Covid-19 provoca colapso
Com uma curva ascendente na mortandade pelo coronavírus, sendo o terceiro no ranking nacional, abaixo apenas de São Paulo e Rio, Pernambuco entrou em estado de alerta, com o colapso do sistema de saúde pública, conforme atestaram, ontem, em segredo, médicos que estão dando o sangue, suor e colocando em risco a própria vida no enfrentamento ao mal do século no Estado.
O secretário de Saúde, André Longo, tem evitado a palavra “colapso” por entender que a abertura de vagas no sistema está ocorrendo diariamente. Em nota, o Governo do Estado informou que a dinâmica de disponibilização de vagas pela central de regulação de leitos para internamento de casos de Covid-19 é extremamente dinâmica. “Todo dia entram dezenas de pacientes e outras dezenas saem transferidos para hospitais de referência”, diz o comunicado.
Um médico que atua na rede pública estadual não quis se identificar, mas disse à Folha de São Paulo que o sistema já está em colapso. Segundo ele, quando o Governo fala em 97% de ocupação, refere-se às vagas de UTI que estão com paciente no momento, e que entre a vaga ficar livre e um paciente ocupá-la há um "delay". Ele diz ainda que, como os pacientes ficam nas UPAs, policlínicas e em outros hospitais, há um tempo entre liberação da vaga e o paciente ser transferido da unidade para o leito de UTI.
Informações da central de regulação de leitos do Estado, entretanto, apontam que até ontem havia 186 pacientes em estado grave aguardando por uma vaga de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A Folha de SP teve acesso ao painel de monitoramento de vagas, ferramenta utilizada pela SES-PE (Secretaria Estadual de Saúde) para fazer o controle de encaminhamento dos doentes que lotam UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e emergências de hospitais públicos com suspeita de terem contraído o novo coronavírus.
Às 9h18 de ontem havia uma fila com 184 solicitações de UTI para adultos e duas para crianças. Outras 116 pessoas aguardavam encaminhamento para leitos de enfermaria. A Secretaria de Saúde informou que a taxa de ocupação de UTI era de 97% de um total de 364 leitos. O médico ouvido pelo repórter da Folha afirmou que, antes da pandemia, o serviço que faz transporte dos pacientes para UTI demorava em média 12 horas pra ir pegar o paciente e levá-lo até o leito disponível, e que hoje, o tempo para esse transporte ser realizado varia entre 24 horas e 36 horas.
O quadro é dramático. Não dá para entender que Pernambuco caminha rapidamente para 600 mortes enquanto a Bahia, que tem 5,5 milhões de habitantes a mais, registre menos de 100 mortes. Alguma coisa está errada. O Governo, impotente frente ao desastre na saúde, não tem convencido nas explicações para o Estado ter, proporcionalmente, mais mortes do que o Estado de São Paulo.
por Magno Martins
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