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sábado, 27 de março de 2021

A CRISE NO TEMPO DAS VACAS MAGRAS

 A Globo também sangra

Em era de pandemia, geradora de vacas magras, associada ao fenômeno da internet, a mídia tradicional pena. Não são apenas os jornalões que agonizam. O poderoso grupo Globo Comunicação e Participações, detentor da concessão da TV-Globo, não foge à regra. Maior grupo de mídia do Brasil, comunicou, ontem, que teve faturamento de R$ 12,5 bilhões em 2020, com uma queda de 11% sobre os R$ 14 bilhões faturados em 2019.

Os dados foram publicados numa reportagem do jornal Valor Econômico, veículo do mesmo grupo. O conglomerado informou que teve lucro líquido consolidado de R$ 167,8 milhões em 2020, queda de 77,7% em relação aos R$ 752,5 milhões registrados em 2019. Segundo relata o texto do jornal Valor, “apesar das dificuldades causadas pela pandemia, a empresa manteve, no ano passado, investimentos de R$ 4,5 bilhões em conteúdo e de mais de R$ 1 bilhão em tecnologia”.

A redução no lucro foi causada, diz a Globo, “pelo efeito da desvalorização do real sobre a dívida em dólar da empresa, sem efeito caixa”. Em 2020, o grupo terminou o ano com um caixa declarado de R$ 13,6 bilhões, cifra que seria “equivalente a 2,5 vezes a dívida da companhia no fim do ano, de R$ 5,4 bilhões”. No caso da queda de receita líquida consolidada (de R$ 12,5 bilhões em 2020 frente a R$ 14 bilhões de 2019), a maior queda “foi na publicidade, que responde por 60% da receita total”.

A Globo disse ter perdido 17% de faturamento em publicidade em 2020 na comparação com 2019. “Já nas receitas de conteúdo, que são os restantes 40% do bolo, o desempenho ficou ‘em linha’ com 2019”, afirma o grupo. A queda na receita de publicidade tem sido constante para todos os meios de comunicação tradicionais, que enfrentam forte concorrência das empresas de tecnologia, com o Google sugando quase todas as verbas do mercado.

Há pelo menos três anos que o Google no Brasil, sozinho, fatura mais do que Globo em publicidade. O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Globo Comunicação e Participações foi de R$ 688 milhões, “queda de 26% sobre os R$ 933 milhões de 2019”. Segundo a empresa, “a margem Ebitda foi de 6% ante 7%, no ano anterior”. Já o resultado operacional líquido “foi de R$ 366,3 milhões, 36% abaixo dos R$ 573 milhões de 2019”.

Terreno positivo 

Os resultados em 2020 têm “terreno positivo”, diz o diretor-geral de finanças da Globo, Manuel Belmar, citado pelo Valor. A empresa teve de reduzir custos fixos. Houve corte de 11% nos custos relacionados com vendas e de 7% nos custos gerais. O lucro acabou caindo mesmo assim por causa, sobretudo, do impacto da desvalorização do real frente ao dólar. A dívida em dólares da Globo e a desvalorização do câmbio tiveram efeitos no item despesa financeira. Por conta dessa conjuntura, informa a empresa, “essa linha do balanço, que havia sido negativa em R$ 411,8 milhões em 2019, subiu para R$ 1,9 bilhão em 2020”.

Ainda é confortável 

 A Globo tem dívida atrelada a três emissões de bônus que vencem em 2025, 2027 e 2030. Segundo o diretor Manuel Belmar (foto), “a situação do endividamento é confortável uma vez que a empresa tem capital próprio para suportar as operações”. A dívida conta ainda com “hedge” (cobertura contra risco) e parte dela tem “swap” (contrato de troca de moedas) para reais. A empresa tem sofrido forte impacto por causa da pandemia. A produção de conteúdo próprio (como novelas) teve de ser interrompida por muitos meses. Além disso, houve o adiamento do calendário esportivo (a transmissão de competições diversas são importante vertical de rentabilização da Globo).

Gravações interrompidas 

 A Globo tem, aproximadamente, 14 mil colaboradores. “Em março de 2020, cerca de 75% dos funcionários passaram a trabalhar de casa. Os restantes 25% continuaram no trabalho presencial”, informa a empresa. Na semana que está se encerrando, veio um novo revés por causa do recrudescimento da pandemia de coronavírus. Na terça-feira passada, a Globo emitiu uma nota: “Em decorrência do agravamento da crise pandêmica e das medidas restritivas estabelecidas pelas autoridades locais, a Globo se antecipou e definiu que, a partir daquela data, as gravações das obras de dramaturgia serão interrompidas. Séries e novelas só deverão voltar a gravar no dia 5 de abril, ao final do prazo decretado pelas Prefeituras do Rio de Janeiro e São Paulo”.

Só reprises

Desde 2020, quando deixou seus estúdios fechados, a Globo passou a exibir reprises. Segundo a empresa, “mesmo forçada a exibir algumas reprises, os Canais Globo falaram em 2020 com 100 milhões de pessoas por dia. Já os produtos digitais de jornalismo (G1), de esporte (GE) e de entretenimento (GShow), o Globoplay e o ‘fantasy game’ Cartola FC alcançaram, em média, 100 milhões de pessoas por mês”. O Globoplay, aposta da emissora para ganhar terreno no setor de streaming, “aumentou o volume de assinantes em quase 80%” em 2020. A Globoplay tem parceria com a Walt Disney Company. Há um combo Globoplay e Disney+ disponível desde novembro do ano passado.


por Magno Martins 

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