Estudo: triagem em aeroportos não funciona para conter coronavírus
Passageiros vindos da China passam por triagem em aeroporto na Arábia Saudita Foto: AHMED YOSRI / REUTERS
Procedimento deixa passar entre 50% e 75% dos passageiros infectados; Brasil adota protocolo específico.
Na tentativa de conter o avanço do novo coronavírus, aeroportos de diversos países adotaram um sistema de triagem dos passageiros que vêm, especialmente, da China. Pois um estudo publicado esta semana indica que essas triagens, na maior parte das vezes, simplesmente não funcionam.
O estudo feito por pesquisadores da Universidade de Chicago (EUA), Universidade da California (EUA), Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (Reino Unido) e Instituto Nacional de Saúde (EUA) indica que a eficácia da triagem de viajantes deixaria passar de 50% a 75% dos casos infectados. A base do estudo foram patógenos que surgiram no passado.
O modelo principal de triagem pressupõe que os viajantes infectados possam ser identificados devido à presença de sintomas detectáveis, como febre ou tosse, ou por um relato próprio de sua exposição ao vírus, em questionários ou entrevistas.
“Mesmo sob as melhores hipóteses, estimamos que a triagem deve perder cerca de metade dos viajantes infectados. Avaliando os fatores que levam aos erros e acertos das triagens, descobrimos que a maioria dos casos perdidos pela triagem é fundamentalmente indetectável, porque as pessoas ainda não desenvolveram sintomas e não sabem que foram expostas”, dizem os autores na apresentação do estudo, publicado no site de pesquisas de Ciências da Saúde medRxiv.
Segundo os pesquisadores, já é “amplamente reconhecido” que as medidas de triagem são barreiras imperfeitas à propagação de vírus. Um dos principais motivos seria a ausência de sintomas detectáveis durante o período de incubação das doenças, assim como variados níveis de gravidade e detectabilidade dos sintomas quando a doença começa a avançar. Há também outros problemas, como o mau desempenho do equipamento e erros humanos das equipes responsáveis. Finalmente, há o risco de passageiros tentarem driblar o processo.
No novo surto do coronavírus, a triagem de partida e de chegada foi proposta e implementada em alguns países. Também foi aplicada em outros contextos, inclusive nas verificações de estrada nas principais rotas de Wuhan, cidade chinesa considerada epicentro da epidemia.
Para os autores, a pesquisa é um alerta para que haja acompanhamento dos viajantes após a chegada e também para que os procedimentos de combate à doença se baseiem na ciência:
“Essas descobertas reforçam a necessidade de medidas para rastrear viajantes que fiquem doentes depois de passar pela triagem. Esperamos que essas descobertas contribuam para uma política baseada em evidências para combater a disseminação do novo coronavírus e para prospectar planos para mitigar futuros patógenos emergentes.”
Brasil não faz triagem
O Brasil não está realizando procedimentos de triagem nos aeroportos ou portos por conta do novo coronavírus. Até o momento, as principais ações da agência têm sido os sinais sonoros em aeroportos, com diretrizes gerais de higiene (como lavar constantemente as mãos e procurar um médico em caso de manifestação de sintomas) e acompanhamento de embarcações e aeronaves que chegam ao país.
— Todas as vezes que temos situações com transmissão respiratória ou em que febre seja um sintoma importante, essa discussão vem à tona. Muitas evidências científicas mostram que a medição de temperatura na entrada do aeroporto é uma ação inócua, não tem impacto algum — disse o Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira.
Por isso, segundo o secretário, o protocolo brasileiro segue orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e trabalha com a preparação do sistema de saúde para diagnosticar a doença no momento em que o paciente procure atendimento médico.
— A Anvisa está realizando uma série de ações para orientação de passageiros que chegam ao Brasil de como agir diante de sintomas. Estamos trabalhando com comunicação e orientação, mas também evitando medidas que não vão gerar efeito e teriam custo elevado — afirma Oliveira.
O Globo
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