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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

ERA SÓ O QUE FALTAVA

Indulto natalino para Dirceu seria um escárneo


A defesa de José Dirceu informa que requisitará a concessão de indulto natalino para o seu cliente, nos termos do decreto que Dilma Rousseff fez publicar no Diário Oficial desta quinta-feira. O eventual perdão do Estado a Dirceu será um escárnio, um tapa na cara do brasileiro que molha a camisa para encher a geladeira e sonha com um país em que o crime pare de compensar.
Condenado no mensalão, Diceu cumpria prisão domiciliar quando o juiz Sérgio Moro mandou que fosse reencarcerado por conta das evidências do seu envolvimento no petrolão. Denunciado, virou réu novamente. Ainda preso, pode ser condenado a qualquer momento. A Procuradoria já requereu ao STF o cancelamento do benefício da cana domiciliar, para que Dirceu volte ao regime fechado no mensalão.
Assim como o pedido de recrudescimento da pena, a requisição do indulto irá à mesa do ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Cabe a ele decidir o que merece o grão-petista –mais cadeia ou perdão?
No último mês de setembro, ao anunciar que o ex-todo-poderoso do petismo estava numa lista de denunciados da Operação Lava Jato, o procurador da República Deltan Dallagnol preocupou-se em distinguir dois Dirceus, o mito e o real.
“José Dirceu foi um importante líder político brasileiro. Ele representou por muito tempo os ideais de muitos'', afirmou Deltan. Entretanto, é preciso verificar “se ele praticou fatos que são crimes em um contexto determinado. E os fatos e as evidências nos dizem que sim.” O juiz Sérgio Moro já reacomodou Dirceu no banco dos réus.
A primeira prisão de Dirceu, nos idos de 1968, quando ele ainda defendia “ideais”, ocorreu num sítio em Ibiúna (SP), durante o célebre congresso estudantil. Reuniram-se 800 estudantes. Elegeriam o presidente da UNE. Dirceu concorreria. Surpreendidos pela polícia, foram em cana. Ficharam-se todos. Liberou-se a maioria.
Oito líderes foram levados ao Forte Itaipu, em Santos. Beneficiados por habeas corpus, quatro saíram. O resto ficou no xilindró. Entre eles, Dirceu. Foram libertados em 7 de setembro de 1969, junto com um grupo de políticos, trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick.
O Dirceu mitológico foi para Cuba. Recebeu-o próprio Fidel Castro. Abrigou-se na “casa dos 28″, ninho de treinamento de guerrilha. Entrou no Brasil em 1971, como integrante do Molipo (Movimento de Libertação Popular). Voltou a Cuba no mesmo ano, fez plástica no rosto com médicos chineses. Em 1975, retornou ao Brasil.
Viveu clandestinamente em Cruzeiro do Oeste (PR), sob falsa identidade, na pele de dono de alfaiataria. Casou-se com uma dona de butique, teve um filho. Só emergiu depois da anistia, com o rosto reconstituído por nova plástica cubana. Elegeu-se deputado estadual e federal. Apossou-se da máquina do PT. Ajudou a fazer de Lula presidente. Virou um poderoso chefe da Casa Civil.
Hoje, 69 anos, o Dirceu do petrolão, um reincidente do mensalão, cumpre trajetória menos épica. Empurrou aquele Dirceu de Ibiúna para uma espécie de clandestinidade eterna. Conspurcou os fins para apropriou-se dos meios. Não há cirurgia plástica capaz de reconstituir-lhe a face. Abandonou os ideiais. Queria reformar não o Brasil, mas sua mansão de Vinhedo (SP). Com dinheiro sujo.
Como perdoar Dirceu pelo que lhe resta de pena no mensalão depois de saber que ele já reincidia no crime de corrupção antes mesmo do término do célebre julgamento? O Brasil demorou demais para começar a punir pessoas acima de um certo nível de renda e de poder. Não deve agora se apressar em perdoar. A misericórdia, quando é excessiva, também corrompe.

Josias de Souza

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