Há 1 ano no comando do PT, Gleisi tenta conter levante
Senadora está sob ataque de colegas que querem acelerar as discussões sobre a candidatura
"Eles não percebem que tudo é combinado diretamente com o Lula?”, desabafou Gleisi Hoffmann, há pouco mais de duas semanas, em conversa com um aliado.
Sob ataque de colegas que querem acelerar as discussões sobre a substituição da candidatura do ex-presidente, a senadora paranaense tenta conter um levante às vésperas de seu primeiro aniversário no comando nacional do PT.
O vigor com que Gleisi defende a manutenção do nome de Lula na corrida presidencial rendeu um embate com governadores petistas. Os líderes locais querem que o PT negocie apoio ao candidato de outro partido ou aponte de uma vez o nome que será lançado na disputa no lugar do ex-presidente preso. A presidente do PT desautorizou essas cobranças em mais de uma ocasião. “Os governadores têm uma preocupação natural, mas o PT só tem a perder se substituir Lula ou apoiar outro candidato agora”, disse Gleisi à Folha. “Teríamos uma dispersão da base e uma crise sem precedentes, porque hoje não temos um nome com capacidade de unificar o partido.”
A senadora completará um ano à frente do partido no dia 3 de junho, na fase mais dramática da história da sigla e de sua própria vida política.
Além das questões internas, Gleisi prepara sua defesa na Lava Jato e refaz cálculos eleitorais.
Antes considerada um nome improvável para dirigir o PT, a senadora se alimenta da força de Lula. Faz visitas à sede da Polícia Federal em Curitiba, às quintas-feiras, e deixa claro aos petistas que suas decisões são tomadas em acordo com o ex-presidente.
Antes considerada um nome improvável para dirigir o PT, a senadora se alimenta da força de Lula. Faz visitas à sede da Polícia Federal em Curitiba, às quintas-feiras, e deixa claro aos petistas que suas decisões são tomadas em acordo com o ex-presidente.
“Nem tudo é discutido com o [ex-]presidente, mas a tática eleitoral e a estratégia política são conversadas com ele e com a direção partidária. Não é da minha cabeça. Não sou iluminada, assim”, ironizou.
Lula confiou a Gleisi a função de porta-voz ao ser preso, em abril, por acreditava que a senadora seria capaz de fazer enfrentamentos e levar ao limite a tarefa de manter vivo o projeto de sua candidatura.
O plano vem sendo seguido ao custo de conflitos. A ausência de uma figura conciliadora como Lula obrigou a senadora a adotar um pulso firme que contrariou alguns colegas.
O plano vem sendo seguido ao custo de conflitos. A ausência de uma figura conciliadora como Lula obrigou a senadora a adotar um pulso firme que contrariou alguns colegas.
A rebelião dos governadores do PT, nas últimas semanas, foi o auge da tensão. Eles desviaram da linha definida por Gleisi. Sugeriram que o partido desistisse de Lula e apoiasse um candidato de outra sigla, como Ciro Gomes (PDT).
No início de maio, a senadora reagiu duramente a uma declaração do ex-governador da Bahia Jaques Wagner sobre a possibilidade de o PT indicar o vice de Ciro. “Ele não sabe que o Ciro não passa no PT nem com reza brava?”, questionou.
Depois, os governadores Rui Costa (Bahia) e Camilo Santana (Ceará) se manifestaram, acirrando a divisão. Lula precisou intervir: alinhou-se a Gleisi e disse que a senadora estava certa ao desestimular discussões sobre um plano B, mas recomendou uma trégua.
Bruno Boghossian – Folha de S.Paulo
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