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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

É MUITO DINHEIRO PRA POUCOS CLUBES

Pobre futebol rico - Espanholização do futebol brasileiro a curto prazo


Os dois clubes mais ricos do futebol brasileiro ficarão ainda mais ricos a partir de 1º de janeiro de 2016. Os contratos de transmissão dos jogos de Corinthians e Flamengo com a Rede Globo no Brasileirão valem hoje R$ 120 milhões por ano. Valerão R$ 170 milhões.
Essa conta não inclui o pay-per-view, modalidade em que corintianos e rubro-negros também são campeões.

Não há nenhum problema em Corinthians e Flamengo arrecadarem tanto. O que salta aos olhos é como a distância aumenta a cada renovação contratual, entre os donos das duas maiores torcidas e os demais clubes do Brasileirão.
Hoje, Palmeiras e Vasco arrecadam R$ 80 milhões, R$ 40 milhões de TV a menos do que Corinthians e Flamengo. A partir de 2016, a distância vai subir para R$ 70 milhões. Atlético-MG, Cruzeiro, Inter, Grêmio, Fluminense e Botafogo recebem R$ 45 milhões por ano. Vão ganhar R$ 60 milhões. Significa que receberão R$ 110 milhões a menos do que os gigantes.

Desde a última renovação do contrato, há dois anos, discute-se o risco de haver desequilíbrio semelhante ao da Espanha, onde Real Madrid e Barcelona revezam-se como campeão e vice há nove temporadas. Isso não está acontecendo no Brasil. O Cruzeiro, virtual campeão, pode quebrar a longa hegemonia Rio-SP.
O risco é menor no Brasil do que na Espanha porque aqui há 12 clubes com a ambição do título. Mas o perigo existe e conviver com esse risco só será justo se existir também a chance de equiparar o Brasileirão ao Espanhol em outras coisas.

Estádios lotados, altos índices de audiência, gente falando da disputa em todos os bares, ruas e restaurantes. Um campeonato onde a TV dá R$ 1 bilhão, e dará R$ 1,6 bilhão para os clubes, precisa empolgar.
Até 2009, Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco ganhavam R$ 25 milhões por ano, cada um. Aquele Brasileirão teve o Flamengo campeão e a melhor média de público nos estádios desde 1987, na Copa União.
Na época, a Globo gastava R$ 150 milhões por ano. Em 2016, gastará dez vezes mais.
Mas a audiência dos jogos não cresce, e os estádios têm média de público 27% inferior a quatro anos atrás. Por que pagar mais por um campeonato que vale menos?
Junte tudo isso à discussão da semana, sobre o calendário.

A lógica dos jogadores de tornar o calendário mais racional e melhorar a qualidade das partidas deveria agradar a quem vende o espetáculo televisivo.
No final da semana, a Globo admitiu a hipótese da mudança do calendário, mas só a partir de 2015. Sem aliado econômico na batalha, os jogadores ganham amigos políticos. O presidente da Federação do Rio, Rubens Lopes, promete iniciar seu Estadual dez dias mais tarde. Seu objetivo é óbvio: deixar Marco Polo Del Nero como único vilão.

FOLHA DE SÃO PAULO

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