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quarta-feira, 28 de junho de 2017

SITUAÇÕES FABRICADAS

EX-ADVOGADO DA J&F REVELA "ARMADILHA DE JOESLEY" PARA AGRADAR JANOT
ADVOGADO WILLER TOMAZ

WILLER TOMAZ CONTOU COMO EMPRESÁRIO CRIOU SITUAÇÕES PARA VALIDAR SUA VERSÃO

O advogado Willer Tomaz, preso na Operação Patmos, acusa o empresário Joesley Batista, dono do grupo J&F, e Francisco Assis e Silva, diretor do grupo, de criarem uma armadilha para ele e o procurador Ângelo Goulart Villela, também preso, com o intuito de agradar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e conseguir o estranho benefício de perdão total dos crimes cometidos em sua delação. "Me deparei com a absurda armadilha engendrada pelos delatores Joesley e Francisco que, desvirtuando os fatos ocorridos, rifaram a mim e ao procurador Ângelo como moeda de troca para obterem os premiadíssimos benefícios de uma colaboração que jamais será confirmada", diz o advogado. .As informações são da Folha de S.Paulo.

Tomaz, ex-advogado da J&F, escreveu uma carta onde detalha as situações forçadas por Joesley e Assis para criar situações probatórias de uma atuação em conjunto dele e do procurador, sem o consentimento oficial da PGR. Na carta, o advogado explica que usou uma gravação de Mário Celso Lopes, ex-sócio de Joesley e que negociava delação, para pressionar o dono da J&F a fechar acordo, mas que não havia qualquer conteúdo sigiloso no áudio.
"Esse áudio não trata de vazamento de nada sigiloso. Simplesmente demonstra que, se o Joesley não fizesse a delação, seu inimigo iria fazer. O MP usa isso como prática comum quando tem duas pessoas interessadas em delatar. Ele quer a mais forte", disse o advogado.
Na gravação, Lopes, que havia sido preso, negocia com procuradores as provas a serem apresentadas para comprovar as práticas ilícitas do grupo J&F, bem como quais de seus bens seriam desbloqueados após o fechamento do acordo.
Tomaz negou a acusação de repassar R$ 50 mil a Villela a título de pagamento por informações internas da operação Greenfield, mas admite que o procurador entregou pautas de reuniões da equipe do Ministério Público Federal (MPF) a Joesley para comprovar que o ex-sócio e adversário de Joesley estava de fato negociando com o órgão. Segundo ele, documentos sem informações sigilosas.
Na carta, Tomaz relata episódios que confirmariam a suspeita de situações fabricadas para dar impressão de verdade às acusações de Joesley Batista e Francisco Assis e Silva, além de uma informação que lança dúvidas sobre a sucessão de Janot no comando da PGR. Segundo ele, o interesse em comprometer a reputação de Villela começou quando o procurador começou a apoiar Raquel Dodge, opositora de Janot e escolhida na lista tríplice para substituir o PGR em setembro. Dodge ficou em segundo lugar com cerca de 30 votos a menos que o vice-procurador-geral eleitoral Nicolao Dino.
A relação de Tomaz com a J&F começou, segundo ele, em fevereiro, quando foi procurado por Joesley para defender a Eldorado Celulose, investigada na operação Greenfield por irregularidades no uso de recursos do FI-FGTS e na compra de ativos de fundos de pensões. Após assinarem o contrato, Joesley e Assis passaram a se queixar com frequência de perseguição por parte do procurador da República Anselmo Lopes, responsável pela Operação Greenfield. "Diziam estar sendo assediados", afirma o advogado.
Tomaz e os executivos concordaram em iniciar outra tratativa com o MPF, dada a relação do advogado com Villela, que confidenciou a Tomaz ter "interesse pessoal na condução desse acordo, pois, caso fosse exitoso, muito contribuiria para a sua ascensão profissional". Entretanto, Joesley se dizia desconfiado das capacidades de Villela conseguir um acordo vantajoso e as negociações não avançaram como esperado. Foi nessa época, segundo a reportagem, que o procurador mandou Tomaz entregar a gravação das tratativas de delação do "ex-sócio e arqui-inimigo do Joesley", Mário Celso Lopes e, logo depois as pautas das reuniões.
Ao se encontrarem em um hangar, Tomaz começou a mostrar a gravação. "Ele [Joesley] ficou muito surpreso. Logo após ouvir o início, saiu da sala sob a alegação de ir falar com os pilotos para fazerem o plano de voo", descreveu o advogado. "Retornou logo em seguida, tendo ouvido [o áudio] até o final. Ele disse que estaria convencido a dar continuidade [às negociações por uma delação com Villela] e que aquela seria uma prova cabal da 'força' do dr. Ângelo", disse. Sem que Tomaz soubesse, o encontro foi gravado e enviado à PGR como prova de Joesley da "obstrução de justiça".
Sem avanço nas tratativas, Villela voltou a procurar Tomaz para alertá-lo de que a Greenfield "avançava e que a demora e indefinição dos clientes não iria suspender os trabalhos do MPF. Para demonstrar o avanço, ele me enviou algumas pautas de reuniões que tiveram". No dia 3 de maio, em jantar solicitado por Assis e realizado na casa de Tomaz, eles discutiram como prosseguir com o acordo. "E noite afora fomos jantando, tomando vinho e Francisco e o dr. Ângelo conversando sobre a Greenfield, seus personagens e sobre a colaboração que se pretendia ver selada", afirma Tomaz. "Ao acompanhar Francisco até a porta, deparei-me com um carro preto, àquela hora da noite, quase em frente à minha porta, com duas pessoas em seu interior, uma delas me fotografando. Foi aí que levantei suspeitas de que algo de estranho estaria a ocorrer. Anotei a placa da veículo e pedi que um amigo identificasse o proprietário. Fui informado de que se tratava de placa 'fria', provavelmente sendo utilizada por veículo oficial, de algum órgão de investigação", diz Tomaz.
"A armação engendrada por Joesley e Francisco ficou clara quando, nos dias seguintes, Francisco passara a me pedir com elevada dose de insistência que promovesse um jantar entre ele e o juiz Ricardo Soares Leite", disse Tomaz, em referência ao magistrado que suspendeu as atividades do Instituto Lula. foi aí que a relação entre o advogado e Joesley e Assis degringolou e o contrato de representação foi rescindido.
Rodrigo Janot pediu abertura de inquérito contra o advogado e o procurador por tentativa de obstrução a Justiça, alegando que Tomaz, “com possível ajuda do procurador da República Ângelo Goulart Villela, estava tentando atrapalhar o processo de colaboração premiada ora em curso com o escopo possivelmente de proteger amigos políticos integrantes do PMDB", os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá.
Janot também pede a investigação contra Tomaz pelos crimes de violação de sigilo e corrupção ativa. Já Villela é acusado, além de obstrução de Justiça, de violação funcional e corrupção passiva.
Tomaz e Villela estão presos na mesma cela, exclusiva para advogados e militares, enquanto aguardam julgamento. Procurada, a PGR disse desconhecer a "versão de que o advogado Willer Tomaz teria tentado negociar uma delação da JBS com Ângelo Goulart Vilella e esclarece que não houve qualquer perseguição ao procurador da República". A J&F alega "que todos os documentos e informações que dizem respeito à colaboração foram entregues e os colaboradores continuam cooperando com a Justiça. A maioria das provas foi obtida mediante ação controlada autorizada pelo STF".

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