Deixem os repórteres de pista em paz
A televisão é hoje o principal veículo do futebol. Como patrocinador master, compra o direito de imagens das partidas dos principais campeonatos do mundo e paga fortunas aos clubes, que nem sempre administram com correção e presteza esse dinheiro. As federações, como mediadoras e organizadoras das competições, também faturam o seu quinhão. Mas para chegar a esse nível de profissionalização, tornando-se um importante vendedor de produtos dos mais variados segmentos do mercado, o futebol foi carregado quase que nos braços por um veículo que o levou à multidão, transformando-o em paixão nos quatro cantos do planeta. E esse veículo é o rádio, hoje o primo pobre do futebol.
E a nossa tristeza vem daí, ao saber das notícias de que os cronistas de campo, do rádio, estão tendo o espaço cada vez mais reduzido nos nossos estádios. Quase sempre enxotados das entrevistas porque a tevê “tem os direitos exclusivos e não quer sequer que os microfones das emissoras radiofônicas apareçam, expondo uma marca “alienígena” aos olhos dos seus telespectadores.
Qualquer especialista em comunicação que se debruçar sobre a história do futebol vai perceber com clareza a importância do rádio na formação do torcedor. A emoção transmitida num gol por um narrador esportivo jamais vai ser superada por seu similar na tevê. É outra linguagem, mais “quente”, instintiva. A internet chegou, o Twitter, o Facebook, Whatsapp. Há várias formas de acompanhar a transmissão de uma partida de futebol, mas o radinho de pilha, ao pé do ouvido, ainda me parece insuperável. Basta ir a um estádio ver um jogo no fim de semana. Não importa a classe social, veremos negros, brancos, amarelos, vermelhos, todos eles com um radinho colado ao ouvido, ligados nas informações dos repórteres de pista, hoje tão limitados em seu espaço de atuação.
Então, amigos, faço esse apelo aos dirigentes locais. Deixem os meninos trabalhar. Afinal, são eles que “vendem esse peixe” chamado futebol. E muito melhor do que os marqueteiros que vocês contratam pagando fortunas. Porque um programa de marketing inteiro voltado para o futebol nunca vai fazer mais pelo futebol do que já fizeram Ivan Lima (in memorian), Roberto Queiroz e Ednaldo Santos, gritando um gol.
JOSÉ NEVES CABRAL
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