Faz mais de 60 mil mortos no mundo
A cifra de mortos pelo novo coronavírus superou neste sábado (4) 60.000 em todo o mundo, cerca de três quartos só na Europa, números que motivam apelos para o uso generalizado de máscaras cirúrgicas para conter os contágios.
Com um total de 46.033 mortos e 627.203 casos oficialmente declarados, a Europa é o continente mais afetado pela pandemia, segundo balanço mais recente da AFP, feito a partir de fontes oficiais divulgadas no sábado (4) às 18h GMT (15h de Brasília).
Um menino de cinco anos está entre as vítimas mais recentes na Grã-Bretanha, reforçando que a COVID-19 não afeta exclusivamente os idosos.
A Itália, com 15.362 mortos, e a Espanha (11.744) são os países mais afetados, seguidos de França (7.560) e Reino Unido (4.313).
Alguns dados, no entanto, oferecem um alento na Espanha e na Itália, os dois países mais afetados pela morbidade e a letalidade da doença em todo o velho continente.
Em ambos registrou-se uma queda nas novas internações. A Itália informou, ainda, pela primeira vez desde o início da crise, uma queda no número de pacientes em unidades de cuidados intensivos.
Se as saídas de pacientes curados se mantiver, os sistemas sanitários poderão gradativamente absorver uma situação crítica, que até o momento pôs em xeque as autoridades.
O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou que o estrito confinamento, que já dura três semanas, será mantido até 25 de abril. Dentro de uma semana, os milhões de trabalhadores que não são de atividades vitais poderão voltar ao trabalho, com condições.
“Estas três semanas de isolamento coletivo estão dando frutos”, afirmou Sánchez, destacando que as medidas permitiram “deter a propagação do vírus” e “conter a avalanche (de casos) nos hospitais”.
A Espanha registrou 809 mortos em um dia no sábado, seu menor número na semana. Até agora, mais de 11.700 pessoas perderam a vida no país pela COVID-19.
Na Itália (14.681 mortos), as autoridades informaram avanços similares, particularmente na região da Lombardia, a mais afetada, onde até o crematório de Milão precisou anunciar seu fechamento durante um mês para poder incinerar todos os corpos à espera.
Os mortos nas últimas 24 horas na Itália foram 681, um declínio de mais de 10%. Os pacientes em cuidados intensivos diminuíram para menos de 4.000 pela primeira vez desde o início da crise.
O Irã também anunciou uma redução do contágio pelo quarto dia consecutivo, após quinze dias de paralisação forçada das atividades.
O Reino Unido, com 708 óbitos nas últimas 24 horas, está, ao contrário, no olho do furacão.
Londres reportou dois dias de recordes consecutivos no número de mortos, que já superam os 4.300.
Dos 60.457 falecimentos contabilizados pela AFP neste sábado, um terço ocorreu na Europa.
O estado de Nova York teve seu pior dia: 630 mortos em um dia. A Turquia superou os 500 mortos e os jovens menores de 20 anos estão proibidos de sair como forma de limitar o contágio.
Fora dos hospitais, dramas humanos também ocorrem em lares geriátricos e outras instalações de saúde. A França começou, assim, a reportar esta semana os óbitos nestes centros não hospitalares. Desde o início da crise, 2.028 vidas humanas foram perdidas.
As máscaras na berlinda
A pandemia teve início há quase três meses na China e agora afeta 188 países e territórios, até mesmo as ilhas Malvinas, que reportaram seu primeiro caso.
Durante décadas, imagens de pessoas usando máscaras cirúrgicas nas ruas de países asiáticos era comum para combater, por exemplo, a propagação de uma simples gripe. Agora, a discussão é se o restante da população do planeta deve seguir o exemplo.
O governo americano recomendou nesta sexta-feira o uso de máscaras como parte do leque de medidas para combater o contágio, junto com o distanciamento social e a higienização constante das mãos.
A França já encomendou quase 2 bilhões de máscaras da China.
“Ocorreu uma verdadeira inflexão nos Estados Unidos e a OMS está revisando suas recomendações”, disse à AFP o professor KK Cheng, especialista em saúde pública da Universidade de Birmingham (Reino Unido), defensor do uso generalizado das máscaras.
“Não há evidências de que usar uma máscara se estamos bem possa afetar a propagação da doença. O que importa é a distância” entre as pessoas, destacou, no entanto, um alto funcionário sanitário britânico, Jonathan Van-Tam.
Mas no caso das máscaras, como dos ventiladores e muitos outros equipamentos médicos ou remédios, os países travam uma corrida contra o tempo.
A competição é impiedosa em um mundo onde as fronteiras voltaram a ser levantadas com extrema rapidez.
A Suécia informou neste sábado que um carregamento de máscaras, que comprou para ajudar Itália e Espanha, foi finalmente liberado para a França.
As autoridades francesas tinham requisitado o material há um mês por causa da emergência nacional.
E os países pobres só podem assistir, impotentes, a essa competição brutal, travada inclusive nas portas das fábricas.
A Etiópia conta com apenas 29 casos de coronavírus até o momento. Mas seus hospitais só têm 450 ventiladores para uma população de mais de cem milhões de habitantes.
Em países como a Itália “faltam ventiladores artificiais e têm que decidir a quem vão dar prioridade. Se isto continuar assim, se as pessoas não levarem isto a sério, nós também nos veremos na mesma situação, provavelmente”, declarou a doutora Tihitina Negesse.
Outros países apostam em saídas muito mais radicais.
A República Democrática do Congo, que viveu uma devastação com o ebola durante anos, está disposta a receber os testes de uma futura vacina para a COVID-19.
“A vacina será produzida ou nos Estados Unidos ou no Canadá ou na China. Nós nos apresentamos como candidatos para que os testes sejam feitos aqui”, declarou o encarregado no país do combate à pandemia, Jean-Jacques Muyembe.
O impacto socioeconômico desta nova pandemia continua se manifestando por toda parte. O banco central da Guatemala informou que as remessas enviadas pelos emigrantes dos Estados Unidos começaram a diminuir e que só aumentaram 8,3% no primeiro trimestre do ano.
Os Estados Unidos perderam mais de 700.000 postos de trabalho em março e estas cifras são parciais apenas. E uma refinaria equatoriana suspendeu suas operações por 14 dias.
Aplausos para os sobreviventes
Enquanto a vacina não chega e os líderes políticos brigam pelo abastecimento de equipamentos ou fecham fronteiras, médicos e enfermeiras no terreno, que lutam diariamente contra o coronavírus, se organizam.
“A princípio nos davam luvas (para colocá-las sobrepostas), agora dizem que duas são suficientes, mas eu coloco três”, explica uma enfermeira no hospital de campanha montado em um pavilhão de congressos nos arredores de Madri.
Neste local, os pacientes que conseguem voltar para casa depois de curados continuam sendo aplaudidos.
“Tenho visto sofrimento. É o sofrimento da doença e da incerteza; te enfraquece psicologicamente saber que as pessoas morrem e que é real e não a série de ficção científica que se assiste na TV”, explica Eduardo López, após receber a autorização para voltar para casa.
A China, por sua vez, homenageou suas vítimas (oficialmente 3.326 mortos) com três minutos de silêncio e emoção.
“Sinto muito pesar por nossos colegas e pacientes que morreram. Espero que possam descansar bem no céu”, disse à AFP, segurando as lágrimas, Xu, enfermeira de Wuhan, cidade onde a pandemia surgiu e que começa a emergir da drástica quarentena de mais de dois meses.
Por AFP
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