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quarta-feira, 3 de junho de 2015

A CATINGA É GRANDE

Sai o bode, mas o fedor fica dentro da Fifa



renúncia de Joseph Blatter à presidência da Fifa retira um bode da sala, mas a instituição que comanda o futebol continua cercada de mau cheiro, por estar cheia de outros bodes, apenas à espera de que seus malfeitos sejam expostos.
Para entender a Fifa e os ditadores que se sucedem no seu comando, é preciso levar em conta dois fatores: primeiro, o dinheiro que a entidade recolhe e faz girar.
Segundo, a estrutura que elege o presidente. É o Congresso, composto pelos representantes hoje de 209 federações nacionais, mais do que países na ONU (193).
Deve haver pessoas de bem nesse conjunto, mas não custa lembrar que cargos tinham seis dos dirigentes presos no escândalo em curso: Rafael Esquivel presidia a Federação Venezuelana; Julio Rocha, a nicaraguense; Eugenio Figueredo era ex-da uruguaia; José Maria Marin acabava de deixar a CBF; Eduardo Li comandava a da Costa Rica; e Jeffrey Webb, a das ilhas Cayman.
É supina ingenuidade acreditar que só eles são corruptos e que seus pares ainda livres do escândalo conviveram inocentemente com o esquema.
Até porque Blatter, em seus 17 anos de reinado, aperfeiçoou o esquema herdado de seu antecessor, o brasileiro João Havelange, de comprar lealdades.
Um só exemplo: só para a África, a Fifa de Blatter enviou nos quatro anos mais recentes € 2,1 bilhões (R$ 7,2 bilhões) para programas de incentivo ao futebol.
Quanto desse dinheiro chegou na ponta e quanto ficou nos bolsos dos dirigentes é uma questão a ser ainda devidamente apurada.
Congresso da Fifa, esse mesmo que acaba de reeleger Blatter e ao qual caberá igualmente escolher seu sucessor, é também o responsável por escolher o país-sede das Copas do Mundo.
Já se viu, no escândalo em curso, que há fortes suspeitas de que a eleição de África do Sul (2010), Rússia (2018) e Qatar (2022) como sedes de Mundiais não foi um negócio limpo.
Somente para a Copa da Rússia, a Fifa já anunciou investimentos de cerca de € 2 bilhões (R$ 6,9 bilhões), um maná que qualquer país cobiça.
Só a receita da instituição-mãe do futebol internacional foi, nos quatro anos entre o congresso recente e o anterior, de aproximadamente € 5,718 bilhões (quase R$ 18 bilhões).
É dinheiro suficiente para lhe dar porte de uma multinacional, o que de fato é. Presidi-la sem precisar prestar contas aos "acionistas", ao contrário das grandes corporações, é portanto extremamente atraente.
Blatter aproveitou-se dessa situação; afastá-lo sem mexer nas estruturas tende somente a gerar um novo Blatter.

Folha de S.Paulo

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