Deputados acreditam que conseguem derrubar PL das fake news em caso de aprovação no Senado. Votação na Câmara, entretanto, pode ser apertada. Deputados ligados às redes, como Sargento Fahur (PSD-PR), são os mais críticos
O Senado nem aprovou o Projeto de Lei 2.630/2020, apelidado de PL das fake news, mas a pauta já reverbera na Câmara. Tal como entre os senadores, o clima entre deputados é pela rejeição da matéria. Repercutiu mal o substitutivo do senador Ângelo Coronel (PSD-BA), que enxergam na medida uma censura para as liberdades individuais.
A pressão é tanta na Câmara que alguns deputados se articulam para convencer correligionários no Senado sensíveis ao voto favorável à pauta. Caso a matéria seja aprovada pelos senadores, apesar do sentimento favorável pela derrubada, deputados calculam que não será por uma grande diferença de votos.
Pouco a pouco, deputados fazem cálculos sobre o potencial de votos favoráveis pela aprovação do PL 2.630/2020. Estimam que, assim como no Senado, os cerca de 150 deputados da oposição votarão favoravelmente à matéria. Junto com eles, alguns deputados do centro também podem vir a sinalizar apoio.
O Centrão, que é maioria na Câmara, deve votar contra a matéria. Alguns deputados mais pessimistas, entretanto, acreditam que, para essa pauta, alguns deputados de partidos periféricos ao Blocão podem votar a favor do PL das fake news. “Tem a galera que não está com o Arthur [Lira, líder do Centrão] e tem a esquerda, que vai votar a favor”, pondera um parlamentar. “Muitas dessas pessoas sofreram fake news, então, os partidos não conseguem unanimidade”, diz outro.
Estratégia
Uma ala próxima do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trabalha para convencê-lo da alteração do texto, em caso de aprovação no Senado. Seria uma opção para mitigar as críticas sobretudo dos deputados bolsonaristas. “Se esse texto for votado como está, vai dar à base do Bolsonaro a narrativa que eles querem, de que queremos calar o povo. É tudo que eles querem, seria burrice votar o texto como está”, declara um deputado.
Os deputados mais ligados às redes sociais planejam um contra-ataque à matéria. A estratégia é lembrar que boa parte da atual Câmara foi eleita com uma ampla campanha nas redes. E ressaltar os pontos negativos do projeto. O deputado federal Sargento Fahur (PSD-PR), um dos mais influentes nas redes, é um dos que vai se posiconar abertamente contra o PL das fake news.
A redação atual do texto é arbitrária e propõe o cerceamento de liberdades individuais, critica Fahur. “É uma forma de cercear a liberdade de expressão, e isso é uma opinião pessoal minha com ascensão de uma direita que prega valores, família, patriotismo, então, querem cercear as vozes dessa direita através desse mecanismo. Um deles é o inquérito das fake news”, critica o deputado.
Regulamentação
O texto propõe a identificação dos usuários e titulares das contas de redes sociais “no caso de fundada dúvida ou ainda nos casos de ordem judicial” e a limitação no uso de contas por um mesmo usuário. Também impõe o armazenamento por três meses sobre os registros de encaminhamentos de mensagens pelos usuários e até mesmo a instituição do serviço de moderação em redes sociais.
As redes precisam de regulamentação, reconhece Fahur, mas não por meio de um projeto com regras dúbias e pouco taxativas quanto às fake news, de fato. Uma coisa é uma crítica a alguém, outra é uma acusação mentirosa e criminosa. “Precisa de regulamentação, mas não a mão pesada do Estado. Com o advento das redes sociais, podemos opinar, mostrar nossa insatisfação. Agora, estão querendo cercear? Inadmissível, dessa maneira, não progride na Câmara”, diz.
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