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sábado, 28 de novembro de 2020

ELEIÇÕES NO RECIFE

Último debate: João Campos e Marília Arraes recorrem à religiosidade e tecem críticas a gestões anteriores


 Ao final de uma das mais disputadas campanhas pela Prefeitura do Recife dos últimos anos, Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB) se enfrentaram na noite desta sexta-feira (27), em encontro transmitido pela Rede Globo e Portal G1 e apostaram nas pautas religiosas e nas críticas às gestões adversárias. PT e PSB governaram o Recife nos últimos 20 anos. O debate ganhou maior relevância pois será a última oportunidade de tomar a dianteira de uma disputa de segundo turno acirrada que, a julgar pelas últimas pesquisas, deve ser conquistada no detalhe do voto a voto, neste domingo (29).

No primeiro bloco, foi o momento dos candidatos fazerem perguntas entre si. Perguntas sobre geração de emprego e propostas para a saúde dos idosos, entre outros temas. O primeiro momento em que ambos elevaram o tom foi quando Marília tentava ligar João Campos às duas últimas gestões do PSB e, em troca, João Campos apontava para o período em que o PT governou a cidade.

"Recife hoje é um celeiro de obras inacabadas. Escolas, pontes, diversas obras. Como o senhor vê uma solução para isso?", alfinetou Marília na pergunta que atiçou o debate. É inegável que o Recife avançou nos últimos anos. É so lembrar como o PT deixou a prefeitura, com lixo em todo o canto. Nosso compromisso é fazer o Recife avançar e fazer projetos concretos para a nossa cidade", respondeu João Campos. Na tréplica, Marília lembrou que não era do partido na época das gestões petistas, mas que o PSB era da base do governo.

Quando João Campos perguntou sobre as propostas para os idosos e pessoas com deficiência, Marília criricou a atual gestão do Recife, mas não mencionou propostas para acessibilidade. "Quem mais sofre com o abandono da saúde pública são os idosos e as mulheres. Eu sou mulher e sou mãe e sei bem o que é isso. Por isso, vamos cuidar da saúde, vamos fazer um programa que não vão mais faltar medicamentos no posto de saúde", disse Marília.

"Vocês viram que não tem uma proposta concreta. O PSB concluiu o Hospital do idoso no Recife e, inclusive, o PT foi contra ao hospital da mulher e do idoso. Mas vamos adiante, pois temos compromissos com os idosos da cidade de Recife. Vamos investir 70 milhões em calçadas na cidade para possibilitar a caminhada dos idosos, falamos isso porque os idosos são importantes e vamos fazer ações efetivamente direcionadas aos idosos", prometeu João. Na tréplica, Marília disse que não foi contra o Hospital do Idoso e citou investimentos de seu mandato parlamentar na área.

PT x PSB
Tanto nos temas livres quanto nas perguntas pré-determinadas, cada candidato procurou explorar gestões passadas. Marília questionou obras paradas e João comentou sobre a falta de autocrítica do PT. Os dois postulantes procuraram, ao longo de todo o debate, explorar a rejeição do grupo político adversário. Ao responder sobre propostas para o emprego e renda no pós-pandemia, Marília Arraes procurou avaliar a gestão de Geraldo Julio e vincular a continuidade a João Campos. Já o socialista sempre procurou ligar Marília às gestões do PT na cidade e chegou a dizer que sua eleição seria a porta de entrada para "figurões do PT". Por sua vez, Marília associava a todo momento João Campos a Geraldo Julio e Paulo Câmara.

Propostas
Diante de uma intensa troca de acusações e pedidos de resposta de ambos os candidatos - nenhum foi atendido pela produção do debate após avaliação da comissão jurídica - houve menor espaço para a apresentação de propostas para a cidade.

João Campos prometeu triplicar o acesso da BR-232, criar um compaz voltado para o empreendedorismo, com agência de fomento ao emprego, o Centro de Atenção ao idoso e o investimento de R$ 70 milhões em calçadas para garantir  a acessibidade de pessoas com deficiência.

Já Marília Arraes disse que pretende o pequeno ajudar o empreendedor, o turismo e o empresário com a desburocratização da gestão. Também prometeu criar a farmácia do bairro para garantir acesso aos medicamentos pelas comunidades perto dos postos de saúde.

Religião
O tema da religiosidade foi bastante explorado no debate. Marília questionou a campanha de João Campos por colocar em dúvida sua fé no Guia Eleitoral e, segundo ela, em material apócrifo distribuído nas igrejas. Marília se apresentou como cristã e mãe de família e criticou a campanha adversária. "Cristã eu sou, João Campos, você sabe disso, apesar de ter atacado minha fé na televisão", disparou a petista."Eu nunca critiquei a fé de ninguém e nunca vou criticar. Nós só colocamos uma fala que a própria candidat fez. Quem quis tirar a bíblia foi ela", disse João Campos. 
Outro momento em que o tema religião foi abordado foi nas propostas de ambos para a prevenção às drogas, quando os dois prometeram ampliar parcerias com instituições religiosas, além de fortalecer a rede de atenção aos dependentes químicos.

Diversidade
Quando o tema foi diversidade de gênero, nenhum dos candidatos apresentou propostas concretas para o segmento LGBTQIA+. "Nós temos o compromisso pela inclusão e pelo respeito, fui o primeiro candidato a anunciar que 50% dos cargos de liderança serão ocupados por mulheres. A gente respeita a todos e todas na nossa cidade", disse João. Marília destacou que ele não respondeu a questão da diversidade, destacou algumas ações da gestão, mas não se aprofundou no tema.

Fogo cruzado
A troca de acusações e denúncias foi intensa neste último encontro dos candidatos à Prefeitura do Recife. Marília explorou temas que foram bordão nas campanhas de Mendonça Filho (DEM) e da Delegada Patrícia Domingo (Podemos), como a chamada "indústria da multa" e a mobilidade. Já João Campos criticou os ataques sofridos por ele e sua família durante a campanha e procurou comparar as gestões do PSB com as do PT. "O PT entregou 25 Km em 12 anos. O PSB entregou 130 em 8 anos. É assim que a gente faz política, a gente sabe fazer e tirar do papel", disse, citando a faixa azul criada na gestão PSB. Marília lembrou que o primeiro projeto da faixa azul exclusiva para ônibus foi de sua autoria, na Câmara Municipal.
"Vamos comparar s nossas vidas públicas. Quem está sendo acusada por improbidade administrativa é a candidata Marílila. Ela deve essas explicações ao povo recifense a ao Ministério Público. Enquanto você era acusada, eu fazia uma seleção pública para o meu gabinete",  e disse que ao invés de compará-lo com as gestões anteriores, deveriam comparar os partidos. "Discurso de ódio, um discurso contra o PSB. E o candidato é João Campos. Vamos comparar sim o PSB do PT. Não existe nenhum gestor do PSB preso", disparou João. Marília disse que o processo ao qual João Campos se refere teve decisão judicial que atestou sua inocência e viu seu pedido de resposta ser negado pela produção do debate. Em outro momento, Marília citou o número de operações da Polícia Federal na Prefeitura do Recife na atual gestão. "Nunca na históra do Recife, a PF visitou tantas vezes a Prefeitura do Recife. A PF não precisa nem de waze mais para chegar na Prefeitura", ironizou.

Justiça e ataques pessoais
A disputa jurídica travada no segundo turno estve bem presente neste último encontro. Marília citou decisão do TRE-PE para retirar propagandas do guia de seu adversário, incluindo as que falavam sobre sua fé e as investigações sobre supostas "rachadinhas" que, segundo ela, já tem decisão da Justiça a absolvendo. Já João Campos disse que tais decisões foram reformadas pelo Pleno do TRE e que as propagandas continuaram sendo veiculadas de forma legítima. Marília disse aos eleitores para procurar nas suas redes as provas de que estava falando a verdade.

Outro momento de embate no campo pessoal foi uma declaração de João Campos que reclamou que a sua adversária estaria usando sua idade para questionar sua capacidade de gerir uma cidade. "O preconceito que vocês viram ao longo dessa semana foi com a minha juventude. Qual o problema de ser jovem? problema mesmo é com quem não tem humildade para ouvir", alfinetou João. "Eu  não tenho preconceito com a juventude, mas ele me lembra muito Geraldo Julio, no jeito de falar e prometer e, ainda assim, deixou a cidade do jeito que está", rebateu Marília. João Campos se referiu à fala de Marília de que quando entrou na vida pública, João "ainda estava na escola". João questionou qual o mal de estar na escola e rebateu as críticas à sua juventude.

Por Juliano Muta

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