Coerentes na incoerência
Para proteger as galinhas, o cidadão trancou o galinheiro com cadeado. No dia seguinte, entregou a chave para a raposa. Nenhuma imagem definirá melhor o que se passou na Câmara, terça e quarta-feira. Num dia os deputados votaram a proibição de as empresas doarem dinheiro para as campanhas eleitorais. No outro, aprovaram as doações das empresas para os partidos políticos financiarem as campanhas dos candidatos.
Melhor fechar a extinta Casa do Povo. Pelo menos, deixar que o Supremo Tribunal Federal legisle contra a corrupção. Hoje os empreiteiros amanheceram em festa. Os banqueiros também. E outros empresários. Todos garantiram seus investimentos até o final do século. Basta que cada um escolha o seu parlamentar, adiantando-lhe recursos para comprar um mandato nas próximas eleições. Depois, será exigir a compensação através de emendas, de leis, facilidades e benesses. A Câmara acaba de decretar a República dos Contrários. No espaço de 24 horas votou contra e a favor. Claro que vai prevalecer a doação desenfreada. Não se votará teto algum.
O pior nessa história de horror é que a imensa maioria da Câmara apoiou a segunda proposta. Eduardo Cunha e Celso Russomano puxaram a fila, mas não se exime culpa de ninguém.
Na mesma quarta-feira da aprovação de doações empresariais, a Câmara extinguiu o princípio da reeleição para presidentes da República, governadores e prefeitos, por 452 votos a 19. A Constituição exige outra votação. A dúvida é se Suas Excelências da próxima vez votarão em massa pelo segundo mandato. Estariam, ao menos, sendo coerentes na incoerência.
Carlos Chagas
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