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domingo, 29 de abril de 2018

ARRUMANDO DINHEIRO

Governo caça dinheiros eleitorais

Ministros próximos de Temer dizem que vai haver surpresas no investimento


Ministros amigos de Michel Temer dizem que o governo vai arrumar dinheiro extra para investimentos sociais e para obras neste ano.

Afirmam que é preciso “criatividade”, tal como no plano de permitir os saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que colocou R$ 44 bilhões no bolso dos trabalhadores em 2017. Provavelmente, foi o que evitou um crescimento do PIB próximo de zero no ano passado.

Como o governo vai “criar” dinheiro?

Um ministro diz que o investimento público vai aumentar, pois há “sobras” do ano passado. Vai haver mais dinheiro para o MCMV (Minha Casa, Minha Vida), por exemplo, inclusive por meio de investimentos adicionais com dinheiro do FGTS. O investimento federal, diz um deles, já teria começado a reagir.

Afirmam que vai haver um bom reajuste para o Bolsa Família. Que já estariam garantidos os empréstimos de bancos estatais para estados e municípios. Que serão, enfim, facilitadas as parcerias público-privadas (PPPs) em municípios, reivindicação velha das construtoras menores.

Quando alguém de governo menciona PPPs, um fracasso no Brasil, em geral imagina-se que o interlocutor é um ingênuo ou que não tem nem um hamster para tirar da cartola. Um ministro retruca que “haverá surpresas” no investimento.

O que há de fato nessas animações planaltinas?

O reajuste do Bolsa Família deve ficar perto de 6% (outro ministro diz “pelo menos 4%”). A equipe econômica não queria nada muito diferente de 3,4%, a inflação acumulada (INPC) desde que passou a vigorar o último reajuste, em julho de 2016.
O benefício médio em março estava em R$ 177,07 (não dá para um casal jantar em restaurante de “classe média”, de ricos, em São Paulo). Com quase 5,7% de reajuste, seriam mais R$ 10 no Bolsa Família, impacto de cerca de R$ 1,7 bilhão na despesa anual do governo.

O investimento federal já está aumentando? Parou de levar talhos a machadadas. Em termos reais, estagnou desde novembro, no caso de PAC e MCMV. No primeiro trimestre, foi um tico maior que a miséria do início de 2017.

O gasto com o MCMV equivale a um sexto do que era sob Dilma Rousseff. O PAC de agora leva por ano 57% do que levava no fim do governo anterior, da “mãe do PAC” (que acabou envenenando o filho).

Um ministro diz que o Orçamento do ano passado deixou “sobras” para 2018. O MCMV recebe cerca de R$ 3,7 bilhões por ano. Segundo o ministro, gastos adicionais do Tesouro e verbas do FGTS podem fazer com que o investimento nesse programa de casas populares mais que dobre.

O Planalto peitou seus economistas e permitiu que Caixa e FGTS emprestem R$ 19 bilhões para estados e municípios. São mais de mil projetos diferentes. Dá pelo menos para alegrar muito cabo eleitoral, embora o dinheiro não saia neste ano, necessariamente.

É evidente a impaciência de ministros planaltinos com a desaceleração do crescimento neste início do ano. Dizem que o governo precisa agir em três frentes: estímulos para que a economia não esfrie, novas iniciativas (“criatividade”, verbas para obras regionais, em suma) e reforçar a ação no Congresso, onde todos os projetos de reforma econômica parecem agora morrer ou atolar, caso do cadastro positivo.

Um ministro diz, enfim, que o governo precisa ser “técnico” e “responsável” com as contas públicas, mas não pode haver “ideologia” contra o investimento “bem pensado”. Sim, é uma cutucada na equipe econômica.

Vinicius Torres Freire – Folha de S.Paulo

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