Hoje afinados, Temer e Cunha exibem estilos opostos
Hoje vistos como aliados, o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nunca foram pessoalmente próximos. Donos de estilos antagônicos, trocaram por anos críticas nos bastidores sobre a forma como cada um faz política. Cunha sempre se referiu a Temer como um homem "indeciso" e "pouco incisivo". O vice, por sua vez, considera o presidente da Câmara seu avesso: agressivo e impetuoso. As diferenças de atuação já renderam cenas insólitas.
Cunha nunca foi do tipo que pede licença para entrar. O correligionário, por sua vez, é conhecido pelo comportamento protocolar. No primeiro mandato de Temer como vice, Cunha costumava aparecer logo cedo na residência oficial, o Palácio do Jaburu, ou passar horas na sala do correligionário na vice-presidência.
A falta de cerimônia começou a incomodar e, à medida que o desconforto crescia, Cunha amargava mais tempo nas salas de espera. O hoje presidente da Câmara chegou a pedir que colocassem um ramal à sua disposição. Da antessala do vice, ligava para aliados e anunciava que estava telefonando do Planalto.
Cunha cresceu no PMDB e na política rodeando líderes do partido. Antes de chegar a Temer, aproximou-se do hoje ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Sua ascendência sobre o partido ficou evidente entre 2013 e 2014, quando Alves se tornou presidente da Câmara e Cunha, líder do PMDB.
Cunha ampliou estratégia que usara para chegar até ali: distribuía a aliados relatorias importantes e, com esses "favores", cativou parceiros. Nunca foi querido pelos nomes mais tradicionais do partido. Tornou-se necessário.
A lógica foi a mesma usada por Cunha para amarrar a oposição a seu projeto. Eleito presidente, deu a PSDB e DEM vagas em comissões, relatorias de projetos e CPIs que, sem sua disposição pessoal, jamais estariam fora das mãos de aliados do governo.
O método criou constrangimento a líderes desses partidos quando Cunha foi acusado de corrupção.
Apesar de não gostar da forma como Cunha atua, Temer reconhece a astúcia do correligionário. Aliados do vice contam que, numa das primeiras conversas privadas que tiveram, Temer ficou impressionado com a desenvoltura com que o deputado falava sobre o regimento interno da Câmara.
"É advogado?", perguntou o vice, que é constitucionalista. "Não, economista", respondeu Cunha.
Apesar das divergências, integrantes da ala que faz oposição a Temer no PMDB têm dito que Cunha passou recentemente a influenciar o comportamento do vice. Eles dizem que, desde que o impeachment se tornou uma realidade na pauta do Congresso, Temer passou a exibir um estilo mais agressivo na condução de seu grupo e do próprio partido.
Da Folha de S.Paulo – Daniela Lima
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