Reflexão sobre a chatice
O Brasil sempre foi o País da irreverência, do bom-humor, da cordialidade que ia além das diferenças sociais e dos conflitos de classe. Um dos traços positivos da personalidade desse País tupiniquim é a capacidade de rir de si mesmo, nos momentos mais difíceis. Entretanto, os dias complicados que vivemos estão secando - espero que temporariamente - essa fonte que parecia inesgotável. Em plena democracia, passamos a viver o clima soturno de "sol ou sombra" que dividia a sociedade espanhola nos tempos da guerra civil, ou a Alemanha na era nazista.
No terceiro milênio, que deveria respirar Iluminismo, generosidade, respeito à diversidade, as pessoas estão se engalfinhando em torno de tudo e de nada a partir de suas posições políticas, conceitos ideológicos ou sociais, como se estivessem numa briga de torcidas de futebol. Toda opinião emitida passa a ser avaliada por crivos que extrapolam os limites do assunto abordado. E quase sempre com muito mau-humor.
É preciso que todos nós nos esforcemos para separar o trigo da livre opinião do joio da intransigência. Isso virou um desafio para a sociedade brasileira. Abaixo o clima de caça às bruxas. E não venham culpar as redes sociais por este surto de intolerância. Outras épocas da história registraram momentos de absoluta falta de respeito à diversidade, muito antes da invenção da internet. A intolerância nasce e prospera dentro de cada um de nós.
Nos dias que vivemos, o direito à crítica ou elogio está sendo crescentemente balizado pelo critério ideológico. Cada vez mais vigora a máxima: se pensa como eu, não tem defeito; se pensa diferente, não tendo defeito eu arrumo. Será que antes de achar alguém chato, agradável, inteligente, burro, charmoso, cafona, bonito, feio, talentoso ou seja lá o que for é preciso avaliar sua posição sobre o Impeachment de Dilma, a cassação de Cunha ou o topete de Donald Trump?
Sinceramente, se for assim, que coisa mais chata.
* José Nivaldo Júnior
Publicitário, integrante da Academia Pernambucana de Letras.
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