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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

HOMENAGEM COLOMBIANA

Colombianos lotam estádio da final e se unem à Chapecoense em demonstração de solidariedade

Bela cerimônia para homenagear as vítimas da tragédia foi marcada pela emoção no Atanasio Girardot

Cerimônia reuniu 40 mil torcedores no Atanasio Girardot e cerca de 100 mil nas ruas


A queda do avião que levava a equipe da Chapecoense para a disputa do primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana acabou com o sonho não só de um time como de uma cidade inteira e, por fim, chocou o mundo em uma das maiores tragédias da história do esporte. Nem por isso o Estádio Atanasio Girardot não acendeu seus refletores e deixou de ter suas arquibancadas tomadas por cerca de 40 mil torcedores. Às 18h45 desta quarta-feira (horário local de Madellín, 21h45 de Brasília), em vez de a bola rolar, deu-se início a uma celebração de homenagem aos 71 mortos no acidente que ocorrera tão perto dali. A Colômbia mais uma vez parou para celebrar o futebol que tanto venera, não por causa de um gol para ter uma taça, e sim por solidariedade, respeito e compreensão.

Somando as pessoas que tomaram as ruas, mais de cem mil pessoas participaram da homenagem, segundo a polícia colombiana.

A ambição, as rivalidades, as indiferenças e as paixões futebolísticas foram deixadas de lado pelo povo de Medellín. O semblante de todos era de tristeza. As pessoas, uniformemente de branco, faziam suas homenagens individuais ou de forma coletiva. Não foram poucas as faixas e cartazes em referência à Chapecoense e seus torcedores: “Uma nova família nasce”; “Futebol não tem fronteiras. Força a família, torcida e ao povo Chapecoense”; “Estamos contigo, Chape”; “Todos somos Chape”; “Equipe imortal. Campeões para sempre”; “Se foram como lendas”, diziam algumas delas.

Velas foram acesas por muitos torcedores e deixaram o cenário mais bonito e reflexivo. Nesse momento, o exército colombiano rondou o gramado com as bandeiras de todas as nacionalidades que perderam pessoas no acidente. Em seguida, os atletas do Atlético Nacional apareceram no gramado sem chuteiras, mas com flores nas mãos. E após os soldados executarem os hinos da Colômbia e do Brasil, o estádio ganhou novamente ares de uma partida de futebol com os gritos inflamados de “Vamos vamos, Chape”.

A homenagem seguiu com discursos inflamados e emocionantes de autoridades locais, além de pessoas que puderam representar a dor e o sentimento que aflige a tantos. José Serra, ministro de relações exteriores do Brasil, foi às lágrimas e tocou o público com sua manifestação ao microfone para um estádio quieto e atento.

“De coração, muito obrigado. Nesse momento de grande tristeza para as famílias, para todos nós, as expressões de solidariedade que aqui encontramos, como a solidariedade que trás cada um de vocês, colombianos e torcedores do Atlético, ao estadio é um consolo imenso, uma luz quando todos estamos tentando entender o incompreensível. Os brasileiros jamais esquecerão a forma como os colombianos sentiram algo como esse terrível desastre, que interrompeu o sonho desse heróico time da Chapecoense, em uma espécie de condo de fadas com final trágico, assim como não esqueceremos a atitude do Atlético Nacional e de todos os torcedores que pediram que o título de campão da Copa Sul-americana fosse concedido à Chapecoense. Um gesto de honra ao esporte, um esporte de qualquer lugar, que honra a cidade de Medellín e que faz ainda maior as glórias do Atlético de Medellín”, falou Serra, ovacionado e com os olhos repletos de lágrimas.

“Depois do ocorrido na fatídica noite de terça, o Brasil acordou para uma realidade de uma festa que não existiu, de um jogo que não pôde ser realizado. Que as cores da Chapecoense, assim como do Atlético, sejam verde e branco, de esperança e paz”, continuou o ex-governador do Estado de São Paulo. “Mas além da tragédia que vitimou os jornalistas e membros da tripulação, as inúmeras manifestações são testemunhos da nobreza do esporte como canalizador dos melhores sentimentos humanos e como ferramente de tolerância para construir um mundo melhor. Muito obrigado, Colômbia, muito obrigado Medellín, muito obrigado Atlético, e a todos que aqui estão. A todos vocês, um abraço pessoal muito apertado. E dizer sobre a emoção de ouvir o hino que vocês fizeram questão de tocar aqui, quero dizer que em toda minha vida nunca tive uma emoção semelhante”, concluiu o ministro.


Já na parte final da homenagem, que durou cerca de 1h45, crianças entraram em campo uniformizadas com as vestimentas de Atlético Nacional e Chapecoense e soltaram 71 balões em homenagem a cada pessoa morta depois da queda do avião contratado pelo clube catarinense. E quando o casal que coordenou a cerimônia desta quarta cantou nome por nome de todos os vitimados, o público atirou ao gramado todas as flores que tinham em mãos. Mais flores caíram dos céus com a ajuda de um helicóptero em meio à leitura de uma carta enviada pelo Papa Francisco. De novo, o público deu o tom com aplausos efusivos, que se estenderam quando um dirigente da Chape subiu ao palco para receber uma placa dedicatória.

Os instrumentos da orquestra filarmônica de Medellín só não finalizaram a histórica homenagem no Estádio Atanasio Girardot porque os tradicionais tambores da torcida do Atlético Nacional entraram em ação e convocaram o cântico de “Vamos vamos, Chape”, entoados ainda mais alto pela última vez, pelo menos nesta quarta, pois fica claro que a ligação entre a instituição colombiana, uma das maiores do continente e fundada em 1947, estará para sempre vinculada ao modesto time de Chapecó, criado em 1973, mas que jamais será esquecido e foi simbolizado em uma frase estampada em uma das camisas criadas pelo Nacional: “Nada nos separa mais”.



Gazeta Press

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