Só um milagre salva Dilma
Na véspera da votação do impeachment da presidente Dilma, no plenário da Câmara dos Deputados, o cenário continua extremamente desfavorável ao Governo. O discurso de golpe, pregado pelo Planalto e aliados para atrair apoio popular e sensibilizar as instituições, não pegou. Mais do que isso, foi desconstruído pelo Supremo Tribunal Federal quando rejeitou, na noite da última quinta-feira, todas as ações de anulação da sessão de votação.
Aliás, a tentativa da Advocacia-Geral da União (AGU) de anular o processo de impeachment no Supremo Tribunal Federal (STF) foi alvo de ironia. A interpretação é de que o Planalto resolveu judicializar porque se convenceu de que não tem apoio suficiente para arquivar o pedido. “É como alguém que está morrendo afogado e tenta se agarrar a uma folha que está passando”, disse Jovair Arantes (PTB-GO), relator do impeachment na comissão especial.
Mesmo após a defesa do Governo, feita pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardoso, logo início da abertura da sessão de ontem, nem um só voto perdido para o impeachment foi recuperado pelo Planalto, apesar de Cardoso pregar o contrário. Mais tarde, no final da tarde do primeiro dia do processo de votação, as oposições, juntas, anunciaram que a adesão ao impedimento da presidente havia crescido ainda mais, agora de 362 para 367 votos.
Num sinal desesperador de reação, a presidente preparou uma fala à Nação, que seria feito em rede nacional de TV e rádio, mas que acabou sendo suspenso porque a presidente fora orientada de que poderia ser um tiro pela culatra. A impressão que dá é que o Governo sabe que está derrotado, insiste num discurso de ofensiva, mas a postura dos próprios aliados, entre eles o pernambucano Silvio Costa, vice-líder do Governo, soa como falsa.
Pensado e articulado por Lula, foi protocolado na Câmara por aliados do Governo um pedido de criação da "frente parlamentar em defesa da democracia", com 186 assinaturas, resultado superior às 172 necessárias para barrar o impedimento. A ideia era mostrar que o jogo não está perdido, mas o documento continha nomes de parlamentares favoráveis ao afastamento, inclusive do DEM e do PSDB.
As principais lideranças petistas continuam afirmando que o Governo terá pelo menos 200 votos para enterrar o processo, mas há quem reconheça publicamente as dificuldades. “Há uma fragilidade imensa na Câmara. Queremos ter 200 parlamentares, mas, nesta Casa, não se confia. Se passar, ainda temos o Senado, que é um foro mais responsável — avaliou Zé Geraldo (PT-PA), num claro sinal de que não confia nos números que o Governo garante ter em seu poder para barrar o impeachment.
por Magno Martins
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