Às vésperas de conferência do clima da ONU, Bolsonaro publica pacote ambiental
Jair Bolsonaro, presidente do BrasilFoto: Flickr/Palacio do Planalto
Em menos de um ano, o governo enfrentou diversas crises ambientais que arranharam a imagem do país internacionalmente
Em menos de um ano, o governo enfrentou diversas crises ambientais que arranharam a imagem do país internacionalmente: queimadas na Amazônia em agosto, vazamento de óleo no litoral brasileiro no mês seguinte e aumento do desmatamento na Amazônia, divulgado em novembro, para citar alguns.
Os eventos tiveram consequências: a Alemanha, por exemplo, suspendeu as verbas para projetos de proteção à Amazônia enviados ao Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente alemão. A embaixada diz que a decisão "reflete a grande preocupação com o aumento do desmatamento na Amazônia brasileira".
Ao mesmo tempo, o discurso do governo só inflamava as crises. Em reação à resposta da Alemanha, Bolsonaro mandou a chanceler alemã, Angela Merkel, pegar o dinheiro e reflorestar o país europeu. Os decretos publicados nesta sexta (29) parecem tentar apagar esse incêndio perante o mundo.
O decreto que trata de desmatamento ilegal fala em "propor planos e diretrizes e articular e integrar ações estratégicas para prevenção e controle do desmatamento ilegal e recuperação da vegetação nativa nos biomas". Também fala em coordenar e monitorar a implementação dos planos contra desmate, como o Ppcdam (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal).
Em entrevista na terça (26), à Folha de S.Paulo e ao UOL, Salles explicitou objetivos modestos para o combate ao desmatamento. O ministro disso que se em 2020 o país atingir um aumento anual do desmatamento inferior a 29,5%, como o recorde constatado entre agosto de 2018 e julho de 2019, "será uma conquista".
Um dos decretos reconstitui uma comissão destinada a tratar de REDD + (Redução das Emissões de gases provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal), um mecanismo que pode auxiliar o país a atrair verbas estrangeiras.
A comissão em questão foi extinta por Bolsonaro em decreto de abril que deu fim a inúmeros conselhos, entre eles os dos Fundo Amazônia –fundo bilionário para preservação da floresta que permanece paralisado– e os que compunham o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), usado para tentar controlar o óleo que atinge o Nordeste e parte do Sudeste desde o fim de agosto.
Segundo Natalie Unterstell, diretora da Talanoa Soluções, organização que trabalha com política de clima, a existência da comissão é necessária para que o governo possa acessar dinheiro estrangeiro relacionado a REDD+.
Unterstell diz que o decreto retira amarras que existiam anteriormente e pode levar estados brasileiros a comercializar seus créditos de carbono. Os estados que reduzirem emissões poderiam vender créditos para países ou estados em outros países que poluem.
Mesmo assim, os decretos não chegam a animar os especialistas consultados pela reportagem. "É para inglês ver", diz a Unterstell. "Temos baixa confiança e não temos equipes destacadas para execução do que está nos decretos. Fica parecendo uma boa proposta mas que não é para valer."
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, também diz acreditar que os decretos são uma forma de amenizar a imagem ruim no exterior. "Se as medidas fossem sérias, eficientes e houvesse compromisso do governo no combate ao desmatamento e na promoção do desenvolvimento sustentável, o presidente já teria parado de falar bobagens", diz.
Bolsonaro, na quinta (28), voltou a acusar, sem provas, ONGs pelos incêndios na Amazônia. Nesta sexta, chegou a dizer que o ator Leonardo DiCaprio deu "dinheiro para tacar fogo na Amazônia".
Também há críticas quando à nova composição da comissão de REDD+, que, segundo os especialistas, deixa de fora a sociedade civil. O decreto chega a destinar um assento para a sociedade civil e a direciona para o secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. Tanto Unterstell quanto Rittl afirmam que tal direcionamento não é condizente com toda a sociedade civil organizada.
Folhapress
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