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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

VIOLÊNCIA NO FUTEBOL

Combate à intolerância no futebol deve começar nos clubes

Tolerância nos esportesFoto: Ilustração: Lehi Henri


Nos últimos 30 anos, Brasil registrou mais de 300 mortes ligadas à violência no esporte, sobretudo o futebol

A associação “Brasil + futebol” sempre rendeu rótulos elogiosos e citações sobre craques como Pelé ou das conquistas da seleção mais vencedora da história das Copas. Mas, nas últimas décadas, a alegria do futebol precisou dividir espaço com duras constatações. A nação verde-amarela também está no topo do ranking de mortes envolvendo torcidas organizadas, além de colecionar inúmeros casos de machismoLGBTfobia, entre outros tipos de preconceito. Uma intolerância crescente que afasta torcedores dos estádios e provoca atos de violência que em nada representam o espírito de união do esporte. 

O último relatório do Observatório Anual da Discriminação Racial do Futebol, divulgado ano passado, apontou que os registros de racismo mais do que dobraram de 2014 (20) para 2017 (43). Casos de LGBTfobia (10) e machismo (5) também foram identificados. A intolerância fica ainda mais latente ao ser analisada a quantidade de mortes ligadas à violência no esporte. Nos últimos 30 anos, o Brasil registrou mais de 300 - neste ano foram 13. Muitas delas envolvendo brigas de organizadas rivais.

Na visão do doutor em sociologia dos esportes e autor do livro “Para entender a violência no futebol”, Maurício Murad, alguns 'gatilhos' influenciam o problema. "O álcool é um fator potencializador. As drogas também, especialmente a maconha e a cocaína, que ajudam a turbinar os confrontos entre as gangues de delinquentes infiltradas nas torcidas organizadas", indicou. 

Ainda de acordo com o sociólogo, os clubes têm papel fundamental na luta contra a intolerância no futebol. "É necessário realizar ações de conscientização, combatendo à intransigência. Defendo há anos o disque-denúncia das torcidas organizadas, neutralizando o vandalismo. Igualmente importantes são as campanhas de ingressos mais baratos para famílias. A presença de mulheresidosos crianças valoriza a cultura de inclusão tolerância", completou.

Entre os torcedores, o discurso é baseado no maior rigor para os infratores. "Iremos diminuir a violência com o aumento de policiais e com penas mais severas", citou Paulo Henrique Vasquez, estudante de medicina."O uso da tecnologia dentro dos estádios pode facilitar na identificação dos brigões", disse o administrador Rafael Violante. "Precisamos transformar os eventos em ambientes familiares, com torcida mista para que amigos ou parentes fiquem juntos", opinou Guilherme Toscano, professor de educação física. 

Folha de Pernambuco também ouviu os presidentes dos três principais clubes da Capital para saber quais medidas podem ser tomadas para reprimir o crescimento da intolerância no estado. "Vamos organizar algumas palestras para conscientizar o torcedor sobre como agir no estádio. Também criamos a primeira diretoria feminina, produzindo uma camisa especial em alusão à campanha do 'outubro rosa', de combate ao câncer de mama. Não cultivamos qualquer tipo de preconceito”, afirmou o presidente alvirrubro, Edno Melo, negando ainda que o Timbu mantenha relações com suas organizadas.

O último grande caso de violência ligado ao Náutico foi em 2013, quando o torcedor Lucas Lyra levou um tiro disparado por um controlador de tráfego que fazia a escolta de um ônibus com integrantes da organizada do Sport. Na confusão entre torcedores do Timbu e do Leão, o jovem, hoje com 23 anos, foi baleado na cabeça e passou mais de três anos no hospital.

O presidente do Sport, Milton Bivar, foi enfático. “É necessário focar no rigor da lei”. Neste ano, a Torcida Jovem pagou mais de R$ 320 mil ao clube por danos morais (imagem vinculada à violência) e materiais causados em 2015, após confronto com torcedores do Coritiba. A confusão custou ao Leão a perda de dois mandos de campo. Há alguns meses, novo caso de violência: a organizada rubro-negra e do Ceará se enfrentaram nas imediações dos Aflitos, após jogo entre os clubes pela Série A. Ele destaca que é preciso tratar bem as torcidas não-violentas, como a Treme Terra, que sempre animou os jogos do Sport com músicas.

"Não podemos dizer que quem tem camisa de organizada é bandido. Precisamos encontrar as pessoas erradas que estão no meio das torcidas. Gostaria de ter condições de botar câmeras no estádio e ter um cadastramento biométrico para identificar cada torcedor", declarou Constantino Júnior, presidente do Santa Cruz. O atual mandatário, inclusive, é ex-diretor da organizada Inferno Coral.

O Arruda já foi palco de uma grande tragédia em maio de 2015. O torcedor do Sport Paulo Ricardo Gomes da Silva foi morto após três torcedores do Santa Cruz atirarem um vaso sanitário da arquibancada do Arruda. Waldir Pessoa Firmo Júnior, Luiz Cabral de Araújo Neto e Everton Filipe Santiago Santana foram condenados pelo crime.



FolhaPE

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