Sílvio Botelho quer novas roupas para seus bonecos gigantes
Botelho já confeccionou mais de mil bonecos, que se tornaram a representação máxima do Carnaval olindense
Considerado o pai dos bonecos gigantes de Olinda, Botelho anseia por revolução
Desde julho do ano passado, o artista plástico Sílvio Botelho, 56 anos, passa até 14h no seu ateliê, na Rua do Amparo, 45, no Sítio Histórico de Olinda, para confeccionar os bonecos gigantes que animam a Cidade Alta no Carnaval. O menor tempo de trabalho são 8h, mas neste caso os finais de semana precisam ser suspensos. Com cerca de quatro a cinco ajudantes, a finalização dos bonecos na semana que antecede o período do momo é exaustiva. “Estou terminando o Homem da Meia-Noite, que é muito complicado, precisa de acabamento diferente. A tinta e o manejo de trabalho são outros, mas está quase pronto”.Ao longo de 43 anos de trabalho ininterruptos, o artista confeccionou mais de mil bonecos. “Acho pouco. Mas fui aperfeiçoando a técnica. Os bonecos da época são completamente diferentes dos de hoje, que têm muito mais realismo. Os antigos eram mais caricatos”. São criações que, segundo ele, já foram convidadas de casamento, cortejos, funerais, vernissages, aeroportos e grandes eventos de um modo geral. “São muito danados. Vão a lugares que nem imaginava que fossem. Ganharam independência, foram além-mar, Portugal, França, Cuba, Argentina, Novo México, EUA. Foram dar uma visita e trocar informações”, brinca.Apesar da emancipação, o pai dos bonecos tem zêlo por suas novas crias e, por mais que ache pouco seu número, reconhece que o artesanato lhe permite mais liberdade criativa. “A gente vai se adequando e seguindo o mercado, mas meu trabalho tem de ser voltado para cultura, porque eu não sou marqueteiro e não vou mudar esse perfil nunca. A cultura é a memória de um povo, que quero representar”.Sobre essas representações, Sílvio se diz cansado dos atuais figurinos e pensa em novos formatos. “Uma primeira revolução foi em relação ao peso deles, que saíram dos 40kg, 50kg, pra 15kg, um processo de 1994 para cá. Eu gostaria de um novo tipo de revolução, de ter desfiles com bonecos que eu sonho, que seriam tematizados. Por exemplo, se este ano tem homenagem a Spok, então você vê um desfile todo relacionado ao músico, você vê instrumento em forma de boneco”, explica o artesão. “Também ando cansado desses ternos, quero acabar com isso. Quando comecei, tinha que ter algo que chamava a atenção, tanto que as pessoas copiam. Não tive chance ainda de reinventar, mas quero roupas mais despojadas e uma linguagem mais atual. Já fiz algo como bonecos e bonecas com seios desnudos, fiz o menino rosado, que é assumidamente gay, tem a Colegão, que é outra boneca gay. Tem branco, tem preto, tem diversos tipos. Tem de privilegiar todas as classes”, ressalta.A primeira encomenda veio em 1972, do presidente do bloco Menino da Tarde, Ernani Lopes, quando o artista plástico somente confeccionava máscaras. “Ele não me conhecia, mas apostou. Não fiz mais máscaras porque fui completamente absorvido pelos bonecos gigantes. Eles são maiores do que eu.” Neste ano, durante a prévia do Bloco do Menino Rosado, Silvio ficou do tamanho de suas criações com um boneco assinado pelo artista João Andrade, amigo de Botelho há 40 anos.
FolhaPE
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