Com medo da Lava Jato, Senado desafia o STF
Pelo menos por ora, faltou coragem ao Senado para bater de frente com o Supremo Tribunal Federal (STF) que afastou do mandato o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e obrigou-o a recolher-se à sua casa sem poder sair dali todas as noites. Por outro lado, sobrou ousadia temerária para desafiá-lo.
O Senado deixou para a próxima semana a decisão de tentar revogar a decisão da Primeira Turma do STF de punir Aécio, investigado por corrupção no processo a que respondem executivos do Grupo JBS. Aécio recebeu do empresário Joesley Batista R$ 2 milhões em dinheiro vivo.
A esperança do Senado é que até lá o STF dê o dito pelo não dito, evitando assim a colisão de um poder com o outro. Dificilmente o STF recuará. Primeiro porque a decisão da Primeira Turma tem sólida fundamentação jurídica. Segundo porque se o fizesse sairia da contenda desmoralizado.
Aécio não está preso como muito dos seus pares erradamente dizem que está para acirrar os ânimos contra o STF. Recolhimento domiciliar noturno nada tem a ver com prisão. Trata-se de uma medida cautelar prevista no Código de Processo Penal votado e aprovado pelo Congresso em 2011.
No exercício do mandato, a não ser se flagrado cometendo crime continuado, parlamentar só pode ser preso com autorização da maioria dos seus colegas na Câmara dos Deputados ou no Senado. Como não é o caso de Aécio, o Senado nada poderia ou deveria fazer a respeito.
Mas ali, onde 13 dos 81 senadores estão em débito com a Lava Jato, é enorme o medo de que amanhã o Aécio da vez possa ser qualquer outro. Não é mesmo, Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senado? Não é Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Senado?
O senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB, uma espécie de ministro oculto do governo, viu, hoje, a Polícia Federal bater à porta do seu filho Rodrigo e das enteadas Ana Paula Surita Macedo e Luciana Surita Macedo, suspeitos de fazer parte de uma organização criminosa.
A luz vermelha está acesa no Congresso. Vida de político treloso não está fácil. Justamente porque não está, ele pouco tem a perder. Ou cai atirando ou cai sem atirar. Melhor disparar em todas as direções na esperança de estancar a sangria. Que sangre a Justiça, o país ou quem mais quiser.
Blog do Noblat
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