coronavírus pode ser um facilitador para que o paciente contrair o vírus da Aids” foi retirado do conteúdo editado.
Estranhamento, a edição também excluiu do texto original a frase um trecho que dizia que “Até agora, não se comprovou que alguma vacina contra a covid-19 reduza a imunidade a ponto de facilitar a infecção em caso de exposição ao vírus”. Os demais pontos da matéria foram mantidos como na publicação original.
Foi conclusão unânime em nossa redação que as alterações promovidas pela Exame na matéria ajudaram a dar um ar de "fake news" às falas de Bolsonaro, um prato cheio para as agências de checagem e para os políticos de oposição ao governo.
Da mesma redação que saiu a matéria e sua posterior alteração, saiu também uma nova publicação classificando como "mentira" a fala de Bolsonaro que ligava vacinas ao aumento do risco de contágio pela AIDS. Amnésia seletiva ou ataque intencional de uma redação militante?
Em meio a uma chuva de críticas, o presidente teve sua live retirada do Facebook, do Youtube e do Instgram, sob a alegação de que estaria a "desrespeitar as políticas de uso" das plataformas. É importante ressaltar que, em nenhum momento, Bolsonaro afirmou que o contágio por HIV seria uma consequência direta da vacinação contra a covid19, como algumas agências checadoras tentaram estabelecer.
O conteúdo original que motivou a fala do presidente pode ser conferido neste link https://web.archive.org/web/20201103164838/https://exame.com/ciencia/algumas-vacinas-contra-a-covid-19-podem-aumentar-o-risco-de-hiv/
Por: Pablo Fernando de Carvalho
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