Após chuva, área norte do Grande Recife tenta se reerguer dos estragos
Família do casal de idosos mortos no Passarinho, Recife, deu seu último adeus a eles nesta quinta (25) - Diogo Cavalcante/DP
O rastro de destruição deixado pela forte chuva que caiu na Região Metropolitana do Recife, na madrugada de terça-feira (23) para quarta (24) continua intenso na área norte da região. Na capital, os parentes do casal de idosos soterrado no bairro do Passarinho se despediu deles na tarde desta quinta (25). Os quatro mortos da mesma família - incluindo uma grávida de oito meses - que foram vitimados pelo deslizamento em Abreu e Lima foram levados para Camocim de São Félix, no Agreste, onde serão sepultados. E em Igarassu, 242 pessoas seguem desabrigadas.
Algumas comunidades da zona rural de Igarassu ainda estão com o acesso interrompido. A prefeitura decretou situação de emergência e criou uma força-tarefa, com apoio de todas as secretarias, para atenuar os danos. Cinco escolas municipais viraram ponto de abrigo para inúmeras famílias que não tem para onde ir. “Hoje algumas pessoas conseguiram voltar para suas casas, mas muitos a gente realmente não conseguiu nem encaminhar para a casa de parentes ou amigos”, conta a secretária-executiva de Desenvolvimento Social e Habitação da cidade, Edjane Santana.
Foram registrados 13 pontos de deslizamento em Igarassu, mas diferentemente de Olinda, Recife e Abreu e Lima, não houve vítimas. O bairro mais afetado foi o de Ana de Albuquerque. “A equipe da Defesa Civil está voltando, aos poucos, aos territórios, para ver se há a possibilidade das famílias voltarem. As casas condenadas serão demolidas porque não podemos deixar a possibilidade dessas pessoas voltarem a se expor ao perigo”, disse.
Desabrigados em Olinda
Olinda foi cenário de quatro mortes, ocorridas nos bairros de Águas Compridas e no Passarinho. Os trabalhos de monitoramento da Defesa Civil continuam e a expectativa é que eles avancem, tão logo o solo seque. 191 pessoas aguardam, nos dois abrigos da prefeitura, o momento de poder retomar suas vidas.
“Montamos outros dois abrigos, na Escola Vereador José Mendes e na Igreja Metodista do Alto da Bondade, mas ninguém precisou ir para esses cantos”, explica o secretário olindense de Desenvolvimento Social, Odin Neves. “A área de Rio Doce foi a que mais sofreu com alagamentos”, acrescenta.
Outras cidades
Em Abreu e Lima, apesar do trágico deslizamento de barreira ocorrido em Caetés I, não há desabrigados, segundo o coordenador de Defesa Civil José Lopes. “Temos dois abrigos à disposição, o maior deles fica no SESI do Alto São Miguel. Mas todas as famílias que moram em área de risco preferiram ir para casas de parentes”, comenta.
Todos os bairros abreu-limenses foram afetados, de um jeito ou de outro: “São sequelas que estamos procurando corrigir. Graças a Deus, a chuva deu uma trégua. Estamos, de certa forma, procurando trazer de volta a normalidade”.
Recolhendo cacos
Até às 22h desta quinta, nove corpos tinham sido liberados pelo Instituto de Medicina Legal: Josafá Barbosa da Silva, 34 anos, morto em Dois Unidos, Recife; Adalmir Ferreira dos Santos, 53, Maria Eduarda da Silva, 21, Mariana Xavier da Silva, 18, Luís Henrique da Silva, 15, e Silvano da Silva, 49, atingidos pela barreira em Abreu e Lima; além dos idosos Ivonete Maria da Silva, 63, e Natalício Vicente da Silva, 69, mortos no Passarinho.
Ivonete e Natalício foram enterrados à tarde, após um velório que contou com a presença do arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. “Era um casal católico. Estivemos aqui para trazer a palavra de Deus. Falamos também sobre essa situação dolorosa em tantos morros. Esses acontecimentos devem levar a um questionamento muito sério. (Os governantes) precisam priorizar projetos que beneficiem os mais pobres”, afirmou o clérigo.
Irmão de Ivonete, o ambulante Adeildo Guilherme da Silva, 60, fez um apelo: “Tá faltnando responsabilidade dos governantes. Toda vez que chove é isso. Não tem volta mais”.
A Secretaria de Defesa Social, órgão superior do IML, contabiliza a morte de um homem chamado Gilmar Alves da Silva, mas até a publicação desta reportagem, não conseguimos informações sobre quem ele era - nos relatórios oficiais do Corpo de Bombeiros não há menção a este nome.
DP
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