Mais um produto americano de exportação
Continua nas gavetas da Casa Civil a regulamentação da lei anticorrupção para empresas brasileiras. Se o governo estiver trabalhando a sério, virá por aí uma nova palavra inglesa: "whistleblower". Numa tradução capenga, seria "o tocador de apito". O cidadão trabalha numa empresa, vê uma roubalheira contra a Viúva ou o mercado, avisa ao poder competente e, comprovada a denúncia, ganha uma recompensa. É coisa difícil de ser codificada e, mesmo nos Estados Unidos, vai devagar, mas vai. Existem repartições para lidar com esse personagem em várias agencias americanas. Se o denunciante descobre um crime pelo qual a empresa poderá ser multada em mais de US$ 1 milhão, ele pode se habilitar a receber entre 10% e 30% do ervanário.
Um vendedor do laboratório Pfizer denunciou técnicas ilegais de comercialização de produtos, reclamou por dentro e perdeu o emprego de US$ 125 mil anuais. Veterano da Guerra do Golfo, foi ao governo. A Pfizer foi investigada, tinha culpa e tomou uma multa de US$ 2,3 bilhões. O veterano que tocou o apito recebeu US$ 51,5 milhões.
As condições para chegar à recompensa são severas e nada têm a ver com o que em Pindorama se chama de "delação premiada". Por enquanto, isso parece uma excentricidade, mas, quando o primeiro funcionário (ou funcionária) de empresa com sede no Brasil e ações no mercado americano receber sua recompensa, vai-se descobrir que a coisa é séria.
Faz tempo um advogado disse que os três maiores produtos americanos de exportação eram jeans, rock e leis. A piada começa a virar verdade.
Elio Gaspari
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