Títulos de eleitor cancelados podem mudar eleição
Reduto eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT), a região Nordeste foi a que teve o maior número de títulos eleitorais cancelados por falta de cadastramento no sistema de biometria. Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) cancelou 3.368.447 de títulos eleitorais, em 1.248 municípios, sendo 45% (1.515.801 eleitores) nos estados da região. O total de eleitores que não poderão votar no pleito de outubro é semelhante a diferença de votos que determinou o resultado da eleição presidencial de 2014: 3.459.963. O impacto deste cancelamento na eleição gerou debate entre especialistas.
Segundo pesquisa Ibope, divulgada na última segunda-feira, a região concentra eleitorado favorável ao ex-prefeito Fernando Haddad, com 34% das intenções de votos, e ao ex-governador Ciro Gomes (PDT), com 18%. Contudo, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) tem 17% das preferências. A ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) possuem 5%, cada.
A cientista política Priscila Lapa, da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), avaliou que, como o Nordeste tem um peso decisivo e o cenário eleitoral está acirrado, pode haver interferência no resultado eleitoral. “Pode ter interferência, se for muito apertado, visto que há (na região) inclinação por (Fernando) Haddad”, disse ela. “Se esses 3,3 milhões estivessem diluídos (por outras regiões), mas o fato de estar concentrado (metade numa região) pode interferir”, acrescentou.
O cientista político Guilherme Reis, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), seguiu a mesma linha defendida por Priscila. Segundo o politólogo, apesar de pequena, há, sim, chances de impactar no resultado da eleição. “A unidade do voto não pesa, mas o volume agregado dos votos destes candidatos na região, sim. Numa eleição muito acirrada, provavelmente terá influência, vide a eleição passada”, analisou.
Na última eleição presidencial, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi eleita com 54.501.118 votos contra 51.041.115 obtidos pelo senador Aécio Neves (PSDB). A diferença de sufrágio foi de 3.459.963. Entretanto, não pode-se desprezar o alto índice de abstenções do pleito, que foi de 30.137.479 pessoas.
O cientista político Leon Victor Queiroz, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), por sua vez, ponderou que não é possível aferir o impacto porque não há dados abertos relativos ao quantitativo de títulos de pessoas que já morreram ou daquelas que costumeiramente já não votam e, portanto, não se preocupam em fazer biometria. “Não se sabe quanto eleitores são de Haddad ou de Bolsonaro”, destacou Queiroz.
A parte a questão eleitoral, Reis criticou a postura do Poder Judiciário, que estaria dificultando o exercício do direito dos brasileiros às vésperas da eleição. Segundo ele, o cidadão não pode correr o risco de não conseguir votar. “É uma violação dos direitos fundamentais dos brasileiros”, afirmou.
Já Priscila Lapa frisou que a decisão da Justiça Eleitoral chama a atenção e levanta dúvidas sobre o processo pelo fato de a biometria não funcionar em 100% dos municípios. Entre 2016 e 2018, o cadastro biométrico foi obrigatório para cidadãos de 2.793 municípios. O total de eleitores com biometria soma 87.363.098 de pessoas – 59,31% do eleitorado brasileiro.
Blog da Folha
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