CICLOVIA DE R$ 45 MILHÕES DESABA NO RIO E DEIXA DOIS MORTOS
CICLOVIA DESABA NA AVENIDA NIEMEYER, ZONA SUL DO RIO. FOTO: FABIO MOTTA/ESTADÃO
INAUGURADA HÁ TRÊS MESES, ESTRUTURA FOI DANIFICADA PELO MAR
O corpo de Albuquerque foi identificado pelo capitão médico da aeronáutica João Ricardo Tinoco, cunhado do engenheiro. Segundo Tinoco, a vítima costumava frequentar e elogiar o local. Elaine, irmã de Tinoco e mulher de Albuquerque, soube do desabamento pela televisão e pediu que o irmão passasse no lugar do acidente para ver se o seu marido estava entre as vítimas, uma vez que usava frequentemente a ciclovia.
O capitão médico da aeronáutica conseguiu confirmar que Albuquerque estava entre os mortos e ligou para a irmã. Por volta de 13h30, Eliane chegou ao local onde estavam os corpos, na praia de São Conrado, em ponto próximo ao hotel Royal Tulip. Ao ver o corpo, entrou em desesperou e precisou ser amparada. “Se logo no início já caiu, imagina com o tempo”, criticou Tinoco.
O pedaço arrancado pela água tem mais de 50 metros. A ciclovia é suspensa e junto ao mar. Está interditada, assim como a Niemeyer. Técnicos da Prefeitura ainda vão avaliar se há risco de outros desabamentos na ciclovia. O Corpo de Bombeiros ainda realiza buscas por desaparecidos na região, com helicópteros e mergulhadores. Uma terceira vítima também teria sido atendida, segundo o Corpo de Bombeiros. Ainda não há confirmação do estado de saúde ou da identidade das vítimas.
Um dos corpos foi encontrado no local. O outro, ainda de acordo com o Corpo de Bombeiros, estava na praia de São Conrado. Estão no local os secretários municipais de Defesa Civil, Marcio Costa, e de Transportes, Rafael Picciani, além do ex-secretário de governo, Pedro Paulo. As autoridades, entretanto, ainda não falaram com a imprensa sobre o acidente.
Obra. A ciclovia custou R$ 44,7 milhões, tem 3,9 quilômetros, 2,5 metros de largura, vai do Leblon a São Conrado e foi inaugurada pelo prefeito Eduardo Paes no dia 17 de janeiro, que usou um triciclo elétrico. Na ocasião, ele declarou que a obra tinha “um efeito de integração incrível, já que juntou o bairro do Leblon e São Conrado”, e que tinha potencial para servir de trajeto para pessoas que utilizam bicicleta para ir trabalhar. “É a ciclovia mais bonita do mundo”, ele disse, referindo-se à vista livre para o mar. O trecho inaugurado foi o da primeira fase do Complexo Cicloviário Tim Maia, que irá até a Barra da Tijuca.
O engenheiro Antonio Eulálio Pedrosa, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), acredita que o desabamento do trecho da ciclovia tenha sido motivado pela falta de planejamento adequado da obra. Em sua análise, tudo indica que não foi prevista a possibilidade de ressaca.
"Ela não estava preparada para esse impacto da onda. Não foi previsto no projeto. O cálculo foi correto, mas não se previu a força excepcional da onda, que levantou a estrutura", avaliou Pedrosa.
Descaso. O ator Marcelo Faria, que mora num condomínio em São Conrado em frente ao ponto da ciclovia que desabou, acompanhou o resgate dos corpos do mar. Ele usa todo dia a ciclovia, para levar a filha ao colégio, na Gávea, para visitar a mãe, no Leblon, e também a trabalho. Em janeiro, com a inauguração, ficou “muito animado”, pois, antes dela, ele pedalava pela Avenida Niemeyer, junto aos carros, arriscando-se.
Para Faria, a ciclovia não estava bem fixada nas vigas sobre as quais foi encaixada. “Minha mulher me chamou quando viu um corpo sangrando e boiando no mar. Eu achei que fosse um pescador. Depois o segurança do condomínio chegou dizendo que a ciclovia tinha desabado. Quando inauguraram, foi um alívio, pois eu não precisaria mais me arriscar na Niemeyer e poderia andar com minha filha, de 5 anos. Eu uso todo dia, e, muitas vezes, com ela na garupa. A primeira sensação que eu tive foi de que poderia ter sido a gente”, contou o ator, por telefone.
“É realmente um descaso dos nossos governantes a obra não ter sido testada. Projetaram uma prancha em cima de um pilar de concreto sem que ela estivesse bem calcada. Ela foi encaixada com o próprio peso. Ou seja, qualquer força que viesse de baixo ia jogá-la para cima. Um acidente como esse mostra que os inocentes podem morrer e tudo certo, as pessoas não vão ser julgadas.”
(AE)
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